quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sobre os testes de QI que se usam para avaliar a superdotação









 Durante o século XX, superdotado era alguém capaz de decorar conteúdos enciclopédicos ou resolver enunciados complexos. Os esforços para avaliar a inteligência a partir de testes ganharam fôlego com as ideias do psicólogo francês Alfred Binet, no início do século passado. Foi quando as autoridades francesas pediram que Binet criasse um instrumento capaz de prever quais crianças teriam sucesso nos liceus parisienses. Então, ele criou uma escala de inteligência, com 30 tarefas mentais graduadas em função da idade. Esse instrumento era capaz de mostrar se o desenvolvimento da criança era igual ao das colegas, atrasado ou adiantado. Daí o teste quociente de inteligência, o QI! E o felizardo que estourasse em pontos era inteligentíssimo.



Mas não é bem assim. Eles foram logo considerados uma armadilhaSeriam tendenciosos, porque exigem, por exemplo, a familiaridade com as expressões e o vocabulário embutidos nas questões. Outro ponto criticado por ela é que os testes não avaliam outros elementos como liderança, habilidade para interagir, imaginação e determinação. E tem mais : esses testes avaliam apenas respostas certas dentro de um intervalo de tempo, são padronizadas. "O que fazer, então, quando as respostas são originais ?", questiona Nara. E o mais perigoso em tudo isso : "Os resultados desses testes de inteligência são supervalorizados e aceitos com muita facilidade, rotulando algumas crianças", critica.



"O importante, tanto para a escola, quanto para a família, não é rotular, e sim criar formas adequadas da criança ou do jovem desenvolver seu potencial"


Avessos aos testes de QI, hoje os especialistas recorrem a outro arsenal para detectar a inteligência, como check-list, autoavaliação, observação, participação de professores e testes. O primeiro passo é levantar um histórico da criança a partir do relato dos pais. A criança passa por um extenso período de observação em seu ambiente de aprendizagem na escola ou em uma sala de recursos. O profissional coleta dados sobre seus interesses, sua forma preferida de aprender e sua produção. A criatividade também é avaliada. "Podem ser aplicadas provas acadêmicas de uma série acima. Isso permitirá ver as estratégias que ela usa para elaborar um problema que ela ainda não conhece formalmente. Se a área de talento for música ou artes plásticas, por exemplo, um expert deverá avaliar o caso", diz Maria Clara Sodré, professora da PUCRJ e autora de Educação de Superdotados: Teoria e Prática, da Editora Pedagógica e Universitária.



Para ela, o talento precoce é uma pista valiosa na hora de identificar o superdotado, já que o talento dele tende a desabrochar muito cedo. Em geral, os pequenos desenvolvem espontaneamente a sua habilidade : são crianças que aprendem a ler sozinhas ou que desmontam o computador sem causar estragos. Na mais tenra idade, mostram familiaridade com instrumentos musicais, têm um vocabulário elaborado, raciocínio ágil ou memória fora do comum. "A precocidade faz com que a criança seja capaz de fazer coisas típicas de crianças mais velhas e se desenvolver mais rápido e ter um talento superior", explica Maria Clara. Como Gardner, ela acredita que a inteligência é uma mistura de dois ingredientes : a bagagem genética e a capacidade da pessoa conquistar esses talentos ao longo da vida. "Existe uma inteligência herdada que poderá ou não ser desenvolvida. Se a criança não recebeu essa herança, ela terá dificuldade em aprimorá-la. Por outro lado, se ela nasce com alguma desenvoltura e não tem oportunidade de desenvolvê-la, não terá muito potencial", argumenta.


Mãe de três filhos talentosos, a psicóloga Ângela Virgolim, professora da UnB (Universidade de Brasília), também não vê com bons olhos o uso dos testes, embora admita que eles são úteis para avaliar uma criança com notas baixas na escola, por exemplo, por causa de desmotivação ou problemas emocionais. "As pessoas nos procuram para fazer um teste de QI ou para 'diagnosticar' um filho que pode ser ou não superdotado. Mas temos que fugir destas armadilhas.O importante, tanto para a escola, quanto para a família, não é classificar ou rotular, e sim criar formas mais adequadas da criança ou do jovem desenvolver seu potencial", completa Ângela, que estudou com a equipe de Renzulli durante a defesa do seu doutorado pela Universidade de Connecticut.



Não há consenso entre os especialistas. O fato é que a ciência ainda não encontrou uma fórmula para medir com precisão quem é superdotado. "Se o conceito de inteligência se basear numa noção estática, será usado um ponto de corte nos resultados do teste para selecionar quem deve entrar no programa e quem deve ficar de fora. Renzulli, por exemplo, acredita que a superdotação poderá aparecer em um momento e desaparecer em outro, fruto do contexto em que a criança vivencia."Assim, ela precisa ser sempre avaliada para ver se o programa está realmente desenvolvendo seu potencial", diz Ângela.

Um comentário:

  1. Quem quiser saber mais informações sobre locais para se avaliar crianças superdotadas ou até mesmo adultos, mandem um e-mail prá mim : claudiahakim@uol.com.br

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