Superdotação, Asperger (TEA) e Dupla Excepcionalidade por Claudia Hakim

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terça-feira, 26 de abril de 2011

Continuação do texto de A. Virgolim


2.Uma vez superdotada, sempre superdotada.



Aqueles que acreditam nesta falácia dão pouca importância às condições do meio para o desenvolvimento da superdotação. Muitos acreditam que a criança superdotada sempre terá sucesso na vida, independente das condições ambientais a que está sujeita. Joseph Renzulli, diretor do Centro Nacional de Pesquisas sobre o Superdotado e Talentoso da Universidade de Connecticut, nos Estados Unidos, defende a idéia deque os comportamentos de superdotação podem ser exibidos em certas crianças (mas não em todas elas) em alguns momentos (não em todos os momentos) e sob certas circunstâncias (e não em todas as circunstâncias de sua vida). Estes comportamentos aparecem quando a criança apresenta uma interação entre três conjuntos de traços: habilidade acima da média (em qualquer área e não necessariamente muito superior à média), envolvimento com a tarefa (motivação para realizar alguma tarefa, perseverança) e criatividade (Renzulli, 1986a; Renzulli e Reis, 1997;Renzulli, Reis & Smith, 1981).


A Teoria dos Três Anéis, revolucionária mesmo entre os teóricos da área, nos remete à questão da potencialidade. Uma criança altamente motivada a fazer um trabalho, ou a querer saber mais sobre um tópico, técnica ou atividade, poderá se esforçar e vir a dominar, em algum momento, o conhecimento associado à esta área de interesse, mesmo que não tenha demonstrado anteriormente uma capacidade intelectual especial ou superior. Talvez sejam a persistência em atingir um resultado ou ideal, a auto-confiança e a vontade de realizar alguma coisa, que verdadeiramente façam esta criança se tornar um adulto produtivo (Renzulli, 1986b).


É por isso que muitas pessoas desabrocham mais tarde, às vezes já adultas, quando reuniram suficiente coragem nelas próprias para aprender mais sobre uma área a que nunca puderam se aplicar, e descobrem que possuem habilidades inesperadas e, muitas vezes, superiores, como aconteceu com Darwin e com o compositor Igor Stravinsky, que tiveram um desabrochar tardio (Winner, 1998). Por outro lado, a falta de incentivo, de experiências de aprendizagem (e de vida) enriquecedoras, a falta de reconhecimento das capacidades e potencialidades de uma criança, poderão, por sua vez, concorrer para o desuso destas habilidades e sua conseqüente estagnação (Galbraith & Delisle, 1996).


Decorre ainda desta questão sobre a importância do ambiente enfatizar que, segundo a Teoria dos Três Anéis, os comportamentos de superdotação são, em parte, influenciados por fatores de personalidade (como auto-estima, auto-eficácia, coragem, força do ego, energia, etc.), por fatores ambientais (nível sócio-econômico, personalidade e nível educacional dos pais,estimulação dos interesses infantis, fatores de sorte, etc.) e, em parte também, por fatores genéticos.


Criatividade e envolvimento com a tarefa são traços variáveis, não permanentes, que podem estar presentes em maior ou menor grau em uma atividade, sendo que, quase sempre, um traço estimula o outro. Ao ter uma idéia criativa, a pessoa se sente encorajada e é reforçada pela aceitação da sua idéia ; e, ao colocá-la em ação, seu envolvimento com a tarefa começa a emergir, podendo ativar o processo de resolução criativa de problemas (Renzulli & Reis, 1997).


Pesquisas indicam que a criatividade e o envolvimento com a tarefa podem ser modificados e influenciados positivamente por experiências educacionais bem planejadas(Gubbins, 1982; Reis & Renzulli, 1982; Renzulli, 1986a; Renzulli & Reis, 1997). Assim, talentos e habilidades superiores podem e devem ser desenvolvidos naqueles jovens que têm o maior potencial para se beneficiar de serviços de educação especial, através de programas cujo foco se encontrem na produtividade criativa (Renzulli, 1986b). Visto sob este ângulo, é tarefa da escola estimular o desenvolvimento do talento criador e da inteligência em todos os seus alunos, e não só naqueles que possuem um alto QI ou que tiram as melhores notas (Virgolim, 1998).

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