Fonte : http://www.leandroteles.com.br/artigos/outras-doencas/asperger-perguntas-e-respostas/
ASPERGER – PERGUNTAS E RESPOSTAS
1 – O que é a Síndrome de Asperger e como
diagnosticá-la?
R. A Síndrome de Asperger está dentro do
espectro do Autismo, mais especificamente no polo de alto funcionamento. O
diagnóstico é totalmente clínico, feito pelo neuropediatra, neurologista ou
pelo Psiquiatra. Os sintomas principais geralmente surgem antes dos 3 anos de
idade e são: restrição social, dificuldade em trocas afetivas, certa
intolerância a ambientes muito agitados, apego a rotinas, restrição da área de
interesse, alterações (sutis) de linguagem (como dificuldade em compreender
ironias e manter diálogos). Agora, diferente do autismo clássico (forma mais
comum de autismo), o Asperger tem um domínio muito melhor da linguagem
(principalmente em monólogos), inteligência normal ou até acima da média e pode
apresentar precocidade e ser um prodígio em determinada área do conhecimento.
(isso pela sua inteligência aliada a restrição de área de interesse, o que os
torna, eventualmente, um especialista em algo).
2 –
Existe algum cuidado que deva ser tomado pelos pais ao terem um filho
diagnosticado com a síndrome?
R. Diversos cuidados devem ser tomados.
Primeiramente, é fundamental trabalhar os talentos do filho assim como sua
dificuldades. O diagnóstico deve ser o mais precoce possível a fim de delinear
uma intervenção em prol da melhor socialização e da funcionalidade. Cada fase
da infância, adolescência e vida adulta trará uma série de desafios e serem
vencidos pelo paciente, a equipe de saúde e a família. A cada dia, o
conhecimento individualizado do paciente em si (já que cada pessoa com Asperger
e diferente da outra) ajudará a personalizar o tratamento e os ajustes
ambientais e familiares necessários para reduzir os conflitos e gerar uma
integração mais harmônica, produtiva e feliz.
3 – Por
que a Síndrome de Asperger é conhecida como “fábrica de gênios”?
R. A síndrome de Asperger é uma
dificuldade do “cérebro social” (com marcada dificuldade em perceber e
interagir com o outro de forma tradicional) aliada à manutenção da
capacidade de linguagem (mesmo que com pequenas peculiaridades) e, eventualmente,
um talento cerebral diferenciado para uma ou várias funções cognitivas. Não
raro eles possuem talentos precoces e fantásticos em áreas como: memória
(hipermnésia), cálculos, desenho, música, determinado jogo ou esporte, etc.
Esse talento deve ser, no entanto, lapidado para gerar feitos proporcionais ao
seu potencial.
4 –
Quais são as características mais comuns de quem possui a síndrome?
R. A síndrome ocorre dentre a primeira
infância, é muito mais comum em meninos e é marcada por apego a rotinas,
restrição do espectro de interesse, fala e brincadeiras concretas, dificuldade
de trocas afetivas, maior facilidade em falar “para” alguém (monólogo), do que
“com” alguém (diálogo). O clássico são crianças que desenvolvem um domínio
precoce e diferente da linguagem (falam como se fossem pequenos adultos, ou
pequenos professores), apresentam uma tendência a falar sempre do mesmo assunto
e a puxam a conversa para sua área de interesse (pouca flexibilidade), têm
dificuldade para compreender nuances de linguagem como ironias, sarcasmos,
metáforas, etc. (tendência a entender “ao pé da letra”), olham pouco nos olhos
e não gostam tanto de contato físico e trocas afetivas na forma clássica.
Sentem-se incomodas quando fora de sua rotina e em ambientes menos previsíveis.
Podem ter muita facilidade com desenhos, música, números, alfabetização
espontânea e precoce, etc.
5 –
Como diferenciar a Síndrome de Asperger do autismo?
R. Atualmente, entendemos o Asperger com
dentro de um grande espectro do Autismo. Mesmo sendo diferente do autismo
clássico, por não presentar atraso intelectual e ter um bom domínio da
linguagem, eles se aproximam na franca dificuldade de interação
interpessoal, na intolerância a ambientes tumultuados e no apego às rotinas com
restrição da área de interesse. Trata-se possivelmente de intensidades
diferentes de um mesmo processo, por isso o conceito de espectro, tendo de um
lado o alto funcionamento, de outro o franco comprometimento da forma clássica,
e no meio, infinitas possibilidades clínicas de formas intermediárias.
