quarta-feira, 6 de julho de 2011

Jovens notáveis



O número de alunos superdotados no ensino superior cresceu impressionantes 2.390% em apenas dois anos. Professores devem estar atentos para identificar e manter o interesse dos estudantes acima da média



Juliana Duarte


http://revistaensinosuperior.uol.com.br/textos.asp?codigo=12348


José Geraldo, que entrou na universidade aos 16 anos: uma aula bem aplicada faz o aluno participar




Saber demais, ter espírito de liderança, ser autodidata e ingressar na faculdade precocemente. Essas são algumas das características de um aluno superdotado - ou com altas habilidades, como preferem os especialistas. "A palavra superdotado é um rótulo desnecessário. Costumo dizer que são jovens que se destacam em atividades específicas", afirma Geraldo Possendoro, psiquiatra comportamental e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).


Dados do Censo da Educação Superior, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apontam que o número de jovens com facilidade para aprender no ensino superior cresceu nos últimos anos. Em 2003, eram 20 estudantes. Dois anos depois, o índice chegou a 498 alunos matriculados em todo o Brasil. "Os números mostram que, cada vez mais, é preciso ficar atento para perceber se há um aluno muito acima da média em sala de aula", ressalta Maura Bolfer, professora do IBTA e doutora em educação voltada para formação de professores.


Prestar atenção no desempenho do estudante e nas reações que ele tem diante das aulas deve ser uma das primeiras atitudes do professor. "O passo seguinte é ver como ele se sai em avaliações escritas e orais. Mas nem sempre é fácil, pois é preciso que o docente esteja atento, preparado e aberto a ter um aluno nessas condições. Caso contrário, pode passar despercebido", alerta Kátia Bastos, coor­denadora do Núcleo de Educação da Universidade Ibirapuera.


No entanto, o aluno com altas habilidades não se destaca em todas as matérias e atividades. "O professor deve prestar atenção se ele apresenta uma performance alta em determinados assuntos, além de boa capacidade para memorizar textos e aprender sozinho", diz Possendoro. Para Suzana Perez, presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação (Conbrasd), o docente deve avaliar os jovens com muita atenção e cuidado para não cometer erros. "Ele se destaca pois apresenta uma habilidade superior à do resto do grupo. O problema é que não podemos afirmar que todos são assim só por aprenderem rápido demais ou porque entraram bem jovens na faculdade", avalia.


Afirmar que um aluno é superdotado sem ter a certeza pode atrapalhar o desenvolvimento das aulas. "O professor acaba perdendo tempo, além de confundi-lo", alerta Possendoro. Na opinião de Suzana, tirar boas notas nem sempre representa que o aluno tem altas habilidades. "Ele pode se sobressair estudando muito, memorizando o que o professor ensina e respondendo o que ele espera que seja respondido nas provas, mas somente isso não significa que esse aluno seja uma pessoa acima da média", explica. Na dúvida, a professora Maura sugere testes. "Acredito que os estudantes devem passar por testes específicos feitos por profissionais especializados que irão avaliar o rendimento escolar, as características psicológicas e comportamentais de cada um."


Muitas pessoas confundem testes de Quociente de Inteligência (QI) com os que são aplicados para alunos com altas habilidades. Suzana explica que os testes de QI identificam habilidade acima da média na área linguística e lógico-matemática. "Essas avaliações não detectam o comprometimento com a tarefa, nem a criatividade - elementos que caracterizam o aluno superdotado", afirma.


Detectados os estudantes com facilidade para aprender, o próximo passo é evitar que eles fiquem entediados em sala de aula. Para isso, o mais indicado na opinião dos especialistas é propor atividades que estimulem as suas capacidades. "A fórmula para fazer com que participem é propor tarefas diferentes, como debates e pesquisas", diz Possendoro. Segundo ele, esses estímulos devem acontecer desde as séries iniciais. "O docente deve envolvê-los e incentivá-los", afirma.


Rosane Acedo Vieira, coordenadora do colégio Viverde, que pertence ao grupo Pueri Domus Escolas Associadas, conta que, na maioria das vezes, a escola peca por se preocupar apenas com os estudantes que apresentam um desempenho abaixo da média e esquecem os que se sobressaem. "Eles também precisam de uma atenção especial. Temos de propor atividades, valorizar o aluno e o principal: tomar cuidado para que ele não receba um rótulo e sofra preconceitos", avalia.


José Geraldo Oliveira entrou na faculdade aos 16 anos e relata que não enfrentou problemas. "Nunca fui tratado como um aluno especial", diz. Ele escolheu o curso de rede de computadores, do IBTA, pois sempre quis trabalhar com web. Quando começou a frequentar as aulas, achou tudo "muito tranquilo". Atualmente está no último semestre do curso e acredita que apenas bons professores podem "prender" a atenção dos alunos. "Ele tem de ser didático, passar a matéria de forma fácil, sem ser bobo, sem complicar e o mais importante: despertar o interesse. Uma aula bem aplicada faz o aluno participar, mesmo se ele souber a matéria ou gostar dela."


Criar situações desafiadoras é o que sugere a coordenadora Kátia. "Estimule as turmas, incentive as discussões, proponha temas que instiguem a curiosidade dos alunos. Em geral, estudantes com potencial elevado respondem de maneira positiva e se sobressaem. Quando bem aplicadas, as atividades rendem bons frutos", ressalta. Mas, antes de propor essas tarefas, Carlos Domingues, coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Positivo, afirma que os professores devem estar preparados. "A universidade precisa treinar coordenadores e docentes, mostrar como lidar e o que fazer para ajudar um aluno superdotado", acredita.


A primeira atitude de uma instituição de ensino superior, de acordo com ele, é comunicar e conversar com a família do estudante. "É difícil os pais não saberem dessa característica, mas na dúvida é sempre bom conversar, pois a família tem um papel fundamental no desenvolvimento do jovem", diz.


A falta de diálogo pode acarretar problemas para o aluno e para a instituição de ensino. "Muitas vezes, os currículos das universidades podem estar aquém do desejo e das necessidades desses estudantes. Isso pode levá-los à decisão de aprender em outro país e, nos piores casos, se transformar em desistência e acomodação", conta Domingues. Porém, se houver uma sintonia entre professores e alunos, o desenvolvimento dos jovens tende a ser mais rápido. "O papel do ensino superior é fundamental no desempenho do estudante. Além de desenvolver as competências, é nessa fase que chega o momento de colocar tudo o que sabe em prática, já que irá ingressar no mercado de trabalho", diz Maura.


É comum que alunos com altas habilidades se destaquem profissionalmente e consigam um emprego com mais facilidade. José Geraldo é um exemplo. Aos 17 anos já fazia parte do quadro de funcionários de uma multinacional norte-americana e diz que sempre lidou bem com o fato de ser o mais novo. "O emprego ajudou a aprimorar meus conhecimentos", afirma.


O preconceito com a pouca idade pode acontecer por parte dos colegas e até dos professores, como afirma Kátia. "Depende de diversos fatores, como o grau de amadurecimento do aluno, da turma e da forma como os docentes lidam com as situações. O mais importante é saber lidar com as diferenças e estabelecer o respeito em sala de aula", recomenda.


Gênios na mídia

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Guilherme: notoriedade aos 13 anos, quando passou na UFPR

Nos últimos doze meses, olhar para jornais e revistas e encontrar casos de jovens com menos de 16 anos que passaram no vestibular se transformou em uma situação comum.

Um exemplo é Guilherme Cardoso de Souza, que aos 13 anos passou em primeiro lugar no vestibular de Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mesmo tão novo, ele já sabe o que quer da vida. Seu objetivo é dar aulas e escrever um livro didático de química para auxiliar o aprendizado de jovens do ensino médio. Guilherme aprendeu a ler e a escrever aos dois anos de idade e, atualmente, frequenta o projeto Bom Aluno, da empresa BS Colway, que garante estudos para crianças carentes. Guilherme concluiu o ensino médio em 2008 e será o mais jovem aluno a estudar na UFPR.

Ainda no mesmo estado, o estudante Charles Reis Ribeiro, de 14 anos, foi aprovado em duas instituições de ensino: na UFPR e na Pontifícia Universidade Católica (PUC-PR). No entanto, ele teve de optar por uma das universidades e decidiu estudar Engenharia da Computação na PUC.

Em março de 2008, outro caso chamou a atenção. João Victor Portellinha, de apenas oito anos, passou no vestibular de Direito da Universidade Paulista (Unip), de Goiás. Porém, o menino não tinha o certificado de conclusão do ensino médio, o que impede qualquer estudante de realizar a matrícula em uma instituição de ensino superior.

"É preciso mostrar o certificado no ato da matrícula e ter sido aprovado no vestibular, essas são as únicas condições exigidas por lei", diz Suzana Perez, presidente do Conselho Brasileiro para Superdotação (Conbrasd).

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