O termo tabu refere-se àquilo que é proibido (ou velado) em determinado grupo social, assim iniciou a discussão uma colega nossa. Continua ela, dizendo que os tabus variam no tempo de acordo com a evolução da própria sociedade. De tal forma que, no passado, temas como o câncer, letalidade, prevenção à gravidez e sexualidade das crianças e adolescentes já foram temas sobre os quais não se podia falar.
Na modernidade, os tabus são outros, como aborto, aids, células-tronco, eutanásia, morte... Lidar com os tabus é lidar com os dilemas que afligem a própria sociedade.
Sobre a superdotação ainda há muitos mitos e idéias errôneas. Os veículos de massa reforçam esse imaginário.
A superdotação é um tabu porque vela um dilema que nos assombra: será que, de fato, alguns seres são mais dotados do que outros? Como conciliar esse discurso com o da igualdade? É um dilema, e todo dilema incomoda. E se incomoda vira tabu.
E como o tabu proíbe o desejo, ao trazer essa informação para o ambiente escolar, o que vejo é que uma escola que negue os dons específicos de suas crianças, no nosso caso em especial, os dos superdotados, adotando uma proposta homogeneizadora, ou seja, uma escola que negue os desejos, as competências e singularidades de seus alunos terá, no final da contas, de arcar com o desestímulo do aluno talentoso, ou a sua reclamação, ou a agressão, ou a apatia, ou o fracasso escolar.
Afinal de contas, o desejo que foi abafado, e para os fins desse texto, o desejo é a própria condição de superdotação de uma criança, sua imaginação vivaz e acelerada, suas deduções inusitadas e desafiadoras, esse desejo não pára nunca de querer aflorar e se manifestar.
O que eu acho sobre esta afirmação. Acho, sim, que a superdotação é um tabu. Só me dei conta disto, quando precisei buscar informações sobre a aceleração de série da minha filha. De início, achei a idéia de ter uma fiolha superdotada linda e maravilhosa. Ainda continuo achando (he he), porém, depois de muita instrução, informação, estudo e, muitas cabeçadas, que andei dando por aí .. he he.
A nossa colega, Marta, da comunidade do Orkut, Pais de Superdotado, trouxe o seguinte texto, para a nossa comunidade, que se encaixa bem nisto que estávamos discutindo (o tabu em torno da superdotação) :
"Mahoney (1998, p. 223) refere que “as pessoas que não sentem sua superdotação como válida, podem sofrer desde problemas de autoestima até de baixo autoconceito”, o que se reflete na raridade de adultos que admitam ter indicadores de AHs, muito freqüentemente negando-os, e a escassez de estudos que abordem o tema de PAHs adultos.
Quando pergunto, em palestras e seminários, quem, dentre o público “conhece alguma pessoa ou tem algum familiar com altas habilidades”, as mãos que se levantam são muito poucas, e ainda menos (na grande maioria dos casos, nenhuma) quando a pergunta é “quem de vocês é uma pessoa com altas habilidades”.
Este comportamento parece estar relacionado a uma representação negativa das altas habilidades (superdotação), já que, se assim não fosse, ela não hesitaria em identificar-se como tal. As estatísticas que o próprio Ministério de Educação veicula, inclusive na Lei acima citada, onde o diagnóstico da Educação Especial afirma que, em 1998, dos alunos matriculados havia “Apenas 0,3% com altas habilidades ou superdotados” (Brasil, 2001, p. 53), mostram que, nos órgãos encarregados de elaborar os levantamentos estatísticos, ainda não há uma compreensão ou inexistem elementos para identificar estas pessoas.
E essa dificuldade é causada pelo famoso tabu, preconceito, ignorância, etc. O autor finaliza seu texto, nos mostrando como estamos reféns do preconceito e nem nos damos conta disso ...
O sentimento de amor/ódio em relação aos superdotados vislumbrava-se no Renascimento, quando os “gênios” eram alvo dele e dos mitos que a sociedade criara para estas pessoas.
Assim como quem apresenta uma deficiência é alvo de pena e comiseração,quem manifesta uma aparente vantagem é alvo de inveja e agressão. O primeiro é privado de manifestar suas potencialidades, em detrimento de sua desvantagem, enquanto que, ao segundo, é negada a existência de suas reais vantagens. O superdotado é encoberto por um manto de inverdades que ofusca sua visualização e, em conseqüência, seu atendimento, cuja necessidade, chega a ser inclusive questionada.
Juntamente com a dificuldade de aceitar a diversidade e entender a singularidade como um direito individual, os mitos e crenças que pairam sobre os superdotados são responsáveis pela sua transparência, seja nas políticas públicas e no discurso oficial ; na escassez de publicações, especialmente em português, e na precariedade ou inexistência de serviços para esta população.