6 –
Quais os acompanhamentos que devem ser feitos e até que ponto da vida esse
acompanhamento é necessário?
R. Trata-se de uma síndrome muito
heterogenia, cada paciente é de um jeito e estará envolto em um contexto
familiar, escolar e social específico. Por isso todo o tratamento deve ser
individualizado, deve ser personalizado para a demanda daquele indivíduo e
daquela fase. Pode ser necessário medicamentos em algum momento (visando
controle de determinado sintoma disfuncional), terapia ocupacional,
fisioterapia, métodos comportamentais, psicólogo, etc. Tudo dependerá da
funcionalidade vivenciada no caso específico. Muitas pessoas com síndrome de
Asperger não recebem sequer diagnóstico durante a vida, passam como
excêntricos, pessoas um pouco diferentes, as vezes até com destaque importante
em algum ramo de atuação. Outros, recebem o diagnósticos mas não precisam de
grandes intervenções clínicas ou psíquicas, pois desenvolveram técnicas de
convívio e minimização dos comportamentos disfuncionais espontaneamente. Agora,
tem aqueles que necessitaram de terapias específicas, esforço familiar, pessoal
e de toda equipe pedagógica a fim de alcançar um desenvolvimento que garanta
sua independência e sua integração com a sociedade.
7 – A
criança diagnosticada pode frequentar uma escola de ensino normal ou é
aconselhável que os pais procurem uma escola com ensino especializado?
R. Depende do caso. De forma geral
preferimos que a pessoa com Asperger frequente a escola regular, mas que tenha
uma atenção personalizada para desenvolver adequadamente seus talentos
específicos e trabalhar suas dificuldades sociais. Jogar um Asperger dentro de
um sistema relativamente cruel de uma escola regular sem assistência é tão ou
mais prejudicial do que mantê-lo fora dela. É fundamental que ocorram algumas
adaptações, por exemplo: preferir salas menores e organizadas, professores
capacitados a lidar com crianças dentro do espectro autista, ajustes
pedagógicos de reforço e motivação para áreas fora da zona de interesse,
medidas preventivas educativas contra o bullyng e o preconceito, etc. De modo
geral, o convívio é possível e é benéfico para o aluno e para a escola,
portanto, deve ser estimulado, respeitando alguns ajustes e limitações.
9 –
Quais as dificuldades mais comuns de desenvolvimento da criança com a Síndrome
de Asperger?
R. A dificuldade de interação pessoal é
o problema mais difícil no Asperger. Pode haver muita dificuldade de aceitação
em grupos, isolamento social e frustação. A pessoa com Asperger pode ser vista
pelos outros como alguém mimado, arrogante, sincero demais, excêntrico ou
“nerd”, com senso de humor estranho, etc. Isso pois, como dissemos
anteriormente, o portador da síndrome não tolera fuga de rotinas, tem
dificuldade em diálogos, apresenta restrição de assuntos de interesse, pode ter
dificuldade em compreender metáforas e ironias. Por tudo isso é fundamental
trabalhar a linguagem, a interação pessoal e o controle dos comportamentos
disfuncionais. Ao mesmo tempo precisamos tratar a escola, o ambiente de
trabalho, a família e toda a sociedade de modo a reduzir o preconceito e criar
mais e mais estratégias de convívio harmonioso entre todos.
8 – Que
conselhos você daria para uma família que tem um filho com essa síndrome, e o
que deve ser feito para garantir o pleno desenvolvimento dessa criança?
R. Seu filho é único e diferente da
média. Ele apresenta dificuldades em determinadas áreas e facilidades incríveis
em outras. O primeiro passo é procurar entende-lo, aproxime-se do mundo dele e
tente ver e sentir como ele sente. Aceite-o. Busque informação e profissionais
de qualidade. Acredite no poder de vocês para superar os comportamentos menos
funcionais e o ajude a ampliar aquilo que ele tem de melhor. Haverá momentos
bons e momentos ruins, com o tempo e a dedicação de todos ele ficará mais
funcional a cada ano. Agora, ele sempre será único e diferente da média, pois o
que o torna diferente está na sua essência. Não busque sua cura, busque sua
felicidade.
Fonte –
Leandro Roberto Teles – Médico Neurologista – Membro da Acedemia Brasileira de
Neurologia – CRM 124.984 – Formado e especializado pela USP –
www.leandroteles.com.br
Excelente texto! Descreveu meu filho de 6 anos, que está no espectro, e é autista de alto funcionamento.
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