Por Carolina Costa
Despreparo dos
professores e falta de recursos para o desenvolvimento infantil fazem escola
brasileira desperdiçar talentos.
Princípio II — Toda
criança tem direito à especial proteção para o seu desenvolvimento físico,
mental e social.
Sophie* é uma
variante francesa do grego Sofia, que significa sábia. E era com
uma eloquência incomum a uma criança recém-saída das fraldas que a garotinha
explicava a origem de sua precoce inteligência. “Meu nome quer dizer
sabedoria.” Aos três anos, Sophie já sabia ler. Aos cinco, era capaz de
resolver problemas matemáticos envolvendo várias operações. Um curto caminho
rumo ao sucesso estaria garantido ao prodígio mirim se não fosse um entrave: a
falta de preparo de seus professores.
Quando completou 14
anos, Sophie passou a não poder mais ouvir falar em superdotação. De melhor
aluna, sem muito esforço, ela virou uma criança rebelde, que trata a escola com
descaso. Não entrega os trabalhos nem faz as provas. O boletim, que antes vinha
repleto de nota 10, agora vem recheado de 7. Enquanto não consegue lidar com os
entraves burocráticos que impedem um estudante de pular séries, a mãe de Sophie
só torce para que os três anos do Ensino Médio acabem o mais rápido possível.
Talento desperdiçado — A situação das
crianças superdotadas é uma boa forma de avaliar o despreparo do Brasil em
oferecer recursos para o pleno desenvolvimento infantil. Segundo as estimativas
mais conservadoras, entre 3% e 5% da população apresentam algum tipo de
inteligência acima da média. Sophie é um exemplo drástico do quanto a Educação
brasileira perde com a incapacidade em reconhecer, acolher e estimular
talentos.
“Os professores
não sabem que têm superdotados em sala de aula”, alerta Susana Graciela
Pérez Barrera, presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação. Ao começar
suas palestras, ela costuma perguntar: “Vocês conhecem alguém com altas
habilidades?” Silêncio na plateia. Duas horas depois, um dos espectadores
sempre a aborda, dizendo que talvez tenha, sim, um aluno com esse perfil.
A arte de inspirar —
Se aos superdotados só resta contar os anos até que a entediante Educação
Básica acabe, o que dizer das crianças normais? “Há professores que entram em
sala expirando profundamente. Quem expira antes de dar aula não pode inspirar
nenhum aluno”, comenta o educador Mario Sergio Cortella.
Professor-titular do
departamento de pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
Cortella ensina quem vai ensinar. Ele observa que os professores vivem
comentando que os estudantes já não são mais os mesmos. Para Cortella, quem diz
algo assim demonstra “sanidade”. “Insano é pensar que os alunos não são mais os
mesmos e continuar dando aulas igual a 50 anos atrás.”
*Sobrenome
excluído a pedido da família.
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Conselho Brasileiro para Superdotação (ConBraSD)
Porto Alegre (RS)
Porto Alegre (RS)
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