Perfil biopsicossocial de uma criança com indicadores de altas habilidades | ||
*Doutor em Medicina da Educação Física e do Esporte (Universidade de Zaragoza - Espanha). Professor da Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL, e professor da Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC. Coordenador do Laboratório de Desenvolvimento Humano da UDESC. **Mestrandos do Programa de Pós Graduação em Ciências do Movimento Humano, do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos, da Universidade do Estado de Santa Catarina - CEFID/UDESC | Francisco Rosa Neto* André Luiz de Oliveira Braz** Lisiane Schilling Poeta** Simone Adriana Oelke** d3sao@pobox.udesc.br (Brasil) |
A preocupação com pessoas que se destacam por
possuírem algum talento especial existe desde os tempos antigos, e hoje, a
atenção dada às crianças com altas habilidades constitui uma das áreas da
Educação Especial.
A escola atual enfrenta
divergências e resistências quanto ao atendimento a essas crianças. De um
lado, têm-se professores despreparados para o trabalho que executam e para
o atendimento das demandas que a sociedade exige ; por outro lado, tem-se a
atribuição que os professores determinam a essas crianças, de que elas não
necessitam de um atendimento especial, pois "já sabem tudo" e
"são boas em tudo" (NICOLOSO; FREITAS, 2002). No entanto, essas
crianças, como qualquer outra de sua idade, necessitam de atendimento sério e
competente.
Segundo a Organização
Mundial da Saúde, os superdotados (altas habilidades) compõem cerca de 1 a 3%
da população (NICOLOSO; FREITAS, 2002). Em contrapartida, Virgolim (2002),
afirma que esta porcentagem se refere apenas àqueles talentos que se destacam
por suas habilidades intelectuais ou acadêmicas (medidas pelo teste WISC de
inteligência, que situa o QI médio em 100 pontos). No entanto, quando se
incluem outros aspectos à avaliação dessas crianças, como, por exemplo,
liderança, criatividade, competências psicomotoras e artísticas, as
estatísticas sobre altas habilidades tendem a aumentar significativamente.
Independente do ponto de
vista, de acordo com Virgolim (2002), percebe-se que este grupo tem sido mal
identificado e trabalhado no Brasil. Isto demonstra que este assunto ainda
é polêmico, ressaltando-se o desconhecimento do tema por parte da
comunidade, da escola e da família ; necessitando de técnicas mais apuradas de
identificação, instrumentos mais amplos e precisos de diagnóstico, e bons
programas de desenvolvimento e estimulação do potencial destas crianças,
para que se possa estabelecer políticas de aproveitamento de talentos e
competências. O estudo realizado por Maia-Pinto e Fleith (2002), indicou que os
professores do ensino fundamental e da educação infantil de escolas
públicas e privadas de Brasília/DF consideram importante o papel da escola na
educação dos alunos com altas habilidades, entretanto, não adotam medidas ou
instrumentos para identificação, nem os atendem de forma diferenciada, como
também nunca tinham trabalhado com alunos superdotados.
Quando
uma criança muito habilidosa não é estimulada intelectualmente, podem aparecer
alterações de comportamento como resposta à frustração que está experimentando. Conforme Ferreira e
Souza (2001), é comum esses alunos se tornarem entediados, frustrados e
retraídos diante da rotina escolar, que é determinada pela média da turma. Bulkool
e Souza (2000) ainda enfatizam que em virtude da falta de apoio e de compreensão no meio
ambiente, podem apresentar estados de indiferença, apatia e reações agressivas,
chegando a ponto de ocultar seus próprios talentos. May (2000) ressalta
que essas pessoas não apresentam altas habilidades em todas as áreas, e não
são bem sucedidas em tudo, visto que suas habilidades intelectuais são
avançadas, embora suas habilidades motoras e sociais são de idade apropriada.
Este desenvolvimento irregular, segundo a autora, pode conduzir a frustração e
a confusão para a criança e sua família.
De modo geral, pessoas
com altas habilidades se caracterizam pela elevada potencialidade de aptidões,
talentos e habilidades, evidenciando no alto desempenho nas diversas áreas de
atividade do educando (BRASIL, 1995). Em geral, segundo Virgolim (2002),
essas crianças não apresentam estas características simultaneamente, nem mesmo
com graus de habilidade semelhantes, sendo que um dos aspectos mais marcantes
desse tema relaciona-se ao seu traço de heterogeneidade. A essa confluência de
habilidades chama-se de multipotencialidades, que representa mais uma exceção
do que uma regra entre estes indivíduos. O que se observa com maior freqüência
são crianças que se desenvolvem em mais de uma área específica, como poesia,
ciências, artes, música, dança ou esporte, do que em outras (VIRGOLIM, 2002).
A dificuldade está em
como identificar estes sujeitos nas escolas. O interesse deve
ser em relação a comportamentos acima do "normal" para aqueles
indivíduos que apresentariam um potencial aparente. Silvermann (2001)
sugere algumas características que podem ser observadas a fim de se ter um
perfil destes sujeitos : são excelentes pensadores ; aprendem rapidamente ;
apresentam uma alta fluência verbal; são sensíveis às questões sociais ;
perfeccionistas; demonstram muita curiosidade em relação às coisas que os cercam.
De acordo com as diretrizes
da Secretaria de Educação Especial (BRASIL, 1995), a identificação da
criança com altas habilidades deverá ser feita o mais cedo possível, desde
a pré-escola até os níveis mais elevados de ensino, objetivando o pleno desenvolvimento
de suas capacidades e o seu ajustamento social. Segundo a entidade, cada aluno
deve ser estudado em sua totalidade, podendo-se utilizar a combinação de dois
ou mais procedimentos no processo de avaliação. Conforme Fleith (1999), a
proposta é utilizar fontes múltiplas na identificação destes indivíduos, de
forma a não privilegiar resultados em testes de inteligência. Além
disso, algumas evidências têm indicado que estes indivíduos diferem entre si
com relação às características sociais, emocionais e cognitivas (SILVERMAN
apud FLEITH, 1999).
Winner (1998)
sugere que a identificação seja feita, principalmente, por meio da observação
sistemática do comportamento e do desempenho do aluno, sendo importante também
conhecer sua história de vida, familiar e escolar, bem como seus interesses,
preferências e padrões de comportamento social em variadas oportunidades e
situações. As ações de identificação devem caracterizar um trabalho interdisciplinar
e trans-disciplinar, ressaltando o compromisso de todos com um processo
sócio-educacional global.
Cláudia, ainda é pouco ou quase nada o que é feito dentro das salas de aula. O fato, porém, de se estar falando das crianças com altas habilidades com mais frequencia já é um passo.
ResponderExcluirTomara que medidas como a capacitação de professores tanto para identificar, como trabalhar com estas crianças se tornem propostas efetivas dentro da Educação, só assim os mitos, como o de que eles não necessitam de aendimento pois já sabem tudo, deixarão de existir.
Beijo