Fonte - artigo extraído do site : file:///C:/Claudia/EDUCA%C3%87%C3%83O%20e%20superdota%C3%A7%C3%A3o/Blog%20textos/AspergereAltashabilidades%20NAAH%C2%B4s%20Londrina.pdf
Escrito por,
Nara Joyce Wellausen
Vieira*
Karolina Waechter Simon**
Resumo
O estudo foi desenvolvido a
partir uma pesquisa bibliográfica em livros, artigos e teses já publicadas
desde o ano de 2000, sobre as temáticas Altas Habilidades/ Superdotação e
Síndrome de Asperger. Os objetivos desta pesquisa foram de realizar uma busca em
publicações de período de 2000 até 2011, a respeito das características comuns
e diferentes ao sujeito com síndrome de Asperger e altas
habilidades/superdotação, assim como, também, relacionar o número de publicações
encontradas na Educação Especial e a Educação. Na fundamentação teórica
apresentamos a concepção de Altas Habilidades/Superdotação de Renzulli (2004) e
Gardner (2000) e na concepção de Síndrome de Asperger de Mello (2007) e Klin
(2006). Ao analisarmos os dados, foram percebidas semelhanças e diferenças
entre as características comportamentais dos sujeitos com Altas Habilidades/
Superdotação e os que apresentam Síndrome de Asperger. É possível apontar que
existem muitas evidências que distanciam estas duas necessidades educacionais
especiais e poucas semelhanças entre estas. Mas não desconsideramos que possa
existir a dupla necessidade especial entre estas duas necessidades educacionais
especiais, pois ainda existem poucos estudos que verificam teoricamente as
diferenças e semelhanças destes sujeitos e menos ainda aqueles que investigam
estas semelhanças e distinções nos próprios sujeitos.
* Professora Doutora do
Departamento de Educação Especial na Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM). Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.
** Acadêmica do curso de
Educação Especial na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Santa Maria,
Rio Grande do Sul, Brasil.
320 Rev. Educ. Espec.,
Santa Maria, v. 25, n. 43, p. 319-332, maio/ago. 2012
Disponível em:
Nara Joyce Wellausen Vieira – Karolina Waechter
Simon
Introdução
A Educação Especial possui
um público alvo de alunos, que segundo a Política Nacional de Educação Especial
na perspectiva da Educação Inclusiva (2008),
se delimita na educação dos alunos com deficiências, transtornos global do
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.
Entretanto, dentro
especialmente da área das altas habilidades/superdotação existe outra temática,
a dupla necessidade especial, sendo esta quando os sujeitos possuem habilidades
em determinada área e apresentam em conjuntura outra necessidade educacional.
Em língua portuguesa, encontram- se poucos estudos sobre essa temática. Porém,
dentro da Educação Especial, o foco dessas discussões e estudos, geralmente,
tem se centrado na área das altas habilidades/superdotação e Transtorno do Déficit
de Atenção e Hiperatividade.
A escolha desta temática se
deu principalmente pelo fato de ser pouco pesquisada e pela importância da
ampliação do conhecimento nesta área do conhecimento, assim como,
sobre as características semelhantes e diferentes que estes sujeitos podem
apresentar.
Sendo o objetivo desta
pesquisa o de realizar uma busca em publicações de período de 2000 até
2011, a respeito das características comuns e diferentes ao sujeito com
Síndrome de Asperger e altas habilidades/superdotação e assim como também em
relacionar o número de publicações encontradas na Educação Especial e a
Educação.
Metodologia
A metodologia deste estudo
consiste em uma pesquisa bibliográfica, pois se trata de um levantamento de
livros, artigos e teses já publicados desde o ano de 2000, sobre as
temáticas Altas Habilidades/ Superdotação e Síndrome de Asperger. A opção por
esta metodologia se deve ao fato de ser bastante utilizada em estudos em que o
objeto da pesquisa é pouco estudado (LIMA & MIOTO, 2007).
A coleta de dados foi
realizada em publicações tais como: livros, artigos e teses sobre Altas
Habilidades/ Superdotação e Síndrome de Asperger, nos idiomas português, inglês
e espanhol durante o período de 2000 até 2011.