Penso que, além do preconceito, nos deparamos, também com a falta ou a dificuldade de se realizar uma avaliação e assim identificar o indivíduo superdotado. Temos um exemplo bem próximo de nós, da comunidade do Orkut, Pais de Superdotado, em que a nossa queridíssima colega Karfai, necessita com urgência fazer uma avaliação em seu filho, mas, na cidade e Estado em que ela reside, não tem ninguém apto a fazê-la ... O que pensar, então, sobre as pessoas que não têm conhecimento sobre o que é a superdotação, ou condições financeiras de encaminhar seu filho por uma avaliação, ou sequer ouviram falar ou cogitam que seus filhos ou eles mesmos possam ser portadores de altas habilidades ?
Uma colega nossa, da comunidade do Orkut, nos contou a seguinte história :
"Mesmo entre as pessoas com altas habilidades, as pessoas não se consideram superdotadas e ainda associam a superdotação a algo ruim. Acho que isso se deve à divulgação, pela midia, quase que apenas dos casos de superdotação extrema.Já foi provado que entre as pessoas de QI muuuito alto (>170) ocorre uma maior dificuldade de adaptação na infância, mas isso não necessariamente se mantem na idade adulta e também não ocorre em crianças com uma superdotação menos intensa. Outro dia participei de uma conversa que me fez perceber bem isso...
Os alunos de medicina da UNB participam de muitos dos nossos ambulatórios e por isso a médica que coordena a disciplina veio falar conosco sobre a turma.
Disse que a turma em geral era muito boa e interessada, mas que havia dois alunos "complicados". Um tinha esquizofrenia e o outro era superdotado !"
É óbvio que em uma turma selecionada por um vestibular com mais de 200 candidatos por vaga existem muitos superdotados. Os alunos são ótimos, estudiosos, interessados e inteligentíssimos, pude perceber pelas perguntas que fazem no ambulatório. A própria coordenadora é muito inteligente. Dá aula fantásticas e acabou de ganhar um prémio internacional com uma pesquisa sobre tumores hipofisários, além de ter tido o poster selecionado como o melhor do congresso americano de endocrino, entre trabalhos do mundo inteiro.
O tal garoto é mesmo problemático, mas não acho que isso se deva à superdotação. Ele foi aprovado em medicina aos 16 anos, entrou e largou para fazer filosofia ... não trancou ... só largou. Depois de 1 ano, resolveu voltar. Ele podia simplesmente ter ido à reitoria e solicitado que fosse aceito de novo. Outros alunos já fizeram isso e conseguiram pois não é do interesse da universidade deixar a vaga ociosa... só que ele achou mais fácil fazer outro vestibular. Passou de novo.
Depois, se não me engano, ele saiu por outro motivo e prestou um terceiro vestibular. Agora está fazendo o curso mas só frequenta o suficiente para ter 75% de frequência e 60% de média. Na última prova, por exemplo, fez exatamente seis questões e deixou as outras quatro em branco. Ou seja ... fez apenas o suficiente para tirar 6 (e tirou, pois respondeu com perfeição as questões).
Concordo que um aluno com este perfil psicológico, se não fosse superdotado, não estaria onde está, mas atribuir este comportamento à inteligência dele é falta de informação e preconceito, concordam ?"
A colega Marta, finalizou o tópico com a sensata afirmação :
"Pelo que leio e estudo, sei que existem algumas situaçoes que a superdotaçao pode estar aliada à alguma doença psiquiátrica, (autismo, no caso dos Asperger , esquizofrenia) e tambem pode estar ligada e à distúrbios mais leves no caso de TDAH e outros transtorno. Mas também sei que não representa a maioria ; pelo contrário, são casos isolados. Mas, já disse em outro tópico que felicidade e normalidade nao chamam a atenção. Os superdotados felizes e realizados são "só" considerados inteligentíssimos, enquanto que os problemáticos estes sim, são considerados superdotados ! Triste realidade, alimentada pela mídia,e os famosos filmes de Holywood, como se verifica por exemplo, no filem "Shine", "Uma mente brilhante", "Mentes que brilham". Puro preconceito e esteriótipo, infelizmente ..."
