Gasparzinho vai à escola : UM ESTUDO SOBRE AS
CARACTERÍSTICAS DO ALUNO COM ALTAS HABILIDADES PRODUTIVO-CRIATIVO
Extraído do site : http://www.bdae.org.br/dspace/bitstream/123456789/898/1/tese.pdf
Autora : SUSANA GRACIELA PÉREZ BARRERA PÉREZ
Considero útil as pessoas entenderem e saberem que a
superdotação não compreende somente o tipo acadêmico, aonde a criança, ou o
sujeito superdotado, tem facilidade de aprendizagem nas áreas acadêmicas. Existe, entre os
doutrinadores, um outro tipo de superdotação, que é tão importante quanto à
acadêmica, e que é tão evidenciada por Renzulli quanto aquela, que é a
superdotação do tipo produtivo-criativo, que eu abaixo
abordo e prometo trazer mais relatos sobre este tipo, pois ele me interessa
muito :
A pessoa com Altas Habilidades produtivo-criativa
geralmente se destaca por ser mais questionadora ; extremamente
imaginativa e inventiva e dispersiva, quando a tarefa não lhe interessa,
não apreciando a rotina e tendo modos originais de abordar e
resolver os problemas, pelo que muitas vezes tem baixo desempenho e
falta de motivação. (STOBÄUS E MOSQUERA, orgs. 2004, p. 240).
É importante ressaltar que, como dificilmente
podem ser identificados pelos atuais testes de QI, as pessoas
com Altas Habilidades produtivo-criativa acabam por não serem tratados como PAH
(pessoa com Altas Habilidades), e como desenvolvem-se mais nas áreas
de criação, que não é muito contemplada pelos sistemas educacionais atuais e
currículos, tende a ter um baixo rendimento escolar.
Este tipo de superdotação, a que se refere como
criativa-produtiva, diz respeito aqueles aspectos da atividade humana
onde se valoriza o desenvolvimento de produtos originais. Observa Renzulli
que as situações de aprendizagens planejadas para se promover este tipo de
superdotação enfatizam o uso e aplicação da informação e os processos de pensamento
de uma maneira integrada, indutiva e orientada para
problemas reais, distinguindo-se daquelas situações que visam promover a
superdotação do primeiro tipo, uma vez que esta tende a enfatizar a
aprendizagem dedutiva, o treino estruturado no desenvolvimento de processos de
pensamento e a aquisição, armazenagem e reprodução da informação.
Renzulli interessou-se especialmente pelo segundo tipo (o
produtivo-criativo) e, com base em pesquisas sobre pessoas que haviam se
destacado por suas realizações e contribuições criativas, propôs a sua
concepção de superdotação, que engloba os seguintes aspectos: habilidade
bem acima da média, envolvimento com a tarefa e criatividade.
O primeiro aspecto (habilidade bem acima da média)
englobaria tanto habilidade geral como habilidades específicas.
A primeira habilidade (a geral) consistiria na capacidade
de processar informações, integrar experiências e se engajar em pensamento
abstrato.
As habilidades específicas consistiriam na capacidade de
adquirir conhecimento, destreza ou habilidade para realizar uma ou mais
atividades do tipo especializado. Renzulli dá como exemplos de habilidades
específicas o balé, escultura, fotografia, química e matemática.
Envolvimento com a tarefa - constitui-se no
componente motivacional e representaria a energia que o indivíduo
canaliza para resolver um dado problema ou uma dada tarefa. Inclui
traços como perseverança, dedicação, esforço, autoconfiança, e a crença na
própria habilidade de desenvolver um importante trabalho.
Com
relação à criatividade, um dos aspectos também presentes na concepção de
superdotação apresentada, Renzulli chama a atenção para as limitações inerentes
aos testes de criatividade, sugerindo uma análise dos produtos criativos do
sujeito.
A superdotação do tipo produtivo-criativa descreve
aqueles aspectos da atividade e do envolvimento humanos nos quais se incentiva
o desenvolvimento de idéias, produtos, expressões artísticas originais e áreas
do conhecimento que são propositalmente concebidas para ter um impacto
sobre uma ou mais platéias-alvo (target audiences). As situações de
aprendizagem concebidas para promover a superdotação produtivo-criativa
enfatizam o uso e a aplicação do conhecimento e dos processos de pensamento de
uma forma integrada, indutiva e orientada para um problema real. O papel
do aluno passa do de aprendiz de lições pré-determinadas e consumidor de
informações para um outro papel, no qual ele ou ela utiliza o modus
operandi do investigador em primeira mão (first-hand inquirer).