No entanto, há pouca
publicação sobre a temática. Foram realizadas buscas
em bases de dados como
SciELO, Google Acadêmico, Periódicos e em sites de editoras. Após esta
coleta de dados, realizou-se uma leitura em todos os materiais encontrados para
obter informações sobre as características que estão sendo pesquisadas. Diante
destas leituras o material encontrado foi classificado em: características
comuns a sujeitos com Altas Habilidades/Superdotação e Síndrome de Asperger e
características diferentes destes mesmos sujeitos, para após ser realizada uma
síntese e uma reflexão do material pesquisado.
Concepção de Altas
Habilidades/Superdotação
Quando pensamos em sujeitos
com altas habilidades/superdotação existem dois conceitos que devem ser
explicitados: inteligência e superdotação.
Dois teóricos subsidiaram
nossa investigação: Howard Gardner (2000), om a Teoria das Inteligências
Múltiplas, amplia os campos para os sujeitos exercitarem suas “inteligências”;
e Renzulli (2004), com a Teoria dos Três Anéis, oferece uma visão sistêmica de
quem é o sujeito com altas habilidades/superdotação.
Neste sentido, Gardner
(2000) apresenta um conceito modular de inteligência enfocando a manifestação
de várias competências de um indivíduo e enfatizando a capacidade de resolver
problemas e de elaborar produtos reconhecidos como positivos pela cultura que o
sujeito vive. Gardner (2000) descreve oito tipos de inteligência: linguística,
lógico-matemática, espacial, musical, corporal-sinestésica, interpessoal,
intrapessoal e a naturalista. Segundo este teórico, o sujeito pode apresentar
um bom desempenho em uma dessas inteligências e não nas outras. Tal pensamento
justifica teoricamente um fato que empiricamente era observado, ou seja, o
sujeito com altas habilidades/superdotação não é necessariamente “bom” em todas
as áreas do conhecimento.
Segundo o teórico Renzulli
(2004), as altas habilidades/superdotação é resultado da intersecção de três
características: a criatividade, o comprometimento com a tarefa ou motivação e
a capacidade acima da média. E da influência de uma rede social, constituída
pela família, escola, amigos e outros.
Primeiramente este teórico
não levou em consideração o contexto do sujeito, sua teoria levava em
consideração somente os fatores intrínsecos ao sujeito, o que ocasionou algumas
críticas. Diante disso, ele efetuou uma modificação inserindo uma rede,
para ressaltar a importância dos aspectos sociais que servem de suporte na
manifestação plena dos três grupos de traços (VIEIRA, 2005a).
As características
propostas por Renzulli (1986) podem contribuir significativamente para definir
quem é o sujeito com altas habilidades/superdotação, dentro de cada uma das
competências, desde uma abordagem multidimensional das inteligências. Portanto,
à medida que consideramos a pluralidade das inteligências, os três traços que
constituem a pessoa com altas habilidades/superdotação, em interação com o
contexto, deverão estar presentes em cada um dos domínios das diferentes
expressões da inteligência propostos por Gardner (2000) (VIEIRA, 2005b).
Nos estudos atuais sobre as
altas habilidades/superdotação, segundo Costa, Sánchez e Martínez (1997), não
se considera o indivíduo superdotado pela soma de uma série de qualidades que
ele apresenta em seu comportamento,
mas sim pela forma
sistêmica como estas qualidades interagem entre si e com seu ambiente.
Vieira e Freitas (2011)
mencionam a importância de verificar a frequência, a intensidade e a
consistência com que os comportamentos de Altas Habilidades/Superdotação
aparecem no repertório dos sujeitos. A frequência segundo as autoras consiste
no número de vezes que esses comportamentos aparecem, a intensidade corresponde
à carga energética que é depositada na tarefa, exigindo um esforço contínuo e
intenso e a consistência diz respeito ao resultado final da aprendizagem do
aluno, implicando em um resultado valorizado pela sociedade.
Concepção de Síndrome de
Asperger
A Síndrome de Asperger é
uma patologia que foi descrita em 1944, pelo médico chamado Hans Asperger, sendo chamado
por ele inicialmente de psicopatia autística, que indicava um transtorno
estável de personalidade, caracterizada pelo isolamento social. (MELLO, 2007).
