'Gênio' mais velho pode ser apenas normal hoje, sugerem pesquisas
A cada geração, QI médio em todo o mundo está aumentando entre 15 e 20
pontos.
Há mistério sobre origens da mudança, apelidada de "efeito Flynn".
Do G1,
em São Paulo
O arquiteto Oscar Niemeyer pode ter sido listado como um dos 100 maiores
gênios vivos da humanidade pela empresa de consultoria empresa Synectics, mas
talvez sua inteligência privilegiada não se destacasse tanto se
comparada à de um simples adolescente de hoje por meio de um teste de QI.
Parece loucura, mas são os que os dados dizem: a cada geração, o QI medido em
praticamente todo o mundo tem aumentado entre 15 e 20 pontos, ou o equivalente
a um quinto da inteligência "total" de uma pessoa mediana (que
"vale" 100 pontos).
O fenômeno bizarro tem nome: efeito Flynn. A expressão homenageia o
pesquisador americano naturalizado neozelandês James Flynn, da Universidade de
Otago, que estuda a variação da inteligência há décadas e foi o primeiro a dar
de cara com o aumento progressivo de QI, nos anos 1980.
Flynn começou seu trabalho tentando derrubar a velha idéia de que negros
e brancos americanos teriam QIs fundamentalmente diferentes, e acabou notando
que as pessoas que faziam testes antes aplicados a seus pais se davam, na
média, bem melhor que eles. O efeito poderia passar batido porque,
periodicamente, os testes são "zerados" e a pontuação média é sempre
repassada para 100, o valor-padrão de QI de uma pessoa normal, mas o truque de
Flynn fez com que o fenômeno fosse exposto.
Outros psicólogos, intrigados com os achados, foram atrás da história e
a replicaram em diversos países, como Argentina, Holanda, Israel, Quênia, China
e o próprio Brasil (hoje, Flynn tem conjuntos semelhantes de dados para 23
países). O resultado é mais ou menos sempre o mesmo: a cada geração de 30 anos,
um aumento médio de 20 pontos de QI.
Sem ajuda da escola
O mais curioso é onde esse aumento está acontecendo. Os testes de QI
avaliam uma série de habilidades e, caso a mudança se devesse ao maior número
de informações e a melhoria da escolaridade no mundo moderno, o esperado seria
que os conhecimentos aprendidos na escola fossem os mais afetados. No entanto,
não é isso o que acontece: o impacto maior do efeito Flynn parece estar ligado
a testes de raciocínio lógico e espacial que teriam pouquíssimo conteúdo
cultural, ou seja, não dependeriam do que se aprende na escola.
O que isso significa para o conceito de inteligência e de genialidade?
Afinal, se esse aumento tem sido constante, gênios da Antigüidade e do
Renascimento pareceriam burros de carga, com QI
"negativo", perto de um adolescente moderno. É por isso que os
pesquisadores têm sido cautelosos em relacionar diretamente esse aumento
de QI a um aumento "real" de inteligência.
A hipótese defendida pelo próprio Flynn tem a ver com mudanças sociais e
ambientais impactando o desempenho das gerações mais novas. Para ele, fatores
como a diminuição do número de filhos e o aumento do lazer (inclusive o
eletrônico, inexistente para as gerações mais velhas) teriam aumentado a
exposição das crianças a experiências "ampliadoras" de QI.
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