terça-feira, 7 de agosto de 2012

Brilhantes por natureza - Parte 1












Eles são muito mais numerosos do que você pensaPode haver um superdotado no seu prédio, na escola ou até na sua casa.


por Claudio Angelo



A paulistana Cynthia Laus se define como uma pintora abstrata. “Tentei fazer uma coisa mais acadêmica há algum tempo, mas não gostei do resultado”, diz, enquanto caminha pelo salão de uma conceituada galeria de arte de São Paulo, onde está expondo 29 obras. É interrompida por uma voz que ordena: “Vem cá, põe um agasalho!” É sua mãe. Cynthia obedece. Apesar de tudo, ainda é uma menina de 8 anos.



A jovem artista, que pinta desde os 4 anos, está entre os 3 milhões de brasileiros superdotados. São crianças que geralmente começam a ler sozinhas antes de entrar na escola e surpreendem os pais com perguntas desconcertantes. Mas esses sinais não bastam para identificar um superdotado. Muitas crianças aprendem mais cedo que as outras e, nem por isso, tornam-se mais brilhantes na idade adulta. O desafio dos psicólogos é detectar, entre garotos e garotas precoces, quais possuem inteligência fora do normal. “O superdotado sempre será brilhante”, diz Marsyl Mettrau, presidente da Associação Brasileira para Superdotados (ABSD).




Na caça aos pequenos prodígios, não basta olhar para quem tira as maiores notasMuitos superdotados são nulidades acadêmicas, simplesmente porque se entediam com a escola. Foi esse o caso de Álvaro de Almeida, de 7 anos. “Fui chamada várias vezes pela escola porque ele era indisciplinado e ia mal nas provas”, diz sua mãe, Tânia, dona de casa. Quando a família se mudou de Porto Alegre para Brasília, há dois anos, os professores de Álvaro na escola pública notaram que ele tinha um talento excepcional para o desenho. Diagnosticado como superdotado, o menino hoje freqüenta aulas especiais de artes.



O Quociente de Inteligência (QI) foi, durante muito tempo, o principal instrumento para descobrir prodígios. Enquanto a média da população teria um QI entre 90 e 110, os superdotados estariam para lá de 130. “O problema é que o teste de QI só avalia o raciocínio lógico”, observa a professora Zenita Guentherque desenvolveu um método novo de identificação de talentos em Lavras (MG). “O QI não pode ser o único critério”, diz. Hoje, os especialistas concordam em que há uma característica comum a todos os superdotados: é o chamado “pensamento divergente”. Eles raciocinam de maneira diferente da maioria e estão sempre buscando soluções próprias para os problemas. Os jovens talentos também costumam ser modestos. “Eu sou normal. Essa história de superdotado é coisa da minha mãe”, diz Cynthia, com displicência, pulando amarelinha no meio da galeria de arte. Ela pinta como uma verdadeira artista, mas não deixa de ser uma criança de 8 anos.

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