Atualmente segundo Klin
(2006) esta síndrome caracteriza-se por: [...] prejuízos na interação social,
bem como interesses e comportamentos limitados, mas seu curso de
desenvolvimento precoce está marcado por uma falta de qualquer retardo
clinicamente significativos na linguagem falada ou na percepção da linguagem,
no desenvolvimento cognitivo, nas habilidades de autocuidado e na curiosidade
sobre o ambiente. (KLIN, 2006, p. S8). Conforme o Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais IV - DSM-IV-TR (2002)¹, essa síndrome esta
inserida no grupo dos transtornos globais do desenvolvimento. Caracteriza-se
por um prejuízo severo e persistente na interação social e pelo desenvolvimento
de padrões restritos e repetitivos de interesses e atividades. Segundo este
manual, a perturbação deve causar prejuízo clinicamente significativo nas áreas
social, ocupacional ou outras áreas importantes de funcionamento. Contrastando
com o autismo, não existem atrasos clinicamente significativos na linguagem
(isto é, palavras isoladas são usadas aos 2 anos, frases comunicativas são
usadas aos 3 anos).
Além disso, não existem
atrasos clinicamente significativos no desenvolvimento cognitivo ou no
desenvolvimento de habilidades de autoajuda apropriadas à idade, comportamento
adaptativo (outro que não na interação social) e curiosidade acerca do ambiente
na infância (DSM-IV, 2002). Essas características são semelhantes ao que Klin
(2006) descreve.
Segundo o DSM – IV (2002),
o sujeito com esta síndrome possui as seguintes características:
– Comprometimento grave e
persistente da interação social, incluindo a dificuldade de fazer amigos,
demonstrar empatia, interpretar deixas sociais ou usar comunicação social não
verbal (contato visual, postura e gestos);
– Interesses ou
comportamentos restritos ou estereotipados, incluindo uma única área de
interesse intenso, movimento repetitivo da mão, sensibilidade sensorial,
repetição compulsiva;
– Não existe um atraso
geral clinicamente importante na linguagem (exemplo: utiliza palavras isoladas
aos 2 anos, frases comunicativas aos 3 anos);
– Não existe um atraso
geral clinicamente importante no desenvolvimento cognitivo ou no
desenvolvimento de habilidades de autocuidados próprios da idade, no
comportamento adaptativo (outro que não na interação social) e na curiosidade
acerca do ambiente na infância.
Segundo a autora Moore
(2005), a Síndrome de Asperger apresenta algumas características que são
descritas por ela dentro de cinco grandes grupos:
linguagem, interação
social, integração sensorial, funcionamento motor e o processamento cognitivo.
A linguagem desses sujeitos
apresenta peculiaridades nas questões fonéticas (sons das letras e sílabas),
semânticas (o sentido das palavras), sintaxe (gramática) e pragmática
(linguagem com intenção de comunicar).
A característica fonética
da linguagem desses sujeitos é a pronuncia de maneira precisa, exagerada e
pedante, algumas vezes pode haver mudança da pronúncia de palavras, dificuldade
em diferenças e variedade dos sons da linguagem e seguem as regras de linguagem
radicalmente.
Na questão semântica eles
apresentam um discurso com vocabulário e construções sofisticadas. Algumas
vezes usam esse vocabulário rebuscado, mas não sabem o significado de algumas
palavras e muitas vezes utilizam palavras baseados em vídeos, livros, programas
de televisão. Podem apresentar dificuldades de iniciar uma conversa, pois ainda
não aprenderam como usar as palavras adequadamente, o que muitas vezes faz como
que eles inventem palavras ou usem frase que viram em vídeos ou filmes para
interagir.
Na sintaxe são descritas
características como a dificuldade de usar as palavras na ordem correta e a
preocupação com as regras de linguagem. Em
consequência desta
preocupação alguns sujeitos com essa síndrome durante uma conversa não
conseguem prestar atenção ao conteúdo da conversa, pois ficam checando a
precisão, observando os erros de pronúncia ou gramatical.
Outra característica é a
tendência a usar a linguagem de maneira muito formal. Neihart (2000) também
define o sujeito com a Síndrome de Asperger conforme o DSM-IV e descreve
algumas características diferentes das descritas acima como a fluência verbal
ou a precocidade verbal, desenvolvimento irregular, desempenho extraordinário
em determinada área de interesse e que estes sujeitos apresentam uma ampla gama
de habilidades.
