Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

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terça-feira, 17 de maio de 2011

PEQUENAS MISSES


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq1705201117.htm


ROSELY SAYÃO


Filhos só podem ser projeto de vida dos pais se ele for bem mais amplo do que o futuro pessoal da criança



Já recebi diversas mensagens e pedidos para assistir a um programa de televisão chamado "Pequenas Misses" (Discovery Home&Health).


O titulo já me fazia imaginar o tipo do programa, e também tinha a lembrança de ter lido alguma crítica na imprensa. Mas, por causa da insistência, decidi assistir.


Era mesmo o reality show que eu imaginava. Entretanto, devo confessar: não esperava ver tudo o que o programa mostra. Você não teve a oportunidade de ver, caro leitor? Pois eu indico. Por quê ?


Primeiro, porque é um retrato cruel do tipo de relação que o mundo contemporâneo aponta para os pais estabelecerem com seus filhos.


Claro que a maioria deles não quer prepará-los, como mostra o programa, para participar de concursos de misses infantis. Mas e se tomarmos o programa como uma pista? Vamos analisar sob essa perspectiva.


As mães e os pais mostrados no programa tratam seus filhos sem o mínimo respeito.


As crianças, muito pequenas, são submetidas aos mais diversos tratamentos de beleza "que vão dos cabelos à pele, passando por sessões de bronzeamento artificial"", que são verdadeiras torturas para elas, com idades entre dois e nove anos.


Elas reclamam, apresentam expressões faciais de dor e até de desespero, fogem etc. E qual a reação dos pais frente a essas manifestações dos filhos? Ignorar solenemente. Eles pensam só no que eles próprios querem, nos seus anseios para os seus filhos.


E por que esse querer dos pais é diferente de quando as crianças são levadas ao médico, por exemplo, e apresentam as mesmas reações citadas acima?


Porque cuidar de uma criança e educá-la, mesmo à sua revelia e ao seu contragosto, é parte do processo de formação de todos e, em especial, de uma sociedade melhor. É assim que mantemos a humanidade e o mundo.


Voltemos ao programa. Os filhos são também submetidos aos mais variados e intensos ensaios cotidianamente: de coreografias, caras e bocas, andar de passarela etc., apenas com o intuito de ter uma boa performance nos desfiles. E, de novo, os filhos recusam, fazem birra, brigam com os pais, que continuam a ignorar seus apelos para dar encaminhamento ao projeto que têm na vida.


Isso nos mostra que os filhos são tratados como posse dos pais. Esses se sentem no direito de agir como querem, sem considerar que a criança tem direitos que devem ser respeitados.


Entre tais direitos, cito dois apenas: o de viver a infância e o de ser visto como um ser humano em formação que é distinto dos seus pais


Será que os pais do programa são muito diferentes daqueles que querem que os filhos aprendam precocemente, em vez de brincar? Daqueles que enchem a agenda dos filhos com aulas de todos os tipos?


Dos que procuram definir o futuro dos filhos do modo como eles arquitetam ?


Creio que a diferença reside apenas em um ponto: os pais mostrados no programa agem de modo grotesco, enquanto os outros sempre parecem bem-intencionados aos olhos dos outros, da sociedade em geral. Mas, em todos os casos, os filhos são quase que ignorados em sua existência.


Os filhos só podem ser encarados como um projeto de vida dos pais se esse projeto for bem mais amplo do que o futuro pessoal da criança.


Educar um filho para que ele contribua para a vida ética, para que tenha autonomia, para que aprenda a ter respeito próprio e ao outro, por exemplo, pode, sim, ser um projeto de vida dos pais.


Mas isso supõe olhar para o filho, ouvir o que ele comunica mesmo em silêncio, relacionar-se com ele afetivamente para ensiná-lo a se tornar um ser humano livre, autônomo e que tem amor à vida.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)




4 comentários:

  1. Traço aqui uma analogia entre o excesso de estímulos de alguns pais de crianças superdotadas ou não e o mal que este excesso de estímulo pode fazer à estas crianças, tal como fazem, sem perceber, as mães destas pequenas misses. Eu também já assisti a este programa e assim como a Dra. Rosely, eu morro de dó destas crianças e percebo, no olhar de suas mães, uma vontade de se realizar através de suas filhas ; de descontar as suas frustrações, às custas da infância roubada destas pequenas crianças...

    Portanto, chamo a atenção de alguns pais de crianças superdotadas ou não, para que não cobrem muito de seus filhos ; não exijam deles, pois quando a criança é de fato superdotada ela, naturalmente, vai atrás de seus interesses, não havendo necessidade da intervenção dos pais, para direcionarem os seus interesses. E, nestas maravilhosas horas, que os nossos filhos superdotados estão em busca de seu objeto de interesse, aí, sim, nós podemos lhes ajudar, mas, não escolher os interesses por eles ....

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  2. EU TAMBÉM ACHO ESSE PROGRAMA UMA ABERRAÇAO,MUITO ME ADMIRA NINGUEM INFLUENTE DE ORGAOS LIGADOS A PROTEÇAO INFANTIL, TER SE PRONUNCIADO P/ FISCALIZAR ESTE TIPO DE CONCURSO.TALVEZ ALGUEM ACHE EXAGERO DE MINHA PARTE,MAS P/ MIM ISTO TAMBÉM É UMA FORMA DE ABUSO PARA COM AS CRIANÇAS.

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  3. Boa tarde, integro um grupo de pais de Brasília, que está avançando na tentativa de fazer valer os direitos de seus filhos com altas habilidades/superdotação por meio de uma Associação de Pais. Com alegria descobri este Blog, solicito a Claudia e aos demais que se possuirem experiência nesta atividade me enviem idéias, recomendações, conselhos, leis e tudo o que for possível para nos auxiliar.
    Um forte abraço, Valquíria Theodoro
    e-mail: vegt@uol.com.br

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  4. Valquíria. Vc pode tirar bastante material, aqui do Blog e venha participar, também, da nossa comunidade do Orkut "Pais de Superdotado" ! Lá vc tb vai ter bastante material e poder dividir bastante coisa com os demais pais.

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