Extraído do site : http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/transtorno-deficit-atencao-com-sem-hiperatividade-tdah-546797.shtml
Antes de sugerir
que um aluno tem hiperatividade, veja se é sua aula que não anda prendendo a
atenção. Cinco pontos essenciais sobre esse transtorno
À primeira vista, a
estatística soa alarmante: de 3 a 6% das crianças em idade escolar sofrem com o
Transtorno de Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade (o nome oficial do
TDAH), que muita gente conhece somente como hiperatividade. Quer dizer então que,
numa classe de 30 alunos, sempre haverá um ou dois que precisam de remédio?
Não. Na maioria das vezes, o acompanhamento psicológico é suficiente. E, se o problema
for bagunça ou desatenção, vale analisar se a causa não está na forma como você
organiza a aula. "Geralmente, a inquietação costuma estar
mais relacionada com a dinâmica da escola do que com o transtorno", diz
Mauro Muszkat, especialista em Neuropsicologia Infantil da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Quando o caso é mesmo de TDAH,
são três os sintomas principais : agitação, dificuldade de atenção
e impulsividade - que devem estar presentes em pelo menos dois ambientes
que a criança frequenta. Por tudo isso, nunca é demais lembrar que o
diagnóstico precisa de respaldo médico. Veja cinco pontos essenciais sobre
o transtorno.
1. Agitação não é hiperatividade
Há dias em que alguns alunos parecem estar a mil por hora e nada prende a
atenção deles. Isso não significa que sejam hiperativos. O problema pode
ter raízes na própria aula - atividades que exijam
concentração muito superior à da faixa etária, propostas abaixo (ou muito
acima) do nível cognitivo da turma e ambientes desorganizados e que favoreçam a
dispersão, por exemplo. Em outras ocasiões, as causas são emocionais. "Questões
como a morte de um familiar e a separação dos pais podem prejudicar a produção
escolar", diz José Salomão Schwartzman, neurologista especialista em
Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São
Paulo. Nesses casos, os sintomas geralmente são transitórios. Quando ocorre
o TDAH, eles se mantêm e são tão exacerbados que prejudicam a relação com os
colegas. Muitas vezes, o aluno fica isolado e, mesmo hiperativo, não conversa.
2.
Só o médico dá o diagnóstico
Um levantamento realizado recentemente pela Unifesp aponta que 36% dos
encaminhamentos por TDAH recebidos no setor de atendimento neuropsicológico
infantil da instituição são originados da escola por meio de cartas solicitando
aos pais que procurem tratamento para o filho. "Em muitos casos, o
transtorno não se confirma", afirma Muszkat. A investigação
para o diagnóstico costuma ser bem detalhada. Hábitos, traços pessoais e
histórico médico são esquadrinhados para excluir a possibilidade de outros
problemas e verificar se os aspectos que marcam o transtorno estão mesmo
presentes. Como ocorre com a maioria dos problemas psicológicos (depressão,
ansiedade e síndrome do pânico, por exemplo), não há exames físicos que o
problema. Por isso, o TDAH é definido por uma lista de sintomas. Ao todo
são 21 - nove referentes à desatenção, outros nove à hiperatividade e mais
outros três à impulsividade.
3.
Nem todos precisam de remédio
Entre os anos de 2004 e 2008, a venda de medicamentos indicados para o
tratamento cresceu 80%, chegando a cerca de 1,2 milhão de receitas, segundo
dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Diversos
especialistas criticam essa elevação, apontando-a como um dos sinais da chamada
"medicalização da Educação" - a ideia de tratar com remédios todo
tipo de problema de sala de aula. "Muitas vezes, o transtorno não é tão
prejudicial e iniciativas como alterações na rotina da própria escola, para
acolher melhor o comportamento do aluno, podem trazer resultados
satisfatórios", explica Schwartzwman. Quando a medicação é necessária, os
estimulantes à base de metilfenidato são os mais prescritos pelos médicos. Ao
elevar o nível de alerta do sistema nervoso central, ele auxilia na
concentração e no controle da impulsividade. O medicamento não cura, mas ajuda
a controlar os sintomas - o que se espera é que, juntamente com o
acompanhamento psicológico, as dificuldades se reduzam e deixem de atrapalhar a
qualidade de vida. Vale lembrar que o remédio é vendido somente com receita e,
como outros medicamentos, pode causar efeitos colaterais. Cabe ao médico
avaliá-los.
4.
O diálogo com a família é essencial
Em alguns casos, os professores conseguem participar das reuniões com os pais e
o médico. Quando isso não é possível, conversas com a família e relatórios
periódicos enviados para o profissional da saúde são indicados para facilitar a
comunicação. É importante lembrar ainda que não é por causa do transtorno que
professores e pais devem pegar leve com a criança e deixar de estabelecer
limites - a maioria das dificuldades gira em torno da competência cognitiva, da
falta de organização e da apreensão de informações, e não da relação com a
obediência. Durante os momentos de maior tensão, quando o estudante está
hiperativo, manter o tom de voz num nível normal e tentar estabelecer um
diálogo é a melhor alternativa. "Se o adulto grita com a criança,
ambos acabam se exaltando rápido e, em vez de compreender as regras, ela pode
pensar que está sendo rejeitada ou mal compreendida", diz Muszkat.
5.
O professor pode ajudar (e muito)
Adaptar
algumas tarefas ajuda a amenizar os efeitos mais prejudiciais do transtorno.
Evitar salas com muitos estímulos é a primeira providência. Deixar alunos com
TDAH próximos a janelas pode prejudicá-los, uma vez que o movimento da rua ou
do pátio é um fator de distração. Outra dica é o trabalho em pequenos grupos,
que favorece a concentração. Já a energia típica dessa
condição pode ser canalizada para funções práticas na sala, como distribuir e
organizar o material das atividades. Também é importante
reconhecer os momentos de exaustão considerando a duração das tarefas. Propor
intervalos em leituras longas ou sugerir uma pausa para tomar água após uma
sequência de exercícios, por exemplo, é um caminho para o aluno retomar o
trabalho quando estiver mais focado. De resto, vale
sempre avaliar se as atividades propostas são desafiadoras e se a rotina não
está repetitiva. Esta, aliás, é uma reflexão importante para motivar
não apenas os estudantes com TDAH, mas toda a turma.
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