Análise
As Altas Habilidades/
Superdotação são consideradas uma necessidade educacional especial, pois essas
necessidades decorrem de sua elevada capacidade para aprender. Estes sujeitos,
geralmente, são identificados primeiramente pela habilidade acima da média,
destacando-se, portanto por diferenças no seu desenvolvimento global ou em
áreas específicas. Por consequência dessa diferença apresentam comportamentos
acima do esperado para sua idade em determinada área do conhecimento,
necessitando de um atendimento educacional especializado. Cabe destacar que
estes sujeitos, via de regra, não apresentam nenhuma alteração orgânica no seu
desenvolvimento. Em outras palavras, as Altas Habilidades/ Superdotação se
constituem em um “(...) construto psicológico a ser inferido a partir de uma
constelação de traços ou características de uma pessoa” (ALENCAR e FLEITH,
2001, p. 52).
Já a Síndrome de Asperger é
classificada como uma patologia, ou seja, uma doença, que é descrita por um
manual de diagnóstico clínico chamado de Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM). Esta síndrome apresenta alterações orgânicas no
desenvolvimento desses sujeitos o que ocasionam dificuldades em áreas
importantes para o desenvolvimento pleno.
Tais alterações são
diagnosticadas levando em consideração cinco critérios, o primeiro é o
individuo apresentar pelos menos duas manifestações de comprometimento
qualitativo da interação social, outro critério é apresentar pelo menos uma
manifestação de padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento,
interesses e atividades, o terceiro é não apresentar atraso geral clinicamente
importante na linguagem. Os dois últimos critérios analisados são a não
existência de deficiência mental e não apresentar sinais que satisfazem critérios
para a esquizofrenia. Estas dificuldades acarretam, por exemplo, atrasos no
desenvolvimento escolar de sujeitos com esta síndrome.
Portanto, a primeira grande
conclusão a ser constatada é que há uma diferença importante em relação à
classificação de cada um dos conceitos.
Síndrome de Asperger
constitui-se em uma patologia diagnosticada desde critérios clínicos e
laboratoriais; enquanto que as Altas Habilidades/ Superdotação podem se
entendidas como um conceito psicológico, traduzido pelos comportamentos observáveis
manifestados pelos sujeitos, a partir do qual é possível inferir o alcance de
um objetivo ou o domínio de uma capacidade (VIEIRA, 2005b).
Para melhor organizar as
similaridades e diferenças, analisaremos estas características separando-as em
quatro categorias: cognição, interação social, comportamento adaptativo
(restritos e estereotipados) e comunicação.
Antes de passar para a
análise de cada categoria, faz-se importante defini-las.
Começaremos articulando a
respeito das características semelhantes relacionadas com a cognição. Entre
estas se destacam as características relativas à memória, onde ambas as
necessidades educacionais especiais se destacam por apresentarem uma excelente
memória. Característica esta que também foi apontado pelos autores Neihart
(2000) e Widyorini (2000) como uma similaridade.
Como já foi mencionado, o
vocabulário sofisticado esta presente em muitos sujeitos com Altas Habilidades/
Superdotação, principalmente naqueles identificados na área da linguística e
também pode ser uma característica dos sujeitos com Síndrome de Asperger, pois
muitos sujeitos apresentam um discurso com um vocabulário sofisticado.
Gallagher e Gallagher (2002) também indicam esta semelhança a respeito do
desenvolvimento linguístico, segundo eles o desenvolvimento linguístico pode
ser médio ou acima da média.
Conforme Widyorini (2000),
as pessoas com Síndrome de Asperger e Altas Habilidades/ Superdotação também
podem apresentar precocidade na fala e leitura e tendem a usar linguagem
sofisticada e formal. Benito (2009) também se refere ao vocabulário amplo e
sofisticado como uma característica compartilhada entre estes sujeitos, mas
salienta que diferentemente das Altas Habilidades/ Superdotação, os sujeitos
com Síndrome de Asperger não compreendem os significados dessas palavras.
Além dessas características
podemos citar semelhanças no desenvolvimento irregular destes sujeitos. Neihart
(2000) também menciona como uma
característica semelhante o desenvolvimento irregular, particularmente quando o
desenvolvimento cognitivo é comparado ao desenvolvimento social e afetivo em
uma tenra idade. Neihart (2000) também cita o interesse restrito em
determinadas áreas como uma semelhança entre os sujeitos com Altas Habilidades/Superdotação
e sujeitos com a Síndrome de Asperger. Segundo esta autora, ambos possuem
interesse por um tópico específico e em adquirir uma grande quantidade de
informações factuais sobre o mesmo.
Sobre a semelhança do
desenvolvimento extraordinário em determinadas áreas, Neihart (2000)
também traz como uma similaridade entre estes sujeitos: tanto os sujeitos com
Altas Habilidades/ Superdotação, como os com a Síndrome de Asperger apresentam
um desenvolvimento superior em determinadas áreas de interesses destes
sujeitos.
Outra semelhança constatada
é a de que as duas necessidades educacionais especiais não apresentam atrasos
significativos na linguagem e atrasos significativos
no desenvolvimento cognitivo. Gallagher e Gallagher (2002) também trazem a
questão referente ao desenvolvimento cognitivo que pode ser médio ou acima da
média em ambos os sujeitos deste estudo.
Outra característica, que
já mencionamos anteriormente, que é muito significativa é a questão do
quociente intelectual (QI), que em ambos os casos pode variar até muito
superior. E a última semelhança relacionada à cognição refere-se a fluência e
precocidade verbal, que está presente tanto nas Altas Habilidades/ Superdotação
como nas Síndrome de Aspeger.
Observando as semelhanças
relacionadas à categoria da cognição é possível perceber que são muitos os
indicadores nessa área do desenvolvimento evidenciando assim a existência da
dupla necessidade especial. Como não foi possível observar nenhuma semelhanças
nas outras categorias, concluímos que os indicadores que mais aproximam essas
duas necessidades educacionais especiais estão relacionadas às características
referentes a cognição deste sujeitos.
No que refere as
características diferentes dos sujeitos com Altas Habilidades/ Superdotação e
os com Síndrome de Asperger iniciaremos expondo sobre a categoria alusiva à
cognição.
Os sujeitos com Altas
Habilidades/ Superdotação apresentam características que não são observadas em
sujeitos que apresentam somente a Síndrome de Asperger. Tais características,
que já foram citadas, consistem no alto grau de curiosidade, a atenção
concentrada, o interesse por problemas filosóficos, morais, políticos e sociais
e a originalidade para resolver problemas, situação em que os sujeitos com
Altas Habilidades/ Superdotação demonstram sua criatividade. Em nosso
entendimento esta é a principal característica que diferencia os sujeitos com
Altas Habilidades/ Superdotação dos com Síndrome de Asperger. E de acordo com a
concepção teórica utilizada neste estudo, Renzulli (2004) menciona que as Altas
Habilidades/ Superdotação precisam ter três fatores básicos para ser
identificada, no qual um destes fatores é a criatividade.
Em relação à criatividade
nenhum dos autores utilizados nesta pesquisa faz alguma discussão sobre sua
presença em sujeitos com Síndrome de Asperger. Diante disso ficam algumas indagações
a respeito: O sujeito com Síndrome de Asperger pode
ser considerado criativo, já que a manutenção da rotina é uma característica
importante nesta síndrome? Considerando este apego à rotina, como aparece a
criatividade em sujeitos com a Síndrome de Asperger?
Assim como as Altas
Habilidades/ Superdotação que não apresenta um perfil único e homogêneo, a
Síndrome de Asperger também apresenta características únicas. Entre estas
características do Asperger estão: a carência de perceber e o desinteresse nas
tendências e modas populares, a dificuldade em se colocar no lugar do outro, a
rigidez de pensamento, a dificuldade em discernir ficção da realidade,
seletividade exagerada a informações ou estímulos, a dificuldade para discernir
a ficção da realidade e a dificuldade em perceber o perigo.
Em nossa percepção, é na
categoria sobre a interação social que estão as principais diferenças entre as
duas necessidades educacionais especiais, pois os sujeitos com Altas
Habilidades/ Superdotação não apresentam o comprometimento grave e persistente
da interação social que os sujeitos com a Síndrome de Asperger mostram.
Observa-se nestes últimos uma carência de habilidade para fazer amizades e
falta de interesse em fazer amigos, situação que não se observa nas altas habilidades/superdotação,
principalmente se for do tipo líder.
A outra categoria refere-se
a características sobre a comunicação destes sujeitos. Nesta categoria também
foram averiguados indicadores que estão presentes geralmente nos sujeitos com
Síndrome de Asperger. Entre elas estão a dificuldade para iniciar ou manter
conversas, dificuldade para discernir se um assunto é adequado ou não, falta de
linguagem corporal adequada, incapacidade de “ler” a linguagem corporal e as
expressões faciais e dificuldade em interpretar informação multimodal.
