Extraído do site : http://www.alfaebeto.org.br/wp-content/uploads/2016/04/Refer%C3%AAncias-Bibliogr%C3%A1ficas-Cap%C3%ADtulo-7.pdf
Por: João Batista Araujo e Oliveira, presidente do Instituto
Alfa e Beto
A inteligência refere-se a uma característica estável das
pessoas e tem forte base genética.
Portanto, suas alterações são poucas ao
longo da vida. Essa capacidade varia
para cima, mas também pode variar para baixo. Portanto, as variações de sua
medida, o QI, também são poucas. Mas elas existem, podem ser importantes e
ocorrem tanto em indivíduos quanto no coletivo – o QI dos países também pode aumentar, uma vez que é o
agregado dos QIs individuais.
Dada a
associação entre um QI mais elevado e resultados considerados positivos para o
indivíduo e a sociedade, a maioria dos estudiosos do tema consideram que,
embora pequenas, essas mudanças e diferenças devem ser conhecidas e maximizadas
por meio de intervenções comprovadamente eficazes.
Já para os
críticos isso é apontado como um dilema: se a medida muda, não é confiável; se
não é confiável, não serve. É mais ou menos como dizer que o termômetro é
inútil porque a temperatura registrada no termômetro varia conforme a febre, e
o mercúrio no termômetro, por sua vez, varia conforme a altitude. Nada disso invalida a precisão desta medida. E se o QI fosse imutável, seu uso seria inaceitável, pois apenas
criaria mais estigmas. É como querer impedir que as pessoas nasçam
ou deixem de nascer com uma determinada cor ou característica étnica porque tal
cor ou característica é estigmatizada.
Voltemos à
correnteza principal. O QI é aferido por meio de testes –
o mais conhecido é o Teste de Matrizes Progressivas
de Raven[i],
mas há vários outros. Esses testes produzem índices um pouco diferentes uns dos
outros, mas os bons testes são altamente correlacionados entre si e os
resultados dos indivíduos ao longo da vida são muito estáveis.
Mas a
palavra “estáveis” não significa estanque, nem imutável. O QI pode mudar. Para cima e para baixo. E pequenas
mudanças de 3 a 4 pontos tanto podem refletir flutuações de medida como
efetivas mudanças na capacidade. Pequenas diferenças fazem
muita diferença.
Há
duas fases de maior instabilidade do QI – nos anos iniciais e nos anos finais
da vida.
Nos anos finais, há um declínio comprovado, fortemente
associado ao declínio da memória e velocidade de processamento. Pessoas com
maior QI têm uma perda um pouco mais acentuada, podendo chegar a cerca de 6
pontos (40% de um desvio padrão). Isso é inevitável – mas as diferenças
individuais são grandes10 .
Nos anos iniciais, quando as medições flutuam mais,
inclusive pelas maiores dificuldades de mensuração, o QI pode ser fortemente
influenciado pelo que acontece no ambiente intrauterino e depois do nascimento.
Os casos
mais drásticos e conhecidos são os de adoção: crianças nascidas em ambientes
socioeconômicos mais desfavorecidos, onde também há maior concentração de QIs mais
baixos em qualquer país, costumam ter avanços de 12 pontos ou mais quando
adotadas nos primeiros anos de vida por famílias pertencentes a grupos mais
favorecidos do ponto de vista socioeconômico11. O mesmo ocorre
– mas com menor impacto – com algumas intervenções educacionais.
Há
três aspectos importantes a aprender dessas evidências:
·
Primeiro, avanços
reais no QI, mesmo que sejam de 1 ponto, são significativos. Um ponto e meio significa 10% de ganho em um
desvio padrão – isso pode ser muito significativo. Pode não levar uma criança
de menor QI a uma boa universidade, mas pode tirá-la da zona de risco ou
assegurar que ela conclua o ensino médio. Um aumento de 6 pontos equivale a 40%
do desvio padrão, um aumento significativo em qualquer ponto da escala.
·
Segundo, os ganhos
em QI podem ser comprovados, mas também
há perdas, e muitos dos ganhos comprovados são revertidos. Por exemplo,
há intervenções educacionais que comprovadamente
aumentam o QI dos participantes, mas alguns desses aumentos se mantêm com o
tempo, outros desaparecem. No entanto, mesmo quando os efeitos desaparecem, os
ganhos podem ser muito significativos, pois permitiram ao indivíduo avançar em
diversas dimensões, e o que foi conquistado não se perde12.
· Terceiro, a
chamada Primeira Infância constitui uma janela
de oportunidades em
diversos aspectos – inclusive para a inteligência.
Para
conferir as referências bibliográficas deste
texto, clique neste link aqui: http://www.alfaebeto.org.br/blog/o-qi-e-fixo-ou-pode-mudar/
[i] Eu
já penso que o teste que melhor mede o QI no Brasil é o WISC IV para crianças
maiores de 06 anos e o WAIS para adultos, acima de 17 anos.
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