sábado, 1 de fevereiro de 2014

Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) em crianças superdotadas ou não

 

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Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) caracteriza-se pela presença de preocupações excessivas e incontroláveis sobre diferentes aspectos da vida. Apesar de preocupações serem uma manifestação de ansiedade bastante comum e fazerem parte da experiência humana, pacientes diagnosticados com TAG referem haver uma intensificação e prolongamento deste estado ansioso, sem que haja a interrupção deste processo (Flannery-Shroeder, 2004).


Os critérios diagnósticos apontados na DSM-IV-TR (APA, 2000) incluem: ansiedade e preocupação excessiva e de difícil controle com diversos eventos, na maioria dos dias e com duração mínima de seis meses, causando prejuízos no funcionamento da vida diária. O quadro deve ser acompanhado ainda de pelo menos três de seis sintomas físicos tais como: inquietação; fatigabilidade; dificuldade de concentração; irritabilidade; tensão muscular ou perturbações do sono. Finalmente, o distúrbio não deve ser oriundo de ingestão de drogas ou de abuso, de uma condição médica geral ou ocorrer exclusivamente durante o curso de transtorno de humor, transtorno psicótico ou transtorno global do desenvolvimento.


O diagnóstico em crianças e adolescentes difere dos adultos no que diz respeito aos sintomas físicos.
Há a necessidade da presença de apenas um sintoma somático para que o diagnóstico seja confirmado em infanto-juvenis (APA, 2000). Embora dores de cabeça ou de estômago, assim como tensão muscular sejam queixas comuns em crianças e adolescentes com TAG (Flannery-Schroeder, 2004), Tracey, Chorpita, Douban e Barlow (1997) e Kendall e Warman (1996) encontraram que fatigabilidade é a queixa mais frequente.

Kendall, Krain e Treadwell (1999) definem crianças e adolescentes com TAG como “mini adultos” em função da preocupação em excesso com compromissos, da rígida aderência a regras, ou por suas perguntas referentes aos perigos inerentes às situações. Afirmam ainda que estas preocupações dificultam o diagnóstico precoce do transtorno, porque adultos tendem a valorizar este tipo de preocupação, confundindo assim a presença dos sintomas com senso de responsabilidade.

Crianças e adolescentes com TAG podem ter preocupações consigo ou com os outros sobre diferentes domínios, como por exemplo: perfeccionismo; pontualidade; saúde e segurança; eventos catastróficos mundiais (tais como: guerras ou desastres naturais); situação financeira familiar e futuro (Layne, Bernart, Victos & Bernstein, 2008). Weems, Silverman e La Greca (2000) encontraram entre os principais domínios de preocupação temas como: testes, furacões, agressão física, futuro, escola e problemas com crianças da mesma idade. Pina, Silverman, Alfano e Saavedra (2002), avaliando uma amostra clínica de 111 crianças e adolescentes com idades entre seis e 17 anos, identificaram a preocupação com a própria saúde como o fator preditivo mais confiável para o TAG. Bögels e Zigterman (2000) encontraram que crianças e adolescentes com TAG frequentemente subestimam a própria capacidade de lidar com as situações cotidianas, em especial as que envolvem a avaliação de terceiros.

Por apresentar uma autocrítica exagerada, são perfeccionistas, capazes de cometerem distorções cognitivas que tornam um pequeno erro um fracasso enorme. Como consequência das ideias perfeccionistas, estas crianças tendem a faltar seus compromissos com maior frequência ou mesmo a abandonar suas atividades diárias (Flannery-Schroeder, 2004).


Outras características apontadas foram: necessidade constante de reasseguramento e excesso de autoconsciência e preocupação com comportamento no passado (Bell-Dolan, Last & Strauss, 1990; Kendall & cols., 1999; Flannery-Schroeder, 2004). Rigidez com relação ao cumprimento de regras ou evitação de situações nas quais poderia haver a exposição ao julgamento dos outros são as principais consequências destes comportamentos (Bögels & Zigterman, 2000; Kendall & cols., 1999; Layne & cols., 2008). Finalmente, crianças e adolescentes com TAG têm uma tendência a superestimar o perigo, prevendo situações catastróficas (Kendall & cols., 1999).

Frequentemente, observa-se a intensificação destes sintomas sob a forma de perseguição aos pais dentro de casa, dificuldades para dormir ou ficar em casa sozinho e recusa para ir à escola ou para sair desacompanhado, nos momentos que antecedem a saída dos pais para o trabalho ou o horário da escola (Francis, Last & Strauss, 1987). Quando os pais saem de casa, frequentemente essas crianças ou adolescentes sentem a necessidade de saber onde eles estão ou de permanecer em contato, sendo muito comum o uso do telefone para este fim.

Embora o transtorno de ansiedade de separação possa ocorrer em qualquer idade antes dos 18 anos, existe uma maior frequência deste transtorno na faixa etária que vai dos sete aos nove anos de idade (Last & cols., 1996). Francis e cols. (1987) encontraram diferenças na expressão dos sintomas de acordo a faixa etária. Preocupação e pensamentos trágicos sobre os pais parecem estar associados a crianças com idades entre 5 e 8 anos. Protestos ou acessos de raiva, falta de concentração e apatia são mais frequentes em crianças maiores (entre 9 e 12 anos). Queixas somáticas e recusa escolar são comuns em adolescentes. Parece não existir distinção na expressão destes sintomas entre meninos e meninas.

O curso do transtorno costuma oscilar entre momentos de ansiedade em menor grau e crônicos, com períodos de exacerbação em grau agudo. Comumente, estes momentos de pico são acompanhados por alterações importantes na vida da criança ou do adolescente, tais como mudança de escola ou doença na família (Suveg & cols., 2005).

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