sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Na pressa e na pressão


Este artigo vai no contra-fluxo do que as crianças superdotadas fazem. Lêem e escrevem cedo. Mas, eu entendo que, pelo fato das crianças superdotadas serem "especialmente" diferentes, não devemos levar tanto em consideração o proposto por esta autora, pois entendo que ela dirige o seu artigo às crianças "normais" ....


Depois eu quero ouvir a opinião de vocês, leitores, se acham que este texto também pode sera aplicado para as crianças superdotadas.


ROSELY SAYÃO


Por que tanto desespero ? Saber ler, escrever e contar antes dos seis ou sete anos não quer dizer nada


RECEBO MUITAS, muitas perguntas e dúvidas de pais que têm filhos com seis anos, mais ou menos. Várias mensagens chegam em tom quase desesperado. O motivo? O processo de alfabetização dos filhos.


Vamos tentar acalmar esses pais com alguns esclarecimentos importantes para que, um pouco mais tranquilos, eles não pressionem tanto seus filhos.



De partida, é bom avisar: a criança tem tempo de sobra para se desenvolver nesse processo. Qual o prazo? No ensino fundamental, com duração de nove anos, esperamos que a maioria dos alunos esteja alfabetizada ao final do segundo ano.

Por isso, caro leitor, caso o seu filho esteja no primeiro ano, pode relaxar. Ele ainda tem pelo menos um ano e meio para se aprimorar no processo da leitura, primeiramente, e escrita.


Acontece que muitos pais foram convencidos pela sociedade de que é melhor a criança aprender o mais cedo possível a ler, escrever e trabalhar com números. Não é.

Já temos inúmeros estudos e pesquisas apontando que crianças precocemente introduzidas no ensino formal não se mostram, no futuro, mais avançadas nos estudos. Além disso, até demonstram menor curiosidade pelos estudos e menos criatividade nos trabalhos escolares do que suas colegas que se dedicaram a brincar nos anos da primeira infância.

Tem mais: as crianças massacradas por escolas e famílias para a vida escolar no estilo acadêmico antes dos sete anos desenvolvem mais doenças resultantes da ansiedade e da pressão, tais como estresse, desatenção, distúrbios alimentares e do sono, entre outras.


Veja, caro leitor, o resultado dessa ideia que a sociedade desenvolveu nos pais. Uma leitora, que coloco no grupo dos pais desesperados, conta que mudou de cidade e sua filha, matriculada no primeiro ano, já sabia ler e escrever muitas coisas. Mas agora, na transferência de escola, parece que regrediu e se esqueceu de muita coisa que havia aprendido.

O que nossa leitora não