O conceito de inteligência geral, que foi o pilar
fundamental dos testes de QI tradicionais durante muitos anos, e que leva
em consideração apenas as habilidades lingüísticas, lógico-matemáticas e
espaciais, assim como a sua forma de aplicação, é amplamente
questionado tanto por Gardner (1983, 1991, 2000), como
por Renzulli, desde suas primeiras publicações que datam de 1976. Este
último destaca (1998, 10-11) que :
Na medida em que a definição de superdotação se estende
para além daquelas habilidades que se refletem claramente nos testes de
inteligência, desempenho e aptidão acadêmica, torna-se necessário
colocar menos ênfase nas estimativas precisas de desempenho e potencial e mais
ênfase nas opiniões dos avaliadores humanos [...].
Renzulli (1998, p. 11) também chama a atenção sobre este
aspecto, citando uma afirmação de Sternberg, autor também muito referido por
Gardner, de que :
[...] os testes funcionam somente para algumas pessoas,
em alguns momentos - não para todos em todos os momentos - e
que algumas das suposições que temos no uso que fazemos dos testes são, no
melhor dos casos, corretas somente para um segmento desta população testada e,
no pior dos casos, corretas para nenhuma delas.
Quanto à incapacidade de avaliar a inteligência de forma
correta e à necessidade de evitar práticas de avaliação limitadoras, Renzulli
(1998, p. 4) também afirma que “[...] não há um modo ideal de medir a
inteligência e, conseqüentemente, devemos evitar a prática tradicional de
acreditar que, se conhecemos o QI de uma pessoa, também conhecemos sua
inteligência”, o que Ramos-Ford e Gardner (1991, p. 55) referendavam quando da
realização do Projeto Zero, em relação aos métodos de avaliação para inclusão
nos programas de atendimento a superdotados e talentosos, nos Estados Unidos.
Criatividade
Mitjáns Martinez (1997, p. 53) refere que existem mais de
400 acepções diferentes de criatividade, além dos termos cuja significação se
assemelha, tais como pensamento criativo, pensamento produtivo, produtividade,
originalidade, inventividade, entre outros.
A este respeito, Mitjáns Martinez (1997, p. 54) refere
que, na produção ou descoberta de um algo novo que implica a criatividade,
“este algo pode ser uma idéia, um conjunto delas, uma estratégia de solução, em
seu sentido tanto geral como específico, comportamentos, etc”.
Seja qual for a definição de criatividade adotada, pode
detectar-se um relativo consenso quanto a seus ingredientes básicos: fluência,
flexibilidade, originalidade, elaboração, avaliação, redefinição, sensibilidade
para problemas e pensamento divergente, todos processos que podem ser
associados ao comportamento inteligente humano.
Algumas manifestações comportamentais da criatividade são
apontadas por Renzulli (1978, p. 19) :
- Fluência, flexibilidade e originalidade de pensamento.
- Abertura à experiência; receptivo ao que é novo e
diferente (mesmo que seja irracional) nos pensamentos, ações e produtos
próprios e dos outros.
- Curioso, especulativo, ousado e “mentalmente
brincalhão”; desejoso de correr riscos no pensamento e na ação, mesmo chegando
a ponto de ser desinibido.
- Sensível aos detalhes e características estéticas das
idéias e coisas; desejoso de agir e reagir aos estímulos externos e a suas
próprias idéias e sentimentos.
A superdotação produtivo-criativa, segundo Renzulli
(1986), é a que se manifesta naqueles aspectos da atividade humana e do
envolvimento onde se dá maior importância a materiais e/ou produtos originais
elaborados propositadamente para ter um impacto sobre um ou mais públicos-alvo.
É enfatizada no uso e na aplicação das informações, conteúdo e processos de
pensamento de uma forma integrada, indutiva e direcionada para um problema
real. A pessoa com AH/SD do tipo produtivo-criativo usa o modus operandis de um
pesquisador de primeira classe, coloca as suas habilidades para trabalhar nos
problemas e áreas de estudo que têm relevância pessoal para ela e que podem ser
levados progressivamente a níveis apropriadamente desafiadores da atividade
investigativa.
Renzulli (1986, p. 5) refere que:
[...] foram as pessoas criativas e produtivas do mundo,
os produtores e não os consumidores de conhecimento que reconstruíram o
pensamento em todas as áreas de esforço humano, as que se tornaram reconhecidas
como indivíduos “verdadeiramente superdotados". A História não lembra as
pessoas que meramente tiveram bons escores nos testes de QI e/ou aprenderam bem
suas lições.
Renzulli (1999b, p. 5) cunhou o termo “superdotação
produtivo-criativa” após verificar, em suas pesquisas, numerosos casos de
pessoas que tinham um desempenho incomum e que não teriam sido identificadas
confiando-se apenas nos testes de habilidades cognitivas.
Witty (1975, p. 42) já alertava, em 1975, que: Durante o
período de crescente interesse no aluno superdotado, tornou-se evidente que os
testes de inteligência não permitiriam identificar com sucesso os alunos que
tivessem um elevado potencial para a expressão criativa. Este fato foi há muito
tempo apontado por este autor quando indicava que os testes de inteligência
normalmente não traziam à luz a resposta imaginativa, original ou única.
Wechsler (1998, p. 162) comenta que: [...] é
bastante claro que as medidas usuais de inteligência não poderão identificar os
superdotados criativos, que são, justamente, penalizados por darem respostas
diferentes daquelas que seriam consideradas como “certas” nos testes.
Como já foi afirmado em outra oportunidade (PÉREZ,
2003a), os testes tradicionais não conseguem avaliar este tipo de AH/SD
totalmente porque a característica primordial que estes alunos apresentam é o
elevado nível de criatividade, que não pode ser avaliado por instrumentos
padronizados. Nos próprios testes de criatividade que têm sido desenvolvidos, há
dificuldades para identificar níveis de criatividade, visto que, como afirma
Witty (1975, p. 43), “tornou-se claro que a criatividade não é um traço geral e
que um indivíduo que é criativo em uma área, não necessariamente o será em
outra”.
Renzulli (1999b, p. 5) também enfatiza que “as pessoas
altamente criativas e produtivas têm picos e depressões nas produções de alto
nível”, o que é um outro fator que inviabiliza a identificação quantitativa
deste tipo de aluno, pois, no momento da avaliação, se o aluno estiver num
momento de latência da criatividade, ele não demonstrará um desempenho
destacado, não sendo, portanto, considerado como um aluno com Altas
Habilidades/superdotação.
Uma outra característica que Renzulli (1999b, p. 5)
aponta é que “[...] a superdotação produtivo-criativa tende a ser contextual ou
específica a um domínio”, o que também dificulta a sua identificação, visto que
esse campo ou domínio pode não ser visível para os professores, na escola, ou
mesmo para pais menos atentos às manifestações de seus filhos.
Por outro lado, o aluno com AH/SD produtivo-criativo usa
mais o pensamento divergente, associado à criatividade, e isto dificulta sua
adaptação ao ritmo da sala de aula e a sua avaliação, que geralmente privilegia
as respostas do tipo convergente.
Provavelmente, como já foi afirmado (PÉREZ, 2003a), pela
falta de informações e por apresentarem comportamentos que fogem do estereótipo
de aluno com AH/SD que a sociedade tem, na escola, os alunos com AH/SD
produtivo-criativos dificilmente são identificados como Pessoas com Altas
habilidades/superdotação. Como, geralmente, seus interesses não são
contemplados pelo currículo do ensino regular, a tendência à dispersão; a falta
de rendimento; o desempenho, muitas vezes, aquém do da média de alunos em
algumas disciplinas; e a falta de elementos que permitam avaliar suas
habilidades; “muitas vezes, fazem que eles sejam encaminhados aos serviços de
orientação educacional já rotulados como alunos dispersivos, com dificuldades
de aprendizagem, hiperativos, com déficit de atenção ou desvios de
comportamento”.
Parabéns Clau!
ResponderExcluirNão sabia que vc tinha um blog!
Muito legal mesmo!
Bjs
Dani
Obrigada, Dani !!!
ResponderExcluirFantástico!! Meu filho foi diagnosticado AH/SD Produtivo-Criativo com Dupla Excepcionalidade! Seu texto está perfeito!!!
ResponderExcluirGostaria de saber o q fazer com os adultos com essas caracteristicas q nao foram diagnosticados na infancia e cresceram com alto nivel de insatisfaçao de frustraçao e ate depressao....
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