Um Olhar para as Altas Habilidades: construindo caminhos. São Paulo: FDE, 2008.
Miguel Cláudio Moriel Chacon
Carlos Eduardo Paulino
Há, entretanto, quase inteiramente descurado dos educadores, um grupo de crianças com grande possibilidade de tomar as rédeas da vida social de amanhã e imprimir-lhe a direção que seria realmente a melhor.
Helena Antipoff (1946)
A começar pela carta da Secretária da Educação do Estado de São Paulo (SEESP), em 2008, notamos que, no livro resenhado, não se faz distinção entre os termos Altas Habilidades e Superdotação (AH/SD), o que não está inteiramente de acordo com a literatura brasileira. A pesquisadora Soraia Napoleão Freitas (UFSM/RS) não aprecia a terminologia superdotação, como discutido em sua obra “Educação e Altas Habilidades/Superdotação: a ousadia de rever conceitos e práticas”, de 2006; já Eunice Soriano de Alencar (UnB/DF e UCB/DF) e Denise de Souza Fleith (UnB/DF), distinguem os dois termos, o que fica claro no livro “Desenvolvimento de Talentos e Altas Habilidades: orientação a pais e professores”, organizado em 2007. A mesma carta chama a atenção para a segregação, evasão escolar e discriminação aos quais são submetidos os alunos AH/SD, bem como para o fato de serem associados somente à competência acadêmica. Christina Cupertino, desde o início da obra, ressalta a terminologia Altas Habilidades e a necessidade de serem implantadas atividades de identificação e acompanhamento educacional, levando-se em consideração a realidade do Estado de São Paulo. Para isso, entende que a capacitação é de suma importância, e que vem sendo oferecida pela SEESP desde 2002, por meio do Centro de Apoio Pedagógico Especializado (CAPE), financiador da obra em questão.
Em seu primeiro capítulo, a autora demonstra indignação quanto à atenção inadequada à categoria de alunos com AH/SD no Brasil, indignação esta que fica clara ao explicitar que a superdotação, na contramão dos demais países do globo terrestre, “(...) é predominantemente ignorada, quando se trata da prática educacional. (...) Num país pleno de carências, não se considera relevante o atendimento diferenciado a quem já foi privilegiado com um dom especial” (CUPERTINO, 2008: 10).
Segue relatando a história de Pessoas com Altas Habilidades (PAH), e, curiosamente, cita os estudos de William Stern (1911), Spearman (1904) e Galton (1869), como pioneiros, aos quais acrescentaríamos as pesquisas de Alfred Binet, a partir de 1916. Aliás, para o conhecimento das Teorias das Inteligências (TIs), recomendamos a leitura do livro Inteligências Múltiplas Perspectivas de Gardner, Kornhaber e Wake (1998). Nesse relato a autora nos revela a descrença em testes de aptidão, a partir de 1960, em função da igualdade de educação para todos, o que gerou conflitos entre as idéias de educação para a igualdade ou para a excelência, tanto que alerta que a Educação Especial para os alunos talentosos, durante muito tempo foi vista como elitista e discriminadora.
Continua definindo e diferenciando superdotação, altas habilidades, talentos, bem como utilizando a legislação para corroborar a idéia da necessidade de uma educação especializada, destinada a esses alunos, alertando para o perigo de se incorrer no erro de confundir conceitos como precoces e prodígios com AH/SD. Discute as diferentes abordagens adotadas por Sternberg (2006), Gardner (1998), Winner (1998) e Renzulli (1986). Analisa os trabalhos de Landau (2002), Pérez (2006) e Guenther (2000), avaliando as assincronias, as inteligências e os problemas dos testes de inteligência. Como exemplos das Múltiplas Inteligências cita variados casos, desde o acadêmico ao naturalista, em diversas partes do mundo. Ainda nos aspectos das características, indiretamente, traz à tona a importância da família, muito a gosto de Ellen Winner (1998), em seu livro “Crianças Superdotadas: mitos e realidades”, e o Desenvolvimento Moral, bastante discutido no livro “Desenvolvimento de Talentos e Altas Habilidades: orientação a pais e professores”, de autoria de Fleith e Alencar (2007).
Na parte prática da obra, avalia riscos, educação diferenciada, aceleração e enriquecimento para os alunos com AH/SD. Sugere a parceria escolas-universidades e relata as dificuldades da implantação de um efetivo programa educacional, por conta da discriminação velada e do desconhecimento acerca das necessidades desses alunos. Não obstante, analisa a legislação brasileira e sugere várias atividades de acompanhamento educacional, uma vez que essa modalidade de aluno também tem necessidades educacionais adicionais.
Finaliza a obra com a reconhecida discussão sobre os limites, que não existem, para os AH/SD. O limite existe para quem desconhece, ou não reconhece, um PAH. Cumpre dizer que nessa importante obra, introdutória ao assunto, as ilustrações foram feitas por alunos que apresentam Altas Habilidades artísticas em diferentes faixas etárias. A obra é de fundamental importância e, para pesquisadores que pretendem iniciar trabalho nesta temática, é parada e leitura obrigatória.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTIPOFF, H. A Educação de bem-dotados. Belo Horizonte: Revista do Ensino, 1946.
BINET, A.; SIMON, T. The development of intelligence in children (The Binet-Simon Scale). New York: The Arno Press, 1916.
CUPERTINO, C. M. B. (Org.) Um olhar para as altas habilidades: construindo caminhos. São Paulo: FDE, 2008.
FLEITH, D. S.; ALENCAR, E. M. L. S. (Org.) Desenvolvimento de talentos e altas habilidades: orientação a pais e professores. Porto Alegre: Artmed, 2007.
FREITAS, S. N. (Org.). Educação e Altas Habilidades/Superdotação: a ousadia de rever conceitos e práticas. Santa Maria: Editoraufsm, 2006.
GARDNER, H.; KORNHABER, M. L.; WAKE, W. K. Inteligência: múltiplas perspectivas. Porto Alegre: Artmed, 1998.
WINNER, E. Crianças superdotadas: mitos e realidades. Porto Alegre: Artmed, 2008.
Miguel Cláudio Moriel Chacon
Carlos Eduardo Paulino
Há, entretanto, quase inteiramente descurado dos educadores, um grupo de crianças com grande possibilidade de tomar as rédeas da vida social de amanhã e imprimir-lhe a direção que seria realmente a melhor.
Helena Antipoff (1946)
A começar pela carta da Secretária da Educação do Estado de São Paulo (SEESP), em 2008, notamos que, no livro resenhado, não se faz distinção entre os termos Altas Habilidades e Superdotação (AH/SD), o que não está inteiramente de acordo com a literatura brasileira. A pesquisadora Soraia Napoleão Freitas (UFSM/RS) não aprecia a terminologia superdotação, como discutido em sua obra “Educação e Altas Habilidades/Superdotação: a ousadia de rever conceitos e práticas”, de 2006; já Eunice Soriano de Alencar (UnB/DF e UCB/DF) e Denise de Souza Fleith (UnB/DF), distinguem os dois termos, o que fica claro no livro “Desenvolvimento de Talentos e Altas Habilidades: orientação a pais e professores”, organizado em 2007. A mesma carta chama a atenção para a segregação, evasão escolar e discriminação aos quais são submetidos os alunos AH/SD, bem como para o fato de serem associados somente à competência acadêmica. Christina Cupertino, desde o início da obra, ressalta a terminologia Altas Habilidades e a necessidade de serem implantadas atividades de identificação e acompanhamento educacional, levando-se em consideração a realidade do Estado de São Paulo. Para isso, entende que a capacitação é de suma importância, e que vem sendo oferecida pela SEESP desde 2002, por meio do Centro de Apoio Pedagógico Especializado (CAPE), financiador da obra em questão.
Em seu primeiro capítulo, a autora demonstra indignação quanto à atenção inadequada à categoria de alunos com AH/SD no Brasil, indignação esta que fica clara ao explicitar que a superdotação, na contramão dos demais países do globo terrestre, “(...) é predominantemente ignorada, quando se trata da prática educacional. (...) Num país pleno de carências, não se considera relevante o atendimento diferenciado a quem já foi privilegiado com um dom especial” (CUPERTINO, 2008: 10).
Segue relatando a história de Pessoas com Altas Habilidades (PAH), e, curiosamente, cita os estudos de William Stern (1911), Spearman (1904) e Galton (1869), como pioneiros, aos quais acrescentaríamos as pesquisas de Alfred Binet, a partir de 1916. Aliás, para o conhecimento das Teorias das Inteligências (TIs), recomendamos a leitura do livro Inteligências Múltiplas Perspectivas de Gardner, Kornhaber e Wake (1998). Nesse relato a autora nos revela a descrença em testes de aptidão, a partir de 1960, em função da igualdade de educação para todos, o que gerou conflitos entre as idéias de educação para a igualdade ou para a excelência, tanto que alerta que a Educação Especial para os alunos talentosos, durante muito tempo foi vista como elitista e discriminadora.
Continua definindo e diferenciando superdotação, altas habilidades, talentos, bem como utilizando a legislação para corroborar a idéia da necessidade de uma educação especializada, destinada a esses alunos, alertando para o perigo de se incorrer no erro de confundir conceitos como precoces e prodígios com AH/SD. Discute as diferentes abordagens adotadas por Sternberg (2006), Gardner (1998), Winner (1998) e Renzulli (1986). Analisa os trabalhos de Landau (2002), Pérez (2006) e Guenther (2000), avaliando as assincronias, as inteligências e os problemas dos testes de inteligência. Como exemplos das Múltiplas Inteligências cita variados casos, desde o acadêmico ao naturalista, em diversas partes do mundo. Ainda nos aspectos das características, indiretamente, traz à tona a importância da família, muito a gosto de Ellen Winner (1998), em seu livro “Crianças Superdotadas: mitos e realidades”, e o Desenvolvimento Moral, bastante discutido no livro “Desenvolvimento de Talentos e Altas Habilidades: orientação a pais e professores”, de autoria de Fleith e Alencar (2007).
Na parte prática da obra, avalia riscos, educação diferenciada, aceleração e enriquecimento para os alunos com AH/SD. Sugere a parceria escolas-universidades e relata as dificuldades da implantação de um efetivo programa educacional, por conta da discriminação velada e do desconhecimento acerca das necessidades desses alunos. Não obstante, analisa a legislação brasileira e sugere várias atividades de acompanhamento educacional, uma vez que essa modalidade de aluno também tem necessidades educacionais adicionais.
Finaliza a obra com a reconhecida discussão sobre os limites, que não existem, para os AH/SD. O limite existe para quem desconhece, ou não reconhece, um PAH. Cumpre dizer que nessa importante obra, introdutória ao assunto, as ilustrações foram feitas por alunos que apresentam Altas Habilidades artísticas em diferentes faixas etárias. A obra é de fundamental importância e, para pesquisadores que pretendem iniciar trabalho nesta temática, é parada e leitura obrigatória.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTIPOFF, H. A Educação de bem-dotados. Belo Horizonte: Revista do Ensino, 1946.
BINET, A.; SIMON, T. The development of intelligence in children (The Binet-Simon Scale). New York: The Arno Press, 1916.
CUPERTINO, C. M. B. (Org.) Um olhar para as altas habilidades: construindo caminhos. São Paulo: FDE, 2008.
FLEITH, D. S.; ALENCAR, E. M. L. S. (Org.) Desenvolvimento de talentos e altas habilidades: orientação a pais e professores. Porto Alegre: Artmed, 2007.
FREITAS, S. N. (Org.). Educação e Altas Habilidades/Superdotação: a ousadia de rever conceitos e práticas. Santa Maria: Editoraufsm, 2006.
GARDNER, H.; KORNHABER, M. L.; WAKE, W. K. Inteligência: múltiplas perspectivas. Porto Alegre: Artmed, 1998.
WINNER, E. Crianças superdotadas: mitos e realidades. Porto Alegre: Artmed, 2008.
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