20/12/2012 - 04h30
FERNANDO
MORAES
Um
estudo publicado ontem na revista científica "Neuron" traz evidências
de que não existe uma propriedade única e geral do cérebro chamada
inteligência, passível de ser medida por meio de testes como os de QI.
"Outros
estudos já haviam sugerido que há vários tipos de inteligência. Contudo, o
nosso trabalho é o primeiro a mostrar que cada um deles está associado a um
tipo diferente de área cerebral", explicou à Folha Adam Hampshire, líder
da pesquisa, que trabalha na Universidade de Ontário Ocidental (Canadá).
A
pesquisa utilizou ressonância magnética funcional, modelagem computacional e o
maior teste de inteligência online jamais feito para chegar aos resultados.
Dezesseis
pessoas responderam a uma bateria de 12 testes cognitivos envolvendo memória,
raciocínio, atenção e habilidades de planejamento enquanto passavam pela
ressonância magnética.
O
exame mapeava uma região chamada córtex MD, que estudos anteriores haviam
relacionado a uma série de tarefas cognitivas.
Os
resultados mostraram que atividades em que era utilizada a memória de curta
prazo (usada para lembrar um novo número de telefone por alguns segundos, por
exemplo) ativavam uma rede específica do córtex MD.
Em
tarefas nas quais a informação era processada a partir de regras, como o
raciocínio dedutivo, a rede ativada se mostrou diferente.
"Ao
examinarmos a atividade cerebral e as diferenças individuais de desempenho,
mostramos que há pouca evidência de que exista uma única inteligência geral
dominante", diz Hampshire.
A mesma bateria de 12 testes foi aberta a qualquer pessoa na internet. Também havia um questionário sobre a formação dos que responderam e seus hábitos.
Mais
de 100 mil pessoas participaram da pesquisa, das quais 44,6 mil preencheram o
questionário de forma completa e correta.
Isso
trouxe uma quantidade imensa de informações sobre como certos fatores (idade,
gênero, tendência a jogar videogame etc.) influenciam as funções cerebrais.
Os
dados mostraram que a idade é o fator mais importante na performance
intelectual geral. O desempenho é significantemente afetado nas pessoas com 60
anos ou mais quando comparadas àquelas de 20.
A
habilidade verbal é a menos afetada com a idade. Já o hábito de jogar videogame
está ligado a um melhor desempenho em atividades que envolvem raciocínio e
memória de curto prazo, mas pouco influi na habilidade verbal.
E a
ansiedade atrapalha de forma moderada a memória de curto prazo, mas tem um
impacto quase desprezível nos outros fatores.
Os
dados dão suporte à ideia de que esses componentes da inteligência têm base em
sistemas cerebrais relativamente independentes.
"Cada
tipo de inteligência está relacionado a um diferente conjunto de variáveis
demográficas e sociais", diz Hampshire. "Portanto, comparar a
inteligência de diferentes populações por meio de um número de QI é uma grande
simplificação."
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