Extraído do site : https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/04/jovem-que-passou-na-faculdade-aos-14-ganha-direito-de-continuar-estudos.shtml
Enzo Grechi de Carli, aprovado com 14 anos para a faculdade
Liminar que garantiu
matrícula de Enzo Grechi em curso de automação industrial poderia ser cassada
Júlia Zaremba
SÃO PAULO
O estudante Enzo Grechi
ganhou notoriedade em julho do ano passado ao ser aprovado, aos 14 anos, no
curso de automação industrial da Fatec (Faculdade de Tecnologia) de Tatuí,
cidade a cerca de 140 km de São Paulo.
Desde então, vinha
cursando o ensino superior, sem deixar de lado a escola, graças a uma liminar
concedida pela Justiça que garantiu a sua matrícula —a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação estabelece que é preciso ter concluído o ensino médio para
ingressar na universidade.
Após mais de seis meses de
incertezas quanto ao futuro, saiu nesta quarta (27) a decisão que o jovem e a
família esperavam: a Justiça autorizou que a matrícula seja definitiva e o
garoto continue os estudos.
O laudo de uma psicóloga
atestando a maturidade de Enzo, considerado superdotado, foi determinante para
a decisão.
Enzo Grechi de Carli,
aprovado com 14 anos para a faculdade
Concluiu-se que a
faculdade tem estimulado o potencial criativo do rapaz e que preenche “lacunas
educacionais existentes no ensino regular para adolescentes com altas
habilidades”. O estudante também passou por avaliação neuropsicológica e
neuropediátrica.
“Estou muito feliz. Não
achei que seria possível”, diz Enzo. “Acho que uma pessoa deve entrar na
faculdade quando sentir que tem capacidade.”
Ele decidiu prestar
vestibular apenas para testar as habilidades. Quando viu que havia sido
aprovado em 14° lugar, animou-se para iniciar o curso.
A rotina do rapaz mudou
bastante nos últimos meses. Fica na escola das 7h às 13h e na faculdade das 14h
às 17h30. Apesar disso, diz que não se sente sobrecarregado e não tem tido
dificuldades para aprender os conteúdos na faculdade. “Só preciso me esforçar
para conciliar os dois”, diz.
A mãe do garoto, Fabiana
Grechi, diz que nada foi imposto ao filho e que a prioridade sempre foi o
bem-estar emocional dele. “Todo o processo foi orientado e acompanhado por
profissionais especializados”, diz.
Enzo diz que pretende
fazer outra graduação e um mestrado depois de concluir o curso de automação
industrial. Está na dúvida se estuda biologia, biomedicina e química. “Quero
descobrir um jeito de melhorar a convivência em sociedade”, afirma.
O jovem foi o cliente mais
novo da advogada Claudia Hakim, especializada em superdotação, aprovado no
vestibular.
“Começar a faculdade antes
da hora é uma decisão pessoal, não deve ser regra para todos os superdotados. O
jovem tem que se mostrar motivado para estudar e ter maturidade”, diz. “Meus
dois filhos [que têm habilidades especiais] tomaram essa decisão e foi a melhor
coisa que fizeram. Foi muito natural e motivador.”
Segundo ela, é mais comum
que os estudantes optem pela aceleração do ensino médio, em vez de conciliar
faculdade e escola. “Ele pode até fazer um supletivo mais para a frente, mas,
por enquanto, está bem”, diz.
Cerca de 16 mil estudantes
têm superdotação em todo o país, segundo o Censo Escolar de 2016. O Ministério
da Educação anunciou em 2017 que iria criar um cadastro nacional para alunos com habilidades
especiais. O projeto, contudo, ainda não foi implementado
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