ERICH DECAT
FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA
Uma pequena mudança no texto da regulamentação da lei de
cotas poderá flexibilizar a divisão das vagas reservadas para pretos, pardos e
indígenas nas universidades federais do todo o país.
Segundo minuta do decreto entregue pelo Ministério da
Educação à presidente Dilma Rousseff, as cotas serão distribuídas considerando
o universo total das três raças, em vez de considerar o peso individual de cada
uma delas na população de cada Estado de acordo com dados do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística).
Na prática, isso significa que uma universidade poderá
preencher integralmente a cota destinada às três raças com uma única etnia.
Na versão original da lei, a interpretação era de que a
universidade seria obrigada a atender os percentuais mínimos de cada etnia.
Assim, corria-se o risco de, numa situação extrema, não
haver candidatos suficientes para atender o critério.
O texto, obtido pela Folha, está na Casa
Civil e ainda pode sofrer modificações.
50% DAS VAGAS
Sancionada há dois meses, a lei de cotas determina que
todas as 59 universidades federais do país reservem 50% das vagas para alunos
que cursaram o ensino médio integralmente na rede pública.
Metade desses estudantes será selecionada considerando
exclusivamente o critério da raça.
O restante ainda terá que comprovar a baixa renda da
família (1,5 salário mínimo per capita, o que equivale, hoje, a R$ 933 por
pessoa).
A mudança foi proposta de uma forma sutil: o texto da
regulamentação propõe que as universidades federais considerem a divisão entre
as raças na proporção da "soma de pretos, pardos e indígenas" numa
determinada unidade da federação.
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Na lei sancionada, não se fala em "soma" de
raças.
O texto sugerido pelo Ministério da Educação afirma ainda
que os resultados no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) "poderão ser
utilizados como critério de seleção". A prova é adotada como critério de
ingresso na maioria das universidades federais do país.
O formato para seleção estava em aberto, já que a
presidente Dilma vetou artigo da lei que previa o uso das notas no ensino
médio.
O Ministério da Educação sugeriu ainda a criação de um
comitê para acompanhar e avaliar a aplicação nas universidades das novas
regras.
A lei prevê que a política de cotas raciais e sociais
será revista em dez anos.
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