ROSELY SAYÃO
Extraído do site : http://www1.folha.uol.com.br/colunas/roselysayao/1166209-dever-de-casa-e-tarefa-da-escola.shtml
Professor particular, professor tutor, tia, avó que foi professora, horas
obrigatórias de estudo etc. etc. etc.
Pai e mãe que chegam do trabalho e, em vez
de se dedicarem ao relacionamento com o filho, vão estudar junto com ele. No
início, com paciência para explicar tudo nos mínimos detalhes. Pouco tempo
depois, sem paciência alguma e, não raramente, chegando aos gritos com o filho.
Tudo isso porque estamos chegando ao final
do ano letivo e muitas crianças, por causa das notas, estão a perigo tanto do
ponto de vista da escola quanto do ponto de vista dos pais.
Alguns pais me disseram que irão fazer o
filho --e falo de crianças com menos de 11 anos-- estudar todos os dias com
professores particulares para "recuperar" toda a matéria dada desde o
início do ano. Só assim, me disseram, o filho conseguirá aprender a matéria
apresentada agora, já no último bimestre.
Tenho pena dessas crianças. Em primeiro
lugar, porque pais e escolas pensam que o processo de aquisição de conhecimento
é igual ao de escalar um morro : antes de chegar ao topo seria preciso dar
muitos passos.
Não : já sabemos há muito tempo que o
conhecimento não exige pré-requisitos, ou seja, não é preciso aprender
determinados temas para chegar a outros.
Essa ideia está ultrapassada, tanto quanto
nossa organização escolar seriada que agrupa os alunos por idade.
Como diz Ken Robinson, autor inglês que
trata da criatividade e da inovação em educação, a data de fabricação das
crianças não é o que as agrupa quando se trata de aprendizagem do conhecimento.
São seus ritmos e modos de aprendizagem.
Em nosso país, o mantra de que os pais
zelosos devem acompanhar os estudos dos filhos não é questionado, tampouco
problematizado.
Ponto para a nossa ideologia escolar, que
consegue, desse modo, delegar aos pais tarefas que são da instituição de
ensino. E como tem escola reclamando que os pais delegam a elas suas
responsabilidades, não é ?
O fato é que com a família em transição e
a escola congelada seria preciso rediscutir as funções de ambas e, inclusive,
criar as bases do que poderíamos chamar de "parceria escola-família".
O que os pais podem fazer para ajudar o
filho que precisa reagir em sua vida escolar? Eles podem, por exemplo, ajudá-lo
a entender que conhecimento exige esforço.
Uma ótima atitude a se tomar é organizar o
dia do filho para que ele tenha horários de estudo --entre outras coisas-- e um
local para fazer isso longe das tentações que costumam ser estimulantes para
ele.
Insistir para que o filho "grude a
bunda na cadeira" até conseguir estudar e focar sua atenção é outra
atitude favorável que complementa a primeira.
Nem a escola ensina isso. Basta o
estudante experimentar alguma dificuldade que ele pede para ir ao banheiro,
tomar água etc. E a escola permite, ou seja, não ensina que aquela dificuldade
pode ser superada com esforço e concentração.
Conversar com o filho a respeito da
matéria que ele estuda, fazer perguntas que a escola não faz, ajudar o filho a
fazer relações entre o tema e a vida ou mostrar a ele algumas dessas relações
também incentivam bastante a criança a entender o que é que ela estuda, afinal.
Sim, os pais podem, como nós acabamos de
ver, ajudar o filho em sua vida escolar, mas não como se fossem eles os
professores. Podem ajudar como pais, que nem sequer precisam saber o conteúdo
das lições.
Se não fosse assim, como é que tantas
pessoas com pais analfabetos conseguiriam estudar?
Os pais devem ajudar ensinando a atitude
diante do estudo. Simples assim. Mas é algo tão difícil de realizar quanto
simples.
Rosely
Sayão, psicóloga
e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela
família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa
relação. É autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha), entre
outros. Escreve às terças na versão impressa de "Equilíbrio".
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