domingo, 1 de janeiro de 2012

Psicologia Escolar e Educacional










Em primeiro lugar, Feliz Ano Novo, leitores !!! Vamos continuar o nosso trabalho, e ajudar a divulgar, ainda mais, este ano, as informações sobre superdotação :



Extraído dos sites : http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572010000200012&tlng=pt




  


Cecília Andrade Antipoff; Regina Helena de Freitas Campos



Vários estudos têm destacado algumas ideias equivocadas que perpassam o tema das altas habilidades / superdotação, influenciando diretamente na educação dos indivíduos talentosos. Assim, o objetivo geral deste estudo é realizar uma investigação a respeito dos mitos que ainda perpassam o tema das altas habilidades / superdotação na atualidade, estabelecendo um paralelo com a evolução das leis e políticas públicas voltadas para o atendimento aos superdotados no Brasil. As pesquisas analisadas indicam que somente as leis não são suficientes para determinar uma educação efetiva aos alunos superdotados se não houver uma divulgação esclarecedora do tema. A análise crítica dos estudos abordados poderá favorecer a realização de novas pesquisas sobre a forma como a superdotação tem sido entendida pela sociedade. Além disso, os questionamentos suscitados poderão auxiliar a elaboração e aprimoramento de programas voltados para os indivíduos superdotados e para o meio no qual estão inseridos.



Introdução



A temática da superdotação e o atendimento educacional para pessoas com altas habilidades têm suscitado um interesse crescente por parte de pesquisadores. Vários autores (Alencar, 2001; Greenfield e cols., 2006; Guenther, 2006; Guenther & Freeman, 2000; Mettrau, 2000) têm ressaltado que essa crescente preocupação pode ser verificada não só no Brasil, como também no cenário internacional. Segundo Alencar (2001), observa-se, em países de distintos continentes, a implementação de propostas educacionais assim como a disseminação de informações de relevância a respeito das altas habilidades. Existe uma busca crescente para proporcionar um maior apoio à educação do superdotado – amparada por leis e políticas educacionais – que favorece uma atuação mais efetiva e significativa para essa parcela da população. Além disso, a maior comunicação entre educadores e especialistas de diversos países tem contribuído de forma significativa para o aumento desse interesse, como destaca Alencar (2001).




As Leis de Diretrizes e Bases do Conselho Nacional de Educação Especial, por meio da Política Nacional de Educação Especial (Brasil, 1995, p.17), definem bem-dotadas as crianças capazes de um desempenho superior (em comparação com o mesmo grupo de idade), incluindo o talento em qualquer das áreas seguintes, consideradas isoladamente ou em combinação: habilidade intelectual em geral; aptidão acadêmica específica; pensamento criativo ou produtivo; artes visuais e práticas; habilidade psicomotora. No entanto, essa definição é ampliada por alguns autores, dentre eles, Renzulli (1986), que considera fundamental incluir nessa definição fatores relacionados também à motivação. Esse autor propõe uma nova definição denominada "concepção dos três anéis". Para ele, a superdotação deve ser analisada como resultado da interação entre três fatores (três anéis): habilidade acima da média (que envolve habilidades gerais e habilidades específicas), envolvimento com a tarefa (motivação) e criatividade.




Ao abordar a habilidade acima da média, o autor enfatiza a importância de se levar em consideração tanto as habilidades gerais (que consistem na capacidade de processar informações, integrar experiências que tenham como resultado respostas adequadas e apropriadas a diferentes situações) quanto as habilidades específicas (que dizem respeito à capacidade de adquirir conhecimento, prática e habilidade que permita a atuação em uma ou mais atividades de uma área específica).




O envolvimento com a tarefa relaciona-se com a motivação que está diretamente ligada à energia pessoal canalizada para uma determinada tarefa que envolve, também, perseverança, persistência e dedicação. Corroborando a ideia da importância da motivação para o desenvolvimento de uma habilidade, Halpern (2006) afirma que "learning and academic achievement cannot be considered apart from de motivation to learn and the motivation to demonstrate learning of perform in some way" (A aprendizagem e o aproveitamento acadêmico não podem ser considerados isoladamente da motivação em aprender e da motivação em demonstrar, de alguma forma, o desempenho do aprendizado) (p. 648).




Já o fator criatividade pode ser observado a partir da fluência, flexibilidade e originalidade de pensamento, curiosidade e possibilidade de abertura a novas experiências.




Segundo Renzulli (1986), os três anéis não precisam estar presentes ao mesmo tempo e nem na mesma intensidade, mas é fundamental que interajam em algum grau para que o resultado seja um alto nível de produtividade. Ainda para esse autor, os comportamentos denominados superdotados podem estar presentes "em algumas pessoas, em determinados momentos e sob determinadas circunstâncias" (p. 76). Percebe-se que, para esse autor, a superdotação não deve ser vista como algo estático, pré-determinado. Ele enfatiza a importância de se levar em conta a interação entre fatores individuais e ambientais. Para Alencar (1986), "superdotação é um conceito ou construto psicológico a ser inferido a partir de uma constelação de traços ou características de uma pessoa" (p.20). (Para a autora, a proposta de uma definição, que seja universalmente aceita acerca dessa temática, torna-se difícil ou até mesmo impossível). Acrescenta Alencar (1993) que "superdotação é um conceito que foi inventado e não algo que foi descoberto, referindo-se àquilo que a sociedade deseja que seja, o que torna o conceito sujeito a mudanças de acordo com o tempo e o lugar" (p. 109). Ainda sobre a complexidade dos conceitos relacionados à superdotação, Mettrau (2000) salienta que "conceituar e caracterizar essa pessoa (com altas habilidades) é uma tarefa bastante difícil, pois os talentos, além de complexos, são múltiplos" (p. 5).




Analisando-se a literatura da área, percebe-se que, ao lado das diferenças no conceito de superdotação, também não há consenso quanto às terminologias utilizadas para designar aquele indivíduo que se destaca por apresentar desempenho superior em alguma habilidade. O Conselho Europeu para Alta Habilidade (Eurotalent) optou pela terminologia: "Altas Habilidades", já o Conselho Mundial para o Superdotado e Talentoso optou pelos termos "Superdotados ou talentosos"1. Apesar de a legislação brasileira ter adotado, em 1972, o termo "superdotado" (traduzido do termo em inglês "gifted"), várias críticas foram e são feitas por alguns autores. Helena Antipoff (1992), por exemplo, questionou esse termo, destacando o quanto pode levar a uma conotação negativa advinda do prefixo "super" (que pode remeter a algo como "super-homem", expondo esses indivíduos a uma curiosidade excessiva por parte dos outros, altas expectativas de desempenho ou, até mesmo, preconceito). Dessa forma, Antipoff passou a usar o termo "Bem-dotado". Zenita Guenther (2000, 2006) utiliza o termo "Dotado", que considera mais coerente com a tradução originada do inglês "gifted". Em 1995, a Política Nacional de Educação Especial passou a definir aqueles que se destacam como portadores de altas habilidades / superdotados. E, analisando-se a literatura, percebe-se a utilização de termos diferentes por diferentes autores. Alencar, Feldhusen e French (2004) destacam que alguns pesquisadores utilizam os conceitos de superdotação e talento como sinônimos, já outros pontuam diferenças significativas entre os termos.




Apesar do aumento de interesse pela temática da superdotação nas pesquisas atuais, a prática de atendimento a essa parcela da população não tem acompanhado esse crescente interesse. Dentre alguns pesquisadores da área – que destacam essa defasagem e a necessidade de uma maior informação da população sobre a temática, além de um melhor preparo das escolas, professores e famílias para lidarem com essa questão –, destacam-se: Alencar (2001), Maia-Pinto e Fleith (2002), Rech e Freitas (2005), Mettrau e Reis (2007). Alencar destaca que os superdotados representam um grupo que é pouco compreendido e negligenciado, ressaltando a escassez de programas específicos, direcionados para o atendimento desse grupo.




Segundo Guenther e Freeman (2000), as pessoas ditas talentosas correspondem de 3% a 5% da população e estão incluídas na população específica que deve ser atendida pela Educação Especial (educação essa que tem como função identificar, elaborar e organizar os recursos pedagógicos e de acessibilidade para uma participação plena dos alunos, levando-se em conta suas necessidades específicas).




Atualmente, muito tem se falado em educação inclusiva nos contextos educacionais brasileiros. Educação essa que busca o reconhecimento dos direitos da criança, sobretudo o direito à educação: "o movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação". (Brasil, 2007, p. 1). E, ainda, na perspectiva da educação inclusiva, propõe-se o "atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades / superdotação". (Brasil, 2007, p. 10). Apesar de a proposta da educação inclusiva implicar numa mudança estrutural e cultural nas escolas para que todos os alunos tenham suas especificidades atendidas, a ideia disseminada na prática, de uma forma geral e mais frequente, é a de que se deva incluir aquele indivíduo cujo desenvolvimento ou habilidade seja considerado inferior quando comparado ao desenvolvimento e às habilidades das outras crianças que se encontrem na mesma faixa etária ou nível de desenvolvimento.




Diferentemente do que ocorre com as crianças citadas acima, não existe consenso de que a criança portadora de altas habilidades ou talentosa necessite de um atendimento diferenciado. Talvez, por falta de um maior conhecimento sobre a temática, ainda existam muitos mitos que pairem sobre a realidade das crianças e jovens bem- dotados. Tais mitos serão explicitados de forma mais específica no desenvolvimento deste estudo. Dentre os pesquisadores que têm abordado os mitos e crenças errôneas que envolvem as crianças com altas habilidades, citam-se: Alencar e Fleith (2001), Guenther e Freeman (2000), Mettrau (2000), Winner (1998).

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