Oi Clau!! Como sempre muito bem vindos seus tópicos!! Realmente um superdotado é mais intenso, mais sensível, com o pensamento "hiperativo", e, entre outras coisas...pode ter dificuldades de ajustamento em determinados "setores" da vida, dependendo de como é sua história, sua criação, sua formação psíquica,como todos os seres humanos do mundo. Acredito que as pessoas considerem tabu aquilo que desconhecem e por isso não gostam de falar do assunto. Não podemos fazer salada de fruta com as coisas. Sabe a famosa frase: uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa?? rssrsrsr Não devemos misturar neurológico e psíquico. Definir o superdotado não é o mesmo que interpretar cada ser humano individualmente, sendo ele superdotado ou não. Acredito ainda que para qualquer pessoa, a consciência é um fator transformador, onde, sem aceitar a necessidade de mudança tudo se encontra perfeito. A mudança incomoda, desloca a situação atual, independente do assunto. Vivemos em uma cultura onde modificar o presente é algo doloroso. Por isso os tabus demoram tanto a fazer parte do cotidiano, pois exigem que as pessoas gastem tempo e se abram para o assunto...eu sou mãe de superdotados e também sou superdotada. Tive muuuuitos problemas de ajustamento e estou começando a me modificar. Sei por experiência, que minha história de vida, me ajudou a não formar corretamente meu emocional, mas é algo que tem conserto, e já estou em manutenção. srsrrs O fato de uns parafusos estarem meio desapertados, fez com que eu não usasse meu potencial completamente, mas superdotação não é como resfriado, não passa. Por isso, estou transformando minha vida, vou usar meu potencial. Espero sinceramente, que a sociedade possa aceitar o diferente, seja qual diferença for, pois o respeito é o mínimo que podemos ter por aquilo que não entendemos ou que desconhecemos.
ResponderExcluirGostei demais da colocaçao de nossa colega,mas ficou a indagaçao :Se a superdotaçao tem forte componente genético e portanto nesse caso neurológico,como fazer p/ separá-los na hora de fazer uma análise do individuo superdotado?????Pois acredito que os componentes neurológicos podem ser trabalhado,modificado mas nao ignorados e menos ainda extintos.Portanto acredito que p/ se entender o ser humano seja ele superdotados ou nao,há que se levar em conta os aspctos em conjunto o neurológico e o psiquico e dar a importancia exata(nem mais nem menos)que cada merece e tem na construçao de uma personalidade.Um abraço
ResponderExcluirOi Marta. Sabe, concordo plenamente quando você diz que para se entender o ser humano deve ser levado em conta os aspectos em conjunto. O ser humano é um todo, não é só uma parte. Mas na hora de definir cada parte, e digo definir, conceituar o que é, como colocação de "dicionário", não podemos misturar as coisas. O conceito de superdotado é um ponto. A individualidade do ser humano superdotado é outro ponto. Por isso coloco a diferença do psíquico na formação da história de cada pessoa e do neurológico. Quando a pessoa está sendo avaliada para se diagnosticar a superdotação, caso hajam componentes de forte estresse, estes podem atrapalhar a avaliação. Não sou psicóloga. Falo apenas do que vivi e experimentei na minha vida. Os componentes emocionais de uma pessoa, quando não ajustados, acredito que atrapalham o uso do neurológico. No meu caso, tive muuuuita dificuldade em tornar meu potencial funcional. Minha psique estava meio que "com defeito" e agora, durante a "manutenção" de meu interior, minha organização interna, meu autoconhecimento, estou podendo desempenhar outro papel, ser funcional. Essa minha dificuldade em ser funcional não vem de minha característica neurológica de ser superdotada, e sim de minha psique. Acredito também que não podemos esquecer que o superdotado é um ser humano, com características diferentes, mas um ser humano: que chora, que ri, que sente frio, sente dor, fica alegre, sorri, sente calor...e tem limitações, não é perfeito. Como todas as pessoas do mundo: erra e acerta. Se todos nós humanos temos características pessoais e peculiares que adquirimos dependendo de como recebemos nossa educação na infância, de como fomos tratados durante os primeiros anos de vida, até que nossa psique fosse formada, não importa se somos ou não superdotados, temos aquelas marcas dentro de nós. Entretanto, as pessoas superdotadas possuem alguns pontos que os torna diferentes em alguns aspectos. Desta forma, na hora de compreender o superdotado eu o vejo primeiro como ser humano, com suas marcas, sua história, seu jeito, e faço um paralelo com pontos característicos da superdotação, unindo o conjunto que você tão bem menciona. Um grande abraço pra você e pra Clau.
ResponderExcluirNossa muito legal sua colocaçao!!!!Sabe eu nao sou superdotada mas como vc tenho extrema felicidade de ser mãe de um.E vc coloca as coisas c/ uma clareza absoluta.Meu filho tem todos os componentes genéticos ,mas noto que por sua sensibilidade exacerbada às vezes nao age como tal(superdotado).Sua insegurança já o prendeu em situaçoes que sua atitude foi até considerada "burra".Aí entra sua colocaçao de que para aproveitar as características genéticas e neurológicas ,há de se cuidar muito bem da parte da psicológica . Um prazer conhece-la e um abraço
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