Continuação do texto de Virgolim, A.M.R. (2003). A criança superdotada e a questão da diferença: Um olhar sobre suas necessidadesemocionais, sociais e cognitivas. Linhas críticas, 9, 16 (13-31).
Falsas concepções sobre a superdotação
- Todo superdotado é um gênio
É muito comum, em nosso meio, ouvirmos as pessoas se referirem a uma criança como um gênio, devido à sua precocidade em uma área específica.
O termo gênio foi por muito tempo utilizado por Lewis Terman que, em seu livro
Genetic Studies of Genius, de 1926, definia como gênio qualquer criança com um QI superior a 140, conforme medido pelo teste Stanford-Binet (Ehrlich, 1989). O que os pesquisadores da atualidade sugerem é que o termo “gênio” deva ser reservado para descrever apenas aquelas pessoas que deram contribuições originais e de grande valor à humanidade em algum momento do tempo (Alencar, 2001; Feldhusen, 1985; Feldman, 1991), enquanto o termo “superdotado” denota apenas uma criança ou adolescente que mostra sinais ou indicações de habilidade superior.
Feldman (1991) faz uma importante distinção entre “crianças prodígios” e “gênios”.Segundo o ponto de vista deste autor, o termo prodígio se refere àquelas crianças que demonstram um desempenho em um nível extremamente alto dentro de um campo específico, em uma idade precoce. Assim, prodígio corresponderia a uma criança de até 10 anos de idade comum desempenho ao nível de um profissional adulto em algum campo cognitivo (Feldman, 1991; Morelock e Feldman, 1993). Gênio, por outro lado, implica na transformação de um campo deconhecimento com conseqüências fundamentais e irreversíveis. Seria aquele que, além de deixar sua marca pessoal no seu campo de atuação, leva as pessoas a pensarem de forma criativa e diferente Feldman (1991) faz uma importante distinção entre “crianças prodígios” e “gênios”.
Segundo o ponto de vista deste autor, o termo prodígio se refere àquelas crianças que demonstram um desempenho em um nível extremamente alto dentro de um campo específico, em uma idade precoce. Assim, prodígio corresponderia a uma criança de até 10 anos de idade comum desempenho ao nível de um profissional adulto em algum campo cognitivo (Feldman, 1991; Morelock e Feldman, 1993). Gênio, por outro lado, implica na transformação de um campo deconhecimento com conseqüências fundamentais e irreversíveis. Seria aquele que, além de deixar sua marca pessoal no seu campo de atuação, leva as pessoas a pensarem de forma criativa e diferente. Feldhusen (1992) discute a superdotação em uma perspectiva interacionista.
Para este autor, os talentos surgem de uma habilidade geral, sendo o resultado de uma confluência de disposições genéticas, experiências no lar e na escola, estilos de aprendizagem e interesses únicos do estudante.
Nessa perspectiva, as habilidades, aptidões, e inteligências emergem como resultado das experiências, motivações e estilos de aprender de cada um. No entanto, como os fatores genéticos são determinantes das forças potenciais do indivíduo, é a genética que estabelece os limites do desenvolvimento dos talentos. Sendo assim, os indivíduos que atingem níveis superiores do desenvolvimento do talento já os exibirão em idades precoces.
Como ressaltam Alencar e Fleith (2001), o fundamental aqui é reconhecer que a superdotação pode se dar em diversas áreas do conhecimento humano (intelectual, social,artística etc.), num continuum de habilidades.
Esta opinião é também compartilhada por Passow (1981) para quem a superdotação se manifesta em uma grande variedade de formas, feitios e tamanhos, em pessoas com diferentes graus de talento, motivação e conhecimento. Assim, enquanto algumas pessoas demonstram um talento significativamente superior à população geral em algum campo, outras demonstram um talento menor, neste mesmo continuum de habilidades,mas o suficiente para destacá-las ao serem comparadas com a população geral (Virgolim, 1997).Estes dois termos, superdotação e talento, nem sempre são vistos de forma intercambiáveis.
Pra Gagné (1993), por exemplo, a superdotação corresponde à competência distintamente acima da média em um ou mais domínios da aptidão humana, enquanto o talento diz respeito ao desempenho distintamente acima da média em um ou mais domínios da atividade humana.
A emergência de um talento resulta da aplicação de uma ou mais aptidões ao domínio de um conhecimento e habilidades em um campo particular, mediado pelo suporte de catalisadores intrapessoais (motivação, autoconfiança), ambientais (família, escola, comunidade), assim como pela aprendizagem sistemática e prática extensiva.Nesta mesma linha de raciocínio, outros pesquisadores (Davis & Rimm, 1994; Marland,em Renzulli, 1986a; Secretaria de Educação Especial, 1995) propõem ampliar o nosso conceito de superdotação, de forma a abarcar tanto aquele aluno que se destaca por suas habilidades intelectuais (tira boas notas em algumas matérias na escola – não necessariamente em todas –,tem facilidade com as abstrações, compreensão rápida das coisas, demonstra facilidade em memorizar etc.), como aquele que se destaca por suas habilidades criativas (é curioso,imaginativo, gosta de brincar com idéias, tem respostas bem humoradas e diferentes do usual),por suas habilidades de liderança (é cooperativo, gosta de liderar os que estão a seu redor, é sociável e prefere não estar só), pela motivação que demonstra em realizar algumas tarefas(torna-se totalmente envolvido pela atividade do seu interesse, resiste à interrupção, facilmente se chateia com tarefas de rotina, se esforça para atingir a perfeição, e necessita pequena motivação externa para completar um trabalho percebido como estimulante), por suas competências nas artes (habilidade em expressar sentimentos, pensamentos e humores através da arte, dança, teatro ou música, boa coordenação) e, finalmente, por suas habilidades psicomotoras, como no esporte.
Desta forma, as modernas teorias no campo da superdotação, que não estão presas à noção de genialidade para definir o talento, acreditam que QI e superdotação nem sempre correspondem à mesma coisa. Gardner, Kornhaber e Wake (1998) argumentam que os testes psicométricos centram-se primariamente na linguagem e na matemática, abarcando apenas a inteligência acadêmica, deixando de fora outras capacidades humanas fundamentais para a resolução de problemas. Os testes de QI também não são ecologicamente válidos, (para usar a expressão cunhada por Urie Bronfenbrenner), no sentido de que não se assemelham aos ambientes do cotidiano em que as pessoas comumente pensam (Gardner, Kornhaber & Wake, 1998), assim como não processam as diferenças existentes entre culturas e países, ou mesmo entre sub-culturas dentro de um mesmo país (Hetherington & Parke, 1999).
Outras críticas válidas enfatizam a natureza artificial dos testes, uma vez que estes requerem que a pessoa resolva problemas sem referência à sua base usual de conhecimento e experiência. No contexto de vida real, as pessoas geralmente não encontram problemas tão claramente definidos e ordenados como estão nos testes; podem se preocupar apenas com as questões que têm alguma significação pessoal para elas; podem gastar um maior tempo na sua resolução; podem fazer perguntas e buscar conselhos com outros quando estão em uma situação crítica; e também podem usar livros e recursos tecnológicos, incluindo uma ampla variedade de ferramentas e instrumentos à sua disposição(Gardner, Kornhaber & Wake, 1998).
Além disso, conforme argumenta Vygotsky quanto a seu conceito de zona de desenvolvimento proximal (Vygotsky, 1991), uma pontuação num teste padrão de inteligência não revela o que uma criança é capaz de fazer quando é orientada por outras ou trabalha em colaboração com outras pessoas em uma situação social. Feldman (2001) acrescenta ainda que o teste penaliza aquelas crianças que pensam de forma criativa ou imaginativa, ou que tendem a demorar-se analisando com profundidade uma questão.
As perguntas nos testes de QI, além de serem apresentadas fora do contexto, enfatizam mais a memória e a lembrança de fatos, em detrimento do pensamento de ordem superior e das habilidades de solução de problemas que lhes poderão ser úteis no mercado de trabalho no futuro. Winner (1998) argumenta ainda que, se buscarmos apenas por resultados de QI, até mesmo os jovens notavelmente aptos em artes ou música não seriam reconhecidos, por terem habilidades que não são medidas em um teste convencional. Além disso os savants, que demonstram um severo retardo, mas habilidades espantosas em artes, cálculos matemáticos e de calendário, música, habilidades mecânicas, memória prodigiosa e discriminação sensorial acurada, podem mostrar a superdotação na ausência de uma inteligência normal (Morelock &Feldman, 1993).
Howard Gardner e seus colegas do “Harvard Project Zero” desenvolveram uma teoria pluralística da inteligência como um desafio direto à visão clássica da inteligência, a qual afirmava que a inteligência é uma capacidade unitária de raciocínio lógico, uma energia mental subjacente que seria utilizada em graus variados em toda atividade intelectual (Gardner, 10Kornhaber & Wake, 1998).
A Teoria das Inteligências Múltiplas define inteligência como uma habilidade ou conjunto de habilidades que permitem ao indivíduo resolver problemas ou modelar produtos como conseqüência de um ambiente ou cultura particular (Gardner, 1994, 1995;Ramos-Ford & Gardner, 1991). Sua teoria estabelece que a competência cognitiva humana pode ser melhor descrita como sendo um conjunto de sete habilidades, talentos ou capacidades mentais, estabelecidas como universais na espécie humana : a inteligência lingüística; a lógico matemática; a espacial; a corpo-cinestésica; a musical; a interpessoal e a intrapessoal.
Recentemente, em um artigo intitulado “ Are there additional intelligences? The case for naturalist, spiritual and existential intelligences” (Gardner, 1999), este autor incorporou à esta estrutura mais duas inteligências: a naturalista , que seria a capacidade de reconhecer e classificar espécies de flora e fauna em seu ambiente; de reconhecer padrões em um estímulo (por exemplo,reconhecer problemas de mecânica em um carro pelo seu barulho), detectar um novo padrão em um experimento científico, o discernimento de um estilo artístico, a distinção de membros entre espécies etc.; e a espiritual ou existencial, envolvendo a preocupação com certos conteúdos cósmicos, a obtenção de certos estados de consciência e os profundos efeitos que certas pessoas,possuidoras destas capacidades, exercem sobre outros indivíduos.Desta forma, a inteligência deve ser entendida em sua forma plural, intrinsecamente relacionada ao contexto em que a pessoa trabalha, ao seu meio social e se encontra distribuída entre vários recursos além do próprio indivíduo.
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