quinta-feira, 30 de junho de 2016

PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO REPRESENTAM UMA FORTE CONDIÇÃO DE RISCO PARA PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM

Publicado Por :Claudia Hakim
Data De Publicação : 30/06/2016

Extraído do site : http://www.almanaquedospais.com.br/problemas-de-comportamento-representam-uma-forte-condicao-de-risco-para-problemas-de-aprendizagem/

Foto: T. Rolf

Foto: T. Rolf

Algumas pesquisas cientificas[1] apontam que problemas de comportamento representam uma forte condição de risco para problemas de aprendizagem. Ao ler algumas destas pesquisas, me deparei com um dilema igual aquele em que as pessoas se perguntam, quem veio primeiro ; se o ovo ou a galinha. Isto porque, estas pesquisas indicam duas linhas : as que entendem que as dificuldades de comportamento são um fator de risco para o baixo desempenho acadêmico (Marturano, Linhares, & Parreira, 1993; Speakman, Herman, & Vogel, 1993; Thompson, Lampron, Johanson, & Eckstein, 1990), e outras que acreditam que problemas na aprendizagem escolar podem facilitar o desenvolvimento de distúrbios de comportamento graves (Gordon, 1993; Kolvin, Miller, Fleeting, & Kolvin, 1988).

Achei mais razoável uma terceira linha de pesquisa desenvolvida por Roeser e Eccles (2000)[2] que propõe que as dificuldades comportamentais e emocionais influenciam problemas acadêmicos eestes problemas acadêmicos afetam os sentimentos e os comportamentos da criança. As crianças que apresentam dificuldades comportamentais, emocionais  e dificuldades acadêmicas resultantes destas duas primeiras, se deparam também, com dificuldades emocionais ou comportamentais que se manifestam de duas formas :  de forma internalizada, por meio deansiedade, depressão, retraimento e sentimentos de inferioridade, e a forma externalizada, através de comportamentos e atitudes que geram conflitos com o ambiente e, geralmente se manifestam por características de desafio, impulsividade, agressão, hiperatividade e ajustamento social pobre.

Pessoas que tiveram experiências escolares positivas são menos vulneráveis à tornarem-se delinqüente e envolver-se com a criminalidade (Kolvin et al., 1988; Maughan, 1988; Rutter, 1987)[3] e o contrário, infelizmente, é verdade.

Arnold et al. (2005)[4], em seus estudos, mostraram que adolescentes com dificuldades de leituraapresentavam níveis mais altos de depressão, ansiedade e mostraram mais problemas de atençãoe comportamentos delinquentes. Speakman et al. (1993)[5], elencam como fatores de risco para problemas de aprendizagem : temperamento difícil, déficits de atenção, baixa tolerância à frustração e relacionamentos sociais pobres.

Já os pesquisadores Marturano, Magna e Murtha (1993)[6] apontaram associação de dificuldades de aprendizagem com problemas de comportamentos relacionados às dificuldades na fala, no sono, no ritmo, nas tarefas, nos hábitos, nos tiques e no controle de esfíncteres.

Crianças com dificuldades de aprendizagem comumente são descritas como desobedientes, irritáveis, impacientes, agitadas, inseguras, briguentas e destrutivas (Medeiros & Loureiro, 2004)[7] e como tendo mais dificuldades de relacionamento com seus colegas, mais inquietas, briguentas, inibidas e sem iniciativa (Maluf & Bardelli, 1991), o que limita a possibilidade de se relacionarem com crianças que apresentam comportamentos mais positivos ou menos problemáticos e dimiui as chances de aprenderem comportamentos mais adequados ou, ainda, favorecendo o isolamento destas crianças, o que pode prejudicar ainda mais a sua aprendizagem e o seu desenvolvimento em geral. Por isso, pais, professores, psicólogos e todos que lidam com crianças com problemas na aprendizagem, é necessário dar atenção tanto aos problemas de comportamento e aos de aprendizagem, mas também às dificuldades emocionais e comportamentais apresentadas pela criança, criando estratégias que facilitem o desenvolvimento de habilidades sociais e uma melhor integração destes para com os seus pares.


[1] Problemas emocionais e comportamentais associados ao baixo rendimento acadêmico, por Patricia Leila dos Santos Sônia Santa Vitaliano Graminh, in Estudos de Psicologia 2006, 11(1), 101-109, Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto, extraído do link :http://www.scielo.br/pdf/%0D/epsic/v11n1/12.pdf, em 29/06/2016
[2] Roeser, R. W., & Eccles, J. S. (2000). Schooling and mental health. In A. J. Sameroff, M. Lewis, & S. M. Miller (Orgs.), Handbook of developmental psychopathology (pp. 135-156). Nova York: Kluwer; Plenum
[3] Kolvin, I., Miller, F. J. W., Fleeting, M., & Kolvin, P. A. (1988). Risk/ protective factors for offending with particular reference to deprivation. In M. Rutter (Org.), Studies of psychosocial risk: the power of longitudinal data (pp. 77-95). Cambridge: Cambridge University Press.
[4] Arnold, E. M, Goldston, D. B., Walsh, A. K., Reboussin, B. A., Daniel, S. S., Hickman, E., & Wood, F. B. (2005). Severity of emotional and behavioral problems among poor and typical readers. Journal of Abnormal Child Psychology, 33(2), 205-217.
[5] Speakman, N. J., Herman, K. L., & Vogel, S. A. (1993). Risk and resilience in individuals with learning disabilities: a challenge to the field. Learning Disabilities: Research & Practice, 8(1), 59-65
[6] Marturano, E. M., Magna, J. C., & Murtha, P. C. (1992). Contribuição ao diagnóstico das dificuldades de aprendizagem escolar. Revista Psicopedagogia, 11(24), 7-15.
[7] Medeiros, P. C., & Loureiro, S. R. (2004). A observação clínica do comportamento de crianças com queixa de dificuldade de aprendizagem. In E. M. Marturano, M. B. M. Linhares, & S. R. Loureiro (Orgs.), Vulnerabilidade e proteção: indicadores na trajetória de desenvolvimento do escolar (pp. 107-136). São Paulo: Casa do Psicólogo; FAPESP


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