ANA MARIA ELIAS BRAGA
Extraído do site : http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/37953-meus-filhos-com-autismo-um-contraponto.shtml
Publicado
no Jornal A Folha de SP, de 19/04/2.012, seção Opinião A3
Eles eram diferentes,
mas eu insistia na maldita inclusão. Por que não deixar o especial dizer se ele
quer isso? É fácil opinar dentro de consultórios
Parte 1 : um pequeno
prólogo
Em julho de 1994, fiz várias
inscrições para adotar uma criança. Em setembro, recebi um telefonema dizendo
que minha oportunidade de ser mãe havia chegado. Para a minha surpresa, em dose
dupla. Assim, adotei os gêmeos univitelinos Rafael e Renato, com 19 dias.
Felicidade? Emoção? É pouco para
descrever. Minha vida se transformou em um caos -mas o melhor caos que alguém
poderia desejar.
Meus filhos pareciam qualquer
outra criança. Mas percebi lentidão no seu desenvolvimento.
Os médicos disseram que era a
minha ansiedade, que gêmeos demoravam mesmo. Minha intuição maternal dizia que
não era isso.
Quando estavam com quase dois
anos, levei os meninos ao neurologista. Com apenas alguns exames, o médico
disse que meus filhos não andariam, não falariam e que seriam dois vegetais.
Fiquei zonza. Tive a nítida
sensação de que ia desmaiar. Chorei por dois dias. No terceiro, vi que isso não
resolveria o problema e busquei outros profissionais da área de saúde.
Resumo : meus filhos hoje estão
com 17 anos, diagnosticados com autismo. Eles falam, andam, conversam, são
alfabetizados e músicos. O autismo não é contagioso, mas o sorriso deles é.
Minha vida se divide em antes e depois da chegada dos meus gêmeos.
Dificuldades ? Temos várias. Não
é fácil saber que meus filhos não farão faculdade, provavelmente não casarão
nem me darão netos... Ainda me permito chorar às vezes, mas aprendi a sentir
orgulho de mim mesma e, principalmente, deles.
Parte 2 : a vida
escolar
Quando tinham três anos,
matriculei meus meninos em uma escola pequena e regular (particular). Enquanto
tudo era só brincar, estava tudo certo. Nenhum problema.
A partir do momento em que eles
foram crescendo fisicamente, tudo se complicou. Mentalmente comprometidos, eles
não evoluíam pedagogicamente. Precisavam, portanto, ficar em classes com
crianças pequenas. Eles eram sempre bem maiores que os demais alunos.
Meus problemas começaram.
As mães se assustavam com o
tamanho deles. Sempre achavam que, no caso de uma agressão, seus filhos, tão
pequenos e indefesos, seriam massacrados, embora meus filhos nunca tenham sido
agressivos.
Nesse momento, a escola me chamou
e disse, educadamente, que uma escola com mais estrutura para recebê-los seria
melhor para eles.
Procurei o colégio onde estão até
hoje, uma escola regular, com classes especiais. Nessa época, eles estavam com
nove anos. Baseada e influenciada pelas ideias de psicólogos, insisti que
ficassem em uma classe regular.
Novamente, um martírio.
Pedagogicamente, a escola estava preparada, com um currículo feito
especialmente para eles. Mas, socialmente, o sofrimento começou.
Eles não eram chamados para
festinhas de aniversários, para grupos de trabalho, para os jogos de futebol.
Nem a tão natural paquerinha acontecia com eles.
Eram pessoas diferentes, mas com
uma mãe e especialistas insistindo na maldita inclusão.
Até que, aos 14 anos,
eles pediram para estudar na classe especial.
Disso, meu
questionamento : alguém já se perguntou onde a criança especial se sente melhor
? Junto com a normal ou outras especiais ?
De segunda a sexta, as crianças
especiais podem até estar nas tais classes inclusivas. E no sábado e no
domingo, quando os amigos se encontram? Seu filho especial não é convidado. Em
uma classe especial, eles viajam juntos, vão a festas, namoram entre si - são
felizes, enfim. Além disso, o desempenho escolar dos meus filhos nunca foi tão
bom.
Por que só a visão
dos especialistas é ouvida ? Por que nunca dão às mães ou ao próprio especial a
oportunidade de verbalizar o que eles acham melhor ? É fácil escrever artigos
sobre inclusão dentro de consultórios e depois ir para casa.
Um dia talvez a sociedade mude,
quando as crianças especiais puderem fazer parte do círculo de amigos das
normais. Até lá, nossos filhos serão mais felizes tendo aulas em lugares
separados do que sendo rejeitados em classes normais.
ANA MARIA ELIAS BRAGA, 43, é esteticista
MEUS COMENTÁRIOS
SOBRE ESTE ARTIGO :
Adorei
o artigo trazido pela esteticista Ana Maria Elias Braga, publicado no Jornal A
Folha de SP, de 19;04;2.012, na Seção A3, cujo titulo foi “ Meus filhos com
autismo, um contraponto”.
Principalmente deste trecho em que ela fala " Por que só a visão dos especialistas é
ouvida ? Por que nunca dão às mães ou ao próprio especial a oportunidade de
verbalizar o que eles acham melhor ? É fácil escrever artigos sobre inclusão
dentro de consultórios e depois ir para casa" .
Sei bem o que é receber um diagnóstico de um
especialista, que recomenda a inclusão dentro do consultório e depois que
chegamos em casa, nós, pais , é que precisaremos lidar com a inclusão das
crianças que dela necessitam e nessas horas, não é o especialista que está à
frente da situação para enfrentar a dificuldade que é fazer uma verdadeira
inclusão ; somos nós, pais !
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