Parte 2
Talentosos e disléxicos...
Alunos que a Escola Rejeita...
Alunos que a Escola Rejeita...
Zenita C. Guenther , Ph.D.
Como são as crianças disléxicas na escola ?
De inicio, não trazem ao ambiente escolar qualquer
“aviso” sinalizando dificuldade de aprender. Na fase da educação infantil elas aprendem tudo o que se
lhes ensina, vivem com alegria e intensidade as experiências de sala de aula, e
desempenham as atividades costumeiras com bons resultados, principalmente em
artes, comunicação expressiva, desenhos, construções. Ao começar a primeira série, com marcada ênfase no ensino da
leitura e escrita, notoriamente alardeada como “trabalho sério”, essas crianças
já não conseguem aprender tão bem, e começam a dar sinais mais ou menos
preocupantes. Pelo segundo ano as
dificuldades são claras, elas não sentem prazer em ir à escola, o que vai se
agravando nas séries seqüentes: expressam queixas sobre “não ser inteligente”, não
ter “cabeça” para aprender... não “conseguir” fazer o que a professora manda.
Ora, essa é uma novidade para
os pais e professores, que seguros da facilidade que a criança mostra em
aprender outras coisas, fora da sala de aula, acham que ela não se esforça, que
precisa estudar e dedicar mais tempo ao trabalho escolar... Na maioria dos casos isso não resolve... as
dificuldades em aprender não são vencidas, esses alunos passam pela fase de
escolaridade aos trancos, com muitas e variadas experiências de fracasso, a ponto de chegarem a excluir
a escola da sua vida... E quando se recuperam
da sensação de fracasso, a vida lá fora é fértil de aventuras, de
realizações... de sucesso !
Em todas as áreas de atividade humana há pessoas que
na infância foram marcadas por problemas de dislexia, cognominadas
genericamente dificuldades de aprendizagem:
entre inventores e cientistas, (Albert Einstein, Thomas Edison, Graham Bell,
Temple Grandin); artistas plásticos, (da Vinci, Walt Disney); estrategistas,
(Winston Churchill, Woodrow Wilson); artistas cênicos (Cher, Tom Cruise, Danny
Glover); atletas (Greg Louganis; Bruce
Jenner; Jackie Stewart)... E tantos outros,
sem dúvida reconhecidos por seu talento!
Presença
de Talento
Já sabemos que à base de um talento constatado
existe inegavelmente um nível elevado de capacidade natural, (Gagné, 2005),
acima da média da população. Capacidade indica essencialmente “poder de
aprender”, ou seja de utilizar configurações neuro-físico-mentais
anteriormente formadas, para visualizar perspectivas de ação na situação
presente (Combs, 1977; Guenther, 2009). Gagné (2008) define Dotação como
um construto que designa posse e uso de notável capacidade natural, ao passo que Talento se refere a desempenho superior, mestria, conhecimento,
habilidades desenvolvidas, implicando alto nível de realização em alguma
área. Assim
considerado, essa questão torna-se de fato relevante, e não mais um sinal: se essas pessoas desenvolveram um
talento ao nível de desempenho superior em alguma área, é porque possuem em sua
constituição alta Capacidade natural, ou
seja, alto poder de aprender... Então porque não aprendiam bem na escola
como aprendem depois, na vida ?
Os estudos sobre pensamento
não linear, capacidade intelectual
espacial, e pensamento visual
apontam em uma direção plausível : uma organização mental diferenciada. Enquanto a cultura ocidental,
com suas instituições, orientação e preferências privilegia o modo de pensar
linear, seqüencial, temporal, essas mentes
desenvolvem processos cognitivos apoiados em uma forma de pensar
qualitativamente diferente, não linear, visual, espacial. Esse tipo de pensamento sem linearidade lida com as
informações pela situação e colocação no espaço, em configurações gerais, e não
por palavras alinhadas seqüencialmente; utiliza mais o hemisfério direito do cérebro,
(imaginativo, holístico), que o esquerdo, (racional, linear), orienta-se menos
pela dimensão de “tempo”, que é linear, e mais pela de “espaço”, que é
holística.
No dizer de Albert Einstein, pensador visual
reprovado no segundo ano do ensino básico, precisamente em
"Linguagem": “Raramente penso em palavras, o pensamento vem e
posso tratar de expressá-lo em palavras depois...”. Também Temple Grandin, recentemente sinalizada como uma das
personagens notáveis em 2009, Ph.D em Animal Science, diagnosticada
autista na infância, e considerada pela escola com “pouca capacidade para
aprender” explica: “Penso
não com palavras, mas com imagens, criando um processo intelectual não com
frases, mas com figuras, com representação, como se a mente montasse um
cineminha da realidade” (Grandin apud Hallahan, 2006, p. 396). Esses dois exemplos são ambos pessoas excepcionalmente dotadas, e
que apesar da resistência a pouca ajuda da escola, conseguiram desenvolver
notáveis talentos.
Reiterando, dotação, designa posse e uso de elevada capacidade
natural, em pelo menos um domínio de capacidade humana, em uma
analogia ao dote (em inglês gift):
dote é o presente dado aos noivos para o casamento, a dotação representa
um dom dado ao individuo para a vida. Talento designa desempenho
superior, mestria, conhecimento aprendido, habilidades sistematicamente
desenvolvidas... Implica em alto nível de realização em alguma área de
atividade humana (Gagné, 2008).
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