Extaído do site do Jornal da Folha de São Paulo
de 23/09/2.012 : http://www1.folha.uol.com.br/educacao/1156752-guia-oferece-roteiro-para-escolha-mais-segura-de-escola.shtml
Desenhar os quadrados com giz, jogar a pedrinha no lugar certo e
manter o equilíbrio na sequência de pulos. Que alívio seria se escolher a
escola para os filhos fosse algo tão simples quanto brincar de amarelinha.
Mas se decidir
pelos colégios (só entre os particulares na capital paulista, eles são mais de
mil) é uma tarefa cheia de armadilhas.
A biblioteca
vistosa, com milhares de volumes, nem sempre representa um incentivo adequado à
leitura.
A mensalidade que
parece caber no orçamento da família pode esconder uma conta abusiva no fim do
ano, com a soma de livros, viagens e eventos. E como saber se a instituição
prestigiada e cara vai se preocupar com o aluno que tiver dificuldades em algum
momento ?
A Folha consultou mais de 40 especialistas
--de pedagogos a economistas, de psicólogos a arquitetos-- e reuniu itens a
serem observados e perguntas específicas a fazer para as escolas, divididos em
sete passos fundamentais que, como no jogo da amarelinha, devem ser cumpridos
um a um no caminho até a instituição mais adequada.
Mesmo tendo em mãos
resultados de avaliações como o Enem, é impossível indicar a melhor escola,
porque isso depende das expectativas da família, das possibilidades, do perfil
da criança. Esta é uma escolha individual, e não existe colégio perfeito.
Este guia oferece
aos pais um roteiro prático para conduzir o processo de escolha com mais
segurança e tranquilidade. (ALESSANDRA BALLES)
Calcule os gastos além da mensalidade
O
bolso é um dos fatores mais determinantes na hora de bater o martelo por uma
escola para os filhos.
O
importante para cumprir bem esta etapa é planejamento --na qual devem ser
incluídos não apenas os gastos com a mensalidade mas também itens como
material, uniforme, alimentação e transporte.
Outro
ponto são idas a eventos e viagens com a turma do colégio. Os pais devem se
informar sobre a frequência em que acontecem e quanto custam --e estar preparados para dizer não ao filho
caso isso afete a previsão de gastos.
Professor
da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, Roy Martelanc
afirma que uma forma de começar este planejamento para o futuro é colocar tudo
no papel e, ao final de cada ano, calcular o quanto foi gasto com educação.
"Estabelecer
uma porcentagem máxima de renda é bobagem", diz William Eid, professor da
FGV. Ele discorda da ideia que os gastos com educação não devem ultrapassar 10%
da renda, pois cada família tem um perfil e prioriza de forma diferente a área.
Planejando,
afirma, é possível inclusive considerar a opção de estudar no exterior.
Foi
o que ele fez. Por ter realizado parte da sua formação no exterior e considerar
a experiência importante, seus dois filhos, de 13 e 14 anos, passaram duas
temporadas no Canadá --para isso, guardou dinheiro desde que eles nasceram.
TROPEÇO
Deixar
de pesquisar cursos extracurriculares -
Esses cursos podem ser feitos fora da escola, a preços mais acessíveis. Lembre-se
de que essas atividades servem também para conhecer pessoas fora do ambiente
escolar. (BRUNO BENEVIDES)
Buscador localiza cerca de mil escolas por faixa de preço em SP
Para
facilitar a missão de selecionar quais colégios visitar até eleger em qual
deles o seu filho vai estudar, a Folha publica em seu site um buscador que reúne cerca de mil
escolas na capital paulista, divididas por nível de ensino (fundamental 1 e 2 e
médio), distrito e faixa de mensalidade.
Clique
neste link e acesse o localizador / buscador de escolas de São Pualo, divididas
por nível de ensino, distrito e faixa de mensalidade : http://www1.folha.uol.com.br/educacao/1156754-buscador-localiza-cerca-de-mil-escolas-por-faixa-de-preco-em-sp.shtml
Perfil e expectativas da família e do aluno dão início à busca
DANIELA
ARAI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O
primeiro passo para acertar na opção pelo colégio é reconhecer o perfil e as
expectativas da família e do aluno.
Uma
criança muito tímida pode se sentir deslocada em uma escola enorme, e pais que
só pensam no sucesso do vestibular se frustram com uma formação menos voltada
para resultados imediatos.
Esse
espelho deve ser encarado de frente.
As
famílias devem priorizar não apenas necessidades práticas --por exemplo, quem
frequentemente acompanha os pais em viagens pode repor provas?-- mas também se
pautar por características que se orgulhariam de ter.
Claudia
Riolfi, psicanalista e professora da Faculdade de Educação da USP, orienta pais
e filhos a se fazerem perguntas subjetivas, como "há coisas que, para mim,
seriam importantes que a escola respeitasse, como uma configuração familiar
específica ou uma limitação física ?".
Nesse sentido, as
famílias devem reconhecer se possuem especificidades que gostariam que a escola
valorizasse, como determinada crença ou orientação sexual.
Ivany Pinto, docente da Universidade Federal do
Pará, sugere que pais e filhos façam uma lista separada sobre os aspectos mais
importantes para cada um e que depois discutam as opções.
Para Silvia Colello, professora de psicologia da
educação da USP, também é importante haver sintonia entre o perfil psicológico
dos filhos e o do público da escola. Sem isso, a criança não terá amigos e será
infeliz.
Por situação parecida passou a filha da
professora Mara Dias, 43, que abandonou a escola porque não se identificava com
os colegas. "Ela não se via com aquelas pessoas", explica a mãe de
Helena, 16. "Quando os valores da escola são muito diferentes dos da família,
o aluno acaba se sentindo desconfortável."
TROPEÇO
Optar de imediato pela escola em que estudou - É preciso saber como o colégio lida com questões atuais, como
tecnologia e internacionalização. Além disso, o seu filho pode ter um perfil
diferente do seu.
Não individualizar a escolha - Cada filho é único. Nem sempre a escola mais adequada para um é
a melhor opção para o outro. Leve em conta as características e os projetos
individuais.
Faças as visitas no horário de aula
A
segunda etapa no processo de escolha da escola é a seleção de colégios que são
compatíveis com as expectativas da família e do aluno e que devem ser visitados
--sempre no horário das aulas.
Para
começar essa pesquisa, a dica da professora Claudia Riolfi, da Faculdade de
Educação da USP, é verificar nos sites dos colégios as matérias optativas
oferecidas. "Uma escola que inclui a disciplina empreendedorismo é
diferente da que insere trabalho monográfico."
Outro ponto importante é conversar
com famílias de perfil similar, perguntar em que escola os filhos estudam e se
informar sobre elas.
Para
a arquiteta Thereza Dantas, 51, essa foi uma indicação preciosa. "Eu adorava os filhos de uns amigos.
Quando tive os meus, fui procurar a escola deles."
Todos
os especialistas concordam que, eleitas as opções, é preciso visitá-las durante o horário de aulas, para perceber a
verdadeira dinâmica do cotidiano escolar.
Na
conversa com o coordenador, segundo Silvia Colello, da USP, é preciso abordar
temas como o que a escola mais valoriza na formação do aluno e como são as
aulas --perguntas que devem ser repetidas a professores, pais e outros
estudantes.
Outro
aspecto é a forma de admissão. Muitas escolas realizam testes, e os pais devem
ter clareza sobre o processo.
Se optarem por submeter os filhos ao
processo seletivo, precisam estar preparados para a possibilidade de eles não
serem aceitos.
"Nesse caso, é importante que não
tenham uma opção única e procurem passar tranquilidade aos filhos",
afirma Colello.
TROPEÇO
Escolher
pelo rótulo -
Muitas
escolas que adotam o nome de uma determinada linha pedagógica não a seguem na
prática. Se você se
interessou por uma que se diz construtivista (que valoriza o pensamento crítico
e a construção conjunta do conhecimento), por exemplo, verifique se a
instituição trabalha com disciplinas que fogem do currículo tradicional, se
promove atividades diferenciadas como projetos interdisciplinares, apresentações
artísticas, estudos de meio, campeonatos esportivos etc. (DANIELA ARAI)
Além do professor, conheça a equipe que vai interagir com seu filho
BRUNO
BENEVIDES
Responsáveis
por implementar o projeto pedagógico, os professores passam grande parte do
tempo ao lado das crianças. Mas os docentes não devem ser os únicos
profissionais levados em consideração na hora da escolha.
"É
importante olhar a moça da cantina, o moço da perua. Todo o sistema educa e
deseduca", afirma Ana Paula Corti, doutoranda em educação pela USP.
Segundo
ela, os pais devem analisar como é a relação desses profissionais com os alunos
e entre eles.
"Uma
escola onde os funcionários são bem tratados é um bom sinal", afirma.
Com
a experiência de já ter trabalhado dentro e fora da sala de aula, o ex-inspetor
e hoje professor de educação física Ailton Rui Prado diz que todos os
profissionais são importantes para o ensino.
"A
escola funciona por meio dos funcionários, sem eles nada acontece."
Quando
teve de escolher a escola para a filha, conversou com funcionários antes de
tomar uma decisão. "Queria saber quem iria cuidar dela."
Outra
dica para conhecer melhor a equipe pedagógica é saber há quanto tempo os docentes
estão no colégio. "Se a rotatividade é alta, pule
fora", recomenda Artur Costa Neto, diretor do Sindicato dos Professores de
São Paulo.
Ao
visitar a escola, os pais devem procurar
saber qual é a formação dos docentes e dos auxiliares dos professores e se a
escola facilita e incentiva a atualização de seu quadro de funcionários.
TROPEÇO
Conversar
apenas com o diretor -
Segundo especialistas, procurar apenas pela direção ou
coordenação pedagógica é insuficiente,
já que alguns supervalorizam o colégio
na hora de "vendê-lo". "É importante conversar com os
professores fora do ambiente escolar", diz Ana Paula Corti. Dessa forma,
eles podem dar mais detalhes sobre o clima e a convivência entre os alunos.
Outros funcionários também devem ser ouvidos informalmente. Além de recomendar
bate-papo com os docentes, Artur Costa Neto afirma que outro modo para
descobrir se a escola dá autonomia a eles é perguntar se a direção realiza
reuniões semanais para discutir questões pedagógicas.
Localização da escola é o item que mais influencia na rotina da família
LETÍCIA
MORI
O
colégio é bem recomendado, você gostou do projeto de ensino e a mensalidade
cabe no bolso. Só tem um problema: fica do outro lado da cidade. Será que vale
a pena?
A
maioria dos especialistas afirma que não. "No começo, pode parecer uma boa
ideia. Mas, depois de dois, três anos, o desgaste é muito grande",
diz Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia.
Por
mais adequada que seja a escola, é preciso considerar, por exemplo, a que horas
o seu filho terá de acordar e em qual horário vai almoçar.
"O
estresse e o tempo que a criança perde no trânsito não valem a pena. Ela
precisa de tempo para lazer e de estudo solitário em casa para consolidar a
aprendizagem", explica Neide Barbosa Saisi, da Faculdade de Educação da
PUC-SP.
A
arquiteta Adriana Meneghello, 39, queria colocar os filhos de seis e sete anos
em uma escola cujo projeto pedagógico lhe agradava, mas que ficava a dez
quilômetros de sua casa, na zona sul.
Após
visitar outros colégios, escolheu um perto de casa e com um projeto de ensino
parecido com o que tinha inicialmente pensado.
Segundo
Neide, Adriana fez a coisa certa. "Não se pode escolher um colégio só porque é
perto. Mas, se a localização não deve ser o fator determinante, é um ótimo
critério de desempate entre instituições parecidas." Com
a escola perto, é mais fácil haver integração entre a instituição e a família.
Leve em consideração também se prefere que seu filho tenha amigos que moram por
perto ou que sejam de diferentes regiões da cidade.
TROPEÇO
Não
considerar o trajeto -
Um percurso de 20 minutos pode demorar bem mais com o transporte escolar. Além
do preço, pesquise se o seu filho será o primeiro a ser buscado e,
consequentemente, se terá de sair de casa muito mais cedo do que se fosse de
carro --ou então voltar em um horário em que não há ninguém em casa para
recebê-lo.
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