Nesta mesma categoria foram
verificadas também características que aparecem somente nos indivíduos com
Síndrome de Asperger, sobre a fonética da linguagem destes sujeitos, entre esta
características estão a pronuncia de maneira precisa, exagerada e pedante,
algumas vezes pode haver mudança da pronúncia de palavras, dificuldade em
diferenças e variedade dos sons da linguagem e seguem as regras de linguagem
radicalmente.
Neihart (2000) também cita
essa diferença entre a linguagem desses, segundo ela os sujeitos com Asperger
têm um discurso tipicamente pedante e os com Altas Habilidades/ Superdotação
apresentam um discurso normal ou podem apresentar uma linguagem de um sujeito
mais velho.
Na categoria sobre os
comportamentos também verificamos distinções
entre estes sujeitos. Os sujeitos com Altas Habilidades/ Superdotação são
independentes, autônomos, perfeccionistas, persistentes, apresentam vulnerabilidade
a críticas dos outros, tédio em relação às atividades curriculares regulares e
tendência a questionar regras.
E os sujeitos com Síndrome
de Asperger apresentam comportamentos como interesses ou comportamentos
restritos ou estereotipados, incluindo uma única área de interesse
intenso, movimento repetitivo da mão, sensibilidade sensorial, repetição
compulsiva (NEIHART, 2000). Segundo esta autora, às estereotipias presentes no
sujeito com Síndrome de Asperger não são apresentadas por sujeitos com somente
Altas Habilidades/ Superdotação. Este é um diferencial muito importante entre
os sujeitos desta pesquisa, pois esta característica esta presente somente em
sujeitos com apresentam algum tipo de Transtorno Global do Desenvolvimento.
Encontramos também como
características somente dos sujeitos com Síndrome de Asperger a violação do espaço
pessoal, contato visual mínimo, intenso ou pouco natural,
expressão ou respostas afetivas inadequadas. Neihart (2000) também descreveu a
respeito das diferenças da expressão afetiva, em que nos sujeitos com Asperger
tendem a se apresentar como autômatos até certo ponto. E apresentam respostas
diferentes do esperado, como risadas ou ataques de fúria ou ansiedade
inapropriadamente. E os com Altas Habilidades/ Superdotação, geralmente, não
apresentam dificuldades afetivas.
Os sujeitos com a Síndrome
de Asperger apresentam comportamentos de passividade, agressividade,
impulsividade, não sabem esperar sua vez na alternância de turnos das conversas
(NEIHART, 2000). Segundo a autora, os sujeitos com Síndrome de Asperger
apresentam comportamentos extravagantes, dificuldade em ter consciência de seus
comportamentos excêntricos, estranhos.
São também ultra (hiper) ou
pouco (hipo) sensível e demonstram apego a rotinas. Neihart (2000) traz a
questão da rotina, conforme ela os indivíduos com Síndrome de Asperger apresentam
mais dificuldade em lidar com as mudanças e recusam-se a cooperar com as
tarefas de aprendizado comum da escola e podem entrar em pânico e se tornarem
agressivos em decorrências disto. E os com Altas Habilidades/ Superdotação
expressam desprazeres e podem resistir passivamente à mudança de rotinas.
Segundo Benito (2009), a
Síndrome de Asperger e as Altas Habilidades/ Superdotação possuem
características que se combinam e outras que se chocam de uma maneira complexa.
O número de indivíduos com Altas Habilidades/ Superdotação que apresentam
isolamento social é reduzido, mas este isolamento poder aumentar junto com a
Síndrome de Asperger.
Podendo até as características
de Síndrome de Aspeger anularem as Altas Habilidades/Superdotação.
Além disso, conforme Benito
(2009), as características das Altas Habilidades/Superdotação
podem aparecer diferentes quando combinadas com a Síndrome de Asperger.
Consideramos a coexistência dessa dupla necessidade educacional especial outra
questão importante, pois entendemos que essas características combinadas podem
trazer benefícios aos sujeitos, como é o caso da coexistência das Altas
Habilidades/ Superdotação e o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade.
Em outras palavras, autores que estudaram a coexistência destas duas últimas
características demonstraram que a associação com as altas
habilidades/superdotação trazem benefícios significativos para melhorar o nível
adaptativo da patologia. (GERMANI,2006; OUROFINO, 2005).
Estas são questões que
ajudariam os profissionais a darem um diagnóstico
correto e, por conseguinte,
estes sujeitos receberiam um atendimento educacional especializado adequado.
Diante dessa discussão
sobre as semelhanças e diferenças entre as características comportamentais dos
sujeitos com Altas Habilidades/Superdotação e os que apresentam Síndrome de
Asperger, destacamos que existem muitas evidências que distanciam estas duas necessidades
educacionais especiais e poucas semelhanças entre estas. Mas não
desconsideramos que estas duas necessidades educacionais especiais possam
coexistir, pois ainda existem poucos estudos que verificam teoricamente as
diferenças e semelhanças destes sujeitos e menos ainda aqueles que investigam
estas semelhanças e distinções nos próprios sujeitos.
Conclusão
Diante deste estudo foi
possivel averiguar que é de suma importância ter claras as concepções tanto de
Síndrome de Asperger quanto de Altas Habilidades/Superdotação
que subsidiam nossos procedimentos, pois isso proporciona a outros interessados
na temática ter conhecimento de quais os parâmetros foram utilizados para
realizar a devida pesquisa.
O que chamou muito a
atenção durante este estudo foi a quantidade de publicações na área desta
pesquisa. O número de publicações encontradas desde 2000 até este ano foi muito
pequeno. Com isso concluímos que esta temática não teve a merecida atenção.
Acreditamos que os profissionais da educação tenham se dedicado a escrever e se
preocupar com os sujeitos somente com Síndrome de Asperger, Autismo,
Deficiência Mental sem levar em consideração
que estes sujeitos podem ter outras necessidades educacionais especiais
associadas. Além disto, a visão tradicional de inteligência que se tinha no início do século
passado, impossibilitava o entendimento de que uma pessoa com Altas
Habilidades/ Superdotação tivesse outra necessidade educacional especial
associada. A visão dicotômica da deficiência ou dos transtornos globais do
desenvolvimento de um lado e a superdotação de outro é resultado desta
concepção positivista. Desde a concepção modular de Gardner (2000) e a dinâmica
de Renzulli (2004) é possível perceber a existência da dupla necessidade educacional
especial.
Essa pequena quantidade de
publicação sobre essa dupla necessidade especial se deve também ao fato de
muitos profissionais da educação em geral acreditarem que o sujeito com Altas
Habilidades/ Superdotação não sentam nenhuma dificuldade associada ou não
apresentam nenhuma dificuldade em outras áreas do conhecimento, o que é um
equívoco.
Ressaltamos também a
importância de mais estudo sobre a temática assim como pesquisas de campo para
verificarmos a existência ou não dessas características semelhantes e
diferentes em sujeitos com Altas Habilidades/
Superdotação e dos sujeitos
com Síndrome de Asperger. Somente com os esses estudos será possível admitirmos
a existência ou não da dupla necessidade educacional especial.
É importante que estudemos
esta possível coexistência entre essas duas necessidades educacionais
especiais, para que no âmbito escolar proporcionarmos
a esses alunos um atendimento educacional especializado e uma inclusão escolar
levando em consideração as suas peculiaridades. Pois nem sempre a Síndrome de
Asperger e as Altas Habilidades/ Superdotação precisam de um atendimento
educacional especializado visando às peculiaridades das duas necessidades
educacionais especiais. Por vezes, as características da síndrome assumem o
controle e nesses casos o atendimento deve ser mais voltado para atender a
essas necessidades.
Referências
ALENCAR, E. S.; FLEITH, D.
de S. Superdotados: determinantes, educação e ajustamento. São Paulo:
EPU, 2001.
ALENCAR, E. M. L. S. de;
FLEITH, D. de S. Desenvolvimento de talentos e altas habilidades: orientação
a pais e professores. Porto Alegre: Artmed, 2007.
BODEN, M. A. Dimensões
da criatividade/ Margaret A. Boden; Trad. Pedro Theobald – Porto Alegre:
Artes Médicas, 1999.
BRASIL. Política
Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.
MEC/SEESP, Brasília: 2008.
BENITO, Y. Superdotacion
y Asperger. Madrid: Eos Gabinete de Orientacion Psicologica, 2009.
COSTA, J. L. C.; SÁNCHEZ,
M. D. P.; MARTÍNEZ, A. R. Modelos y estratégias de identificación del
superdotado. In: SÁNCHEZ. M.D.P. (Org.) Identificación, evaluación y
atención a la diversidad del superdotado. Málaga: Aljibe, 1997.
DSM-IV-TR – Manual
diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Trad. Cláudia Dornelles;
4. ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2002.
OUROFINO, V. A. T. de.;
GUIMARÃES, T. G. Características intelectuais, emocionais e sociais do aluno
com altas habilidades/superdotação. In: FLEITH, D. de S. (Org.). A
construção de práticas educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação:
v. 1: orientação a professores / organização: Denise de Souza Fleith. -
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2007a.
GALLAGHER, S. A. & GALLAGHER, J. J. Giftedness
and Asperger’s
Syndrome: A
New Agenda for Education.
GARDNER, H. Inteligência:
um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000, 347 p.
GERMANI, L. M. B. Características
de altas habilidades/superdotação e de déficit de atenção/ hiperatividade:
uma contribuição à família e à escola.
Dissertação (Mestrado).
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: 2006.
GRANDIN, T. Genius may be an abnormality:
educating students with
Asperger’s Syndrome, or High Functioning Autism. 2001. Disponível em:
http:// ww.autismtoday.com/articles/Genius_May_Be_Abnormality.htm.
Acesso em: 28 ago. 2011.
KLIN, A. Autismo e Síndrome
de Asperger: uma visão geral. Revista Brasileira de Psiquiatria. 2006,
n. 28 (supl I):S3-11.
LIMA, T. C. S.; MIOTO, R.
C. T. Procedimentos metodológicos na construção do conhecimento científico: a
pesquisa bibliográfica. RevistaKatál. Florianópolis, v. 10, nº esp., p.
37-45, 2007.
MELLO, A. M. S. R. de. Autismo:
guia prático. 5. ed., São Paulo: AMA; Brasília: CORDE, 2007.
MOORE, S. T. Síndrome de
Asperger e a escola fundamental: soluções práticas para dificuldades
acadêmicas e sociais. Tradução de Inês de Souza Dias. São Paulo: Associação Mais 1, 2005.
NEIHART, M.; BILLINGS, M. Gifted children with
Asperger’s Syndrome. Gifted Child Quarterly, 44, 2000.
OUROFINO, V. T. A. T. Características
cognitivas e afetivas entre alunos superdotados, hiperativos e
superdotados/hiperativos: um estudo comparativo.
Dissertação de Mestrado,
Universidade de Brasília, Brasília, 2005.
RENZULLI, J. O que é
essa coisa chamada superdotação, e como a desenvolvemos? Uma retrospectiva de
vinte e cinco anos.
VIEIRA, N. J. Inteligências
múltiplas e altas habilidades: uma proposta integradora para a
identificação da superdotação. Linhas, Vol. 6, n. 2, 2005a.
Nara Joyce Wellausen Vieira
– Karolina Waechter Simon
______. “Viagem a
Mojáve-Óki”! Uma trajetória na Identificação das altas habilidades/superdotação
em crianças de quatro a seis anos. 2005.
Tese (Doutorado) –
Faculdade de Educação. Programa de Pós-graduação em Educação. Universidade
Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2005b.
VIEIRA, N. J. W.; FREITAS,
S. N. Procedimentos Qualitativos na Identificação das Altas
Habilidades/Superdotação. In: BRANCHER, Vantoir Roberto e FREITAS, Soraia
Napoleão de (Org.). Altas habilidades/ superdotação: Conversas e ensaios
acadêmicos. Jundiaí, Paco Editorial: 2011.
WIDYORINI, E. Gifted children with asperger
syndrom: emotional and social implications. Soegijapranata Catholic
University, Indonesia. Disponível em:
http://hkage.org.hk/en/events/080714%20APCG/04-
% 2 0 S o c i a l % 2 0
& % 2 0 E m o t i o n a l % 2 0 D e v e l o p m e n t /
4.6%20Widyorini_Gifted%20Children%20with%20Asperger%20Syndrom-
%20Emotion.pdf. Acesso em:
07/09/2011.
Notas
¹ Manual para profissionais
da área da saúde mental, que lista diferentes categorias de transtornos mentais
e critérios para diagnosticá-los, de acordo com a Associação Americana de
Psiquiatria.
Correspondência
Nara Joyce Wellausen Vieira
– Parque Alto da Colina, Rua 02, casa 160, Bairro Camobi, CEP:
97110-560, Santa Maria, Rio
Grande do Sul.
E-mail: najevars@yahoo.com.br –
karolinasimon@gmail.com
Recebido em 14 de fevereiro
de 2012
Aprovado em 18 de abril de 2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário