PARTE 9
GUENTHER, Z. (2009) Aceleração, ritmo de produção
e trajetória escolar - desenvolvendo o talento acadêmico, Rev.
Educação Especial, vol 22, 35, p.281-298
Zenita C Guenther, Ph.D
4. Implementação e procedimentos
O passo mais difícil ao se contemplar aceleração, como
medida geral, em um sistema de educação, consiste menos em estabelecer uma
política defensável, com base em conhecimento científico, adequada às
necessidades locais, e mais em provocar mudança de atitude e revisão de crenças
sedimentadas, nos vários grupos e níveis de decisão.
A começar pelos órgãos normativos e deliberativos, é
importante que as pessoas que conduzem a política da educação tenham convicção
de que essa medida vai trazer um bom encaminhamento para a melhoria do projeto
educacional maior, mesmo que na prática atinja apenas uma minoria de alunos.
Educadores, em todos os níveis, precisam sentir-se envolvidos, de maneira
positiva, desde as primeiras discussões e decisões, pois qualquer tentativa de
modificação em procedimentos tradicionais, firmados como comportamento comum,
somente tem sucesso quando lança raízes no contexto da vivência escolar no dia
a dia, tanto para alunos, como professores e administradores. Famílias,
comunidade, imprensa, a população, enfim, todos certamente vão procurar saber,
e precisam ser informados com precisão, concisão e o grau de profundidade que
for aconselhável.
Temas relativos, por exemplo, a oportunidades
curriculares, crenças populares e noções errôneas sobre dotação e talento, e
até alguns pressupostos institucionais entranhados na burocracia do sistema e
das escolas, encontram nesse momento uma oportunidade para serem arejados,
discutidos, aperfeiçoados e modificados, no cenário geral. Estratégias de
planejamento conjunto, que envolvem os responsáveis por traçar políticas
públicas, profissionais da educação nas várias áreas, escolas, famílias, mesmo
alunos, precisam ser discutidas e esclarecidas, principalmente quanto a opções
de aceleração abertas a diferentes situações, delineadas em termos de
princípios, condições, e orientação.
Esclarecimento e discussão acerca de detalhes técnicos da
aceleração, tais como asdimensões de ritmo, visibilidade, grupo de
pares, acesso, e tempo, devem ser compartilhados por todos
os profissionais da educação, pois pode marcar um inicio na mudança de atitude,
uma vez que respondem a muitas perguntas, algumas ainda não formuladas por pais
e educadores:
Ritmo – o caminhar mais rápido ou mais lento do ensino
define o grau de aceleração do conteúdo, e é nessa dimensão que se diferencia,
na prática, um tipo de aceleração de outro. Alguns tipos de aceleração não
representam qualquer interferência no trabalho escolar, por exemplo, crédito
aferido por provas e exames. Na verdade algumas práticas expressam formas
administrativas de se reconhecer aprendizagem que o aluno realizou sozinho,
fora do espaço e tempo escolar. Outras, como compactação de currículo tem
influência direta no ritmo de ensino e instrução recebida pelo aluno.
Visibilidade – as opções de
aceleração variam pelo grau em que são visíveis no ambiente escolar,
principalmente pelos pares etários, e a aceitação maior ou menor dessas opções
pode depender da visibilidade que conseguirem alcançar. É a visibilidade da
aceleração que geralmente levanta preocupação sobre os riscos corridos pelos
alunos acelerados, ou impedidos de acelerar. Nessa dimensão, práticas tais como
a entrada antecipada aos níveis adiantados, e saltar séries ou parte de séries
são as mais salientes, ao passo que um curso feito fora da escola pode não
chamar muita atenção.
Grupo de pares – o grau em que a
aceleração resulta em separação dos pares etários é o aspecto mais questionado,
e que maior preocupação traz aos pais, educadores e algumas vezes aos próprios
alunos. Há pouca evidência empírica para apoiar a noção de que a separação do
aluno dotado de sua turma de colegas de sala de aula, pode ser associada a
dificuldades emocionais ou profissionais na vida escolar e adulta, mas a
preocupação persiste, mais em termos de “crenças” e “atitudes” que fatos
concretos e conhecimento cientifico.
Acesso– a variedade de
ofertas e opções para vários tipos de aceleração, que estejam disponíveis e
accessíveis aos alunos, nas diferentes comunidades e meios é enorme, e o tema
deve ser considerado em termos do sistema educacional.
Tempo – a idade em que se
permite acelerar pode trazer complicações adicionais. Saltar a 2ª. série
fundamental pode ter conseqüências diferentes de uma entrada mais cedo na
universidade. Intuitivamente pode-se suspeitar que a aceleração mais
cedo na vida poderia acarretar uma mudança maior, mas com maior maleabilidade
interna para o ajustamento da criança.Alguns estudos
aconselham que mudanças drásticas sejam feitas aproveitando pausas e
interrupções previstas no processo regular, como no final e inicio de ano
letivo, ou de recessos e férias. Outra boa opção é saltar o
último ano de um nível, como na passagem da 4ª. para a 5ª. série, saltar a 4a,
ou de 8ª. série fundamental para 1º. ano médio ir diretamente da 7ª. série.
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