"Negociar" o bom
comportamento dos filhos em troca de algo é prejudicial, alerta psicólogo
Por MADSON MORAES
A cena é conhecida dos pais: no supermercado, a
criança quer porque quer aquele produto e o escândalo é sua arma para conseguir
seu objetivo. Os pais, envergonhados, prometem algo em troca daquela
considerada inocente "negociação". Mas o cenário pode piorar: o
próximo escândalo dos filhos acontece na frente de outras pessoas e, dessa
forma, os pais mais uma vez "negociam" mundo e fundos diante de
outra "chantagem". E aí o ciclo de chantagem entre pais e
filhos continua.
Como lidar, então, com um filho que utiliza
dessas artimanhas para conseguir o que quer?
Os pais, de acordo com psicólogos, não devem ficar
reféns desse recurso, pois poderão criar uma relação sem bons resultados no
futuro embora, de imediato, funcione. A psicopedagoga e vice-presidente da
Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), Luciana Barros de Almeida,
lembra que ceder sempre à "chantagem" dos filhos, em troca de alguma
coisa, é prejudicial. Quem deve saber a hora de atender ou não a solicitação da
criança são os pais e não inverso.
"Dar limites é um ato de amor e proteção porque
cria anteparos para a tolerância e ajuda a lidar com frustrações e sentimentos
que são enfrentados por toda pessoa. Quanto mais adiar essa experiência, mais
difícil será enfrentar. O "não" estabelece o limite, mas não pode ser
dito em demasia. O mesmo vale para o "sim", pois estabelece
liberdade. E, se falado em excesso, fica abusivo", observa Luciana Barros.
Além disso, é importante que os pais saibam a
diferença entre negociação e chantagem, como observa a psicóloga e diretora do
Colégio Global, Eliana de Barros Santos. Ela explica que na negociação há um
crescimento, uma evolução na relação e ambas as partes ganham. Bem diferente da
chantagem, que pressupõe o prejuízo de uma das partes em prol do benefício para
a outra parte. Sendo assim, essa 'tática' não deve ser considerada na
educação.
"Quando a criança ou o adolescente apresenta esse
tipo de comportamento, ele deve ser orientado a não repeti-lo e os pais
não podem ceder, caso contrário vão reforçar esse comportamento. Em relação à
educação das crianças, haja o que houver, os pais precisam dizer à criança que
eles controlam o que pode e o que não pode. Além de mostrar que estão atentos,
mantendo a calma e o tom de voz sereno e firme. Assim demonstram
tranquilidade e segurança, o que favorece um desenvolvimento saudável e
equilibrado', opina a psicóloga, Eliana.
Quando a criança começar a dizer, por exemplo,
"Eu não gosto mais de você", "Todos os meus amigos têm, só eu
não tenho", os pais devem ficar atentos porque a criança começa a usar
esse tipo de comportamento para pedir tudo o que quer. "Pais que trabalham
fora ou são separados, geralmente, se culpam pela situação e tornam-se alvo
fácil de serem capturados pela criança. Isso porque eles são pequenos,
mas têm perspicácia para perceber as atitudes dos adultos", aconselha
Luciana.
A psicóloga Eliana de Barros, lembra que, muitas vezes
são os próprios pais que incentivam essa troca nada benéfica com os filhos.
'Criança vê, criança faz! Cabe aos pais o cuidado de não utilizar a chantagem
como forma de obter vantagens. Os filhos repetem o comportamento observado
nos pais. Então, se você for um bom negociador, não terá dificuldades para
lidar com a chantagem', adverte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário