GUENTHER, Z. (2009) Aceleração, ritmo de produção e trajetória escolar- desenvolvendo o
talento acadêmico, Rev. Educação Especial, vol 22, 35, p.281-298
Aceleração,
ritmo de produção e trajetória escolar:
Desenvolvendo
o talento acadêmico
Zenita C Guenther, Ph.D
Dividi o texto que a Dra. Zenita me enviou sobre
a aceleração de série, para postar no meu blog e no meu grupo do facebook, Mãe
de Crianças Superdotadas em 13 partes. Esta é a PARTE 1
do referido texto.
“Aceleração é um dos fenômenos mais curiosos
no campo da educação.
Não consigo pensar em outra questão onde haja
tal separação entre o que a pesquisa tem revelado e o que os educadores na
prática acreditam.
A pesquisa em aceleração é tão uniformemente
positiva, os benefícios de aceleração feita apropriadamente tão inequívocos,
que é difícil compreender como um educador pode fazer oposição a essa medida”. (James H. Borland, Professor, Teachers College,
Columbia University)
Estudos sobre aceleração
têm despertado considerável interesse nas últimas décadas, devido ao
crescimento da educação especial para estudantes dotados e talentosos. Há um ponto de
convergência entre esses estudos : virtualmente todos indicam não haver
problemas de qualquer natureza com os alunos acelerados, nos diferentes níveis
escolares, tanto durante a vida escolar, como mais tarde, na vida adulta.
-
Posição da Legislação Brasileira
Estritamente
falando, a Aceleração para os alunos intelectualmente dotados é direito
previsto pela LBDEN - 9394/96, explicitado, no Capitulo V, Da Educação
Especial, Artigo 59 ...os sistemas de ensino assegurarão aos
educandos com necessidades especiais:
... ... II - terminalidade ... e aceleração para
concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados.(sic). Como
medida de organização escolar é permitido acelerar qualquer aluno, por aplicação
dos artigos 23, Par. 1º. e 24 – II – c, Das Disposições Gerais, Capítulo II –
Da Educação Básica.
O
problema entre nós parece haver se instalado quando a “aceleração” foi aconselhada
para resolver a situação de alunos defasados e repetentes, pela equiparação da idade
cronológica com a série escolar, criando as chamadas “turmas de aceleração”, com
uma base conceitual diametralmente oposta. A Aceleração,
termo definido pela área da Educação Especial, visa desvencilhar a ligação
idade-série e compatibilizar a vida escolar e produção mental, para alunos mais
rápidos que a turma comum. Mas
o mesmo termo foi empregado com objetivo contrário, compatibilizar idade-série para alunos lentos, repetentes
“encalhados na escola”, e evadidos que retornam...
O termo
– aceleração – passou então a ter duas
definições legais opostas, ambas
enraizadas na LBDEN, com a agravante que em uma das definições, a medida
consiste precisamente em “desacelerar” o ensino, para permitir que alunos mais
velhos que a sua turma possam atalhar a trajetória escolar, e alcançar pares
etários. A partir daí os sistemas escolares viram-se praticamente impossibilitados
de destrinchar os objetivos da aceleração,
uma vez que as definições se contradizem, indicando finalidades diferentes.
Embora a
discrepância nos documentos legais seja clara, os sistemas de educação no
Brasil, de modo geral, parecem achar por bem contornar a situação evitando atender
aos alunos mais novos que necessitam serem acelerados, uma medida estudada em educação
especial em todo o mundo, e manter na prática a definição subentendida nas diretrizes
oficiais, ou seja, “acelerar” alunos que deveriam ser “desacelerados”, uma vez
que não acompanham o ritmo médio da turma.
1- Conceitos
Básicos
Historicamente, na educação
especial a aceleração é vista como oportunidade para que o aluno sinalizando talento
acadêmico, e dotação intelectual, possa progredir pela seriação escolar a um
ritmo mais rápido, e/ ou iniciar os diversos níveis de escolarização em idade
mais nova que o convencional (Pressey, 1949). Ambas as
idéias visam permitir progressão mais rápida que os outros alunos. Isso
freqüentemente significa adaptar o currículo escolar ao nível de
desenvolvimento, produção e aprendizagem do aluno, individualmente, ou em
pequenos grupos, sem insistir na idéia de que uma mesma proposta curricular é
apropriada a todos os alunos de uma faixa etária.
Como intervenção para desenvolver alunos
mais capazes, a Aceleração se
distingue do Enriquecimento pelo fato
de que este preenche o tempo escolar dos alunos que aprendem mais depressa, com
atividades diferentes do que é previsto no currículo regular, o qual permanece igual para todos. Mas,
muitos alunos intelectualmente dotados já trazem maior acervo de conhecimento,
e trabalham a um nível de produção mental tão mais avançado que seus pares, que
adiantar seus estudos é uma alternativa mais realista para trabalho escolar do
que seguir o currículo e ritmo da turma.
É lamentável que estudo tão amplo sobre aceleração no mundo inteiro, onde se comprova os benefícios positivos, sejam distorcidos pelas autoridades da educação aqui em São Paulo. Preferiram ficar apenas com o conceito de acelerar os atrasados.
ResponderExcluirA falha no nosso sistema educacional começa com a ignorância dos que atuam dentro dele.
Como tão bem escreve a prof. Zenita, há um verdadeiro abismo entre o que é a aceleração e o que se pratica dela.
Um texto esclarecedor Cláudia. Tomara muitos o leiam.
Beijo