quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Do êxito ao tédio






Por Carolina Costa



Despreparo dos professores e falta de recursos para o desenvolvimento infantil fazem escola brasileira desperdiçar talentos.




Princípio II — Toda criança tem direito à especial proteção para o seu desenvolvimento físico, mental e social.
Declaração dos Direitos da Criança. Gabinete de Documentação e Direito Comparado.



Sophie* é uma variante francesa do grego Sofia, que significa sábia. E era com uma eloquência incomum a uma criança recém-saída das fraldas que a garotinha explicava a origem de sua precoce inteligência. “Meu nome quer dizer sabedoria.” Aos três anos, Sophie já sabia ler. Aos cinco, era capaz de resolver problemas matemáticos envolvendo várias operações. Um curto caminho rumo ao sucesso estaria garantido ao prodígio mirim se não fosse um entrave: a falta de preparo de seus professores.



Quando completou 14 anos, Sophie passou a não poder mais ouvir falar em superdotação. De melhor aluna, sem muito esforço, ela virou uma criança rebelde, que trata a escola com descaso. Não entrega os trabalhos nem faz as provas. O boletim, que antes vinha repleto de nota 10, agora vem recheado de 7. Enquanto não consegue lidar com os entraves burocráticos que impedem um estudante de pular séries, a mãe de Sophie só torce para que os três anos do Ensino Médio acabem o mais rápido possível.



Talento desperdiçado — A situação das crianças superdotadas é uma boa forma de avaliar o despreparo do Brasil em oferecer recursos para o pleno desenvolvimento infantil. Segundo as estimativas mais conservadoras, entre 3% e 5% da população apresentam algum tipo de inteligência acima da média. Sophie é um exemplo drástico do quanto a Educação brasileira perde com a incapacidade em reconhecer, acolher e estimular talentos.


Os professores não sabem que têm superdotados em sala de aula”, alerta Susana Graciela Pérez Barrera, presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação. Ao começar suas palestras, ela costuma perguntar: “Vocês conhecem alguém com altas habilidades?” Silêncio na plateia. Duas horas depois, um dos espectadores sempre a aborda, dizendo que talvez tenha, sim, um aluno com esse perfil.



A arte de inspirar — Se aos superdotados só resta contar os anos até que a entediante Educação Básica acabe, o que dizer das crianças normais? “Há professores que entram em sala expirando profundamente. Quem expira antes de dar aula não pode inspirar nenhum aluno”, comenta o educador Mario Sergio Cortella.



Professor-titular do departamento de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Cortella ensina quem vai ensinar. Ele observa que os professores vivem comentando que os estudantes já não são mais os mesmos. Para Cortella, quem diz algo assim demonstra “sanidade”. “Insano é pensar que os alunos não são mais os mesmos e continuar dando aulas igual a 50 anos atrás.”


*Sobrenome excluído a pedido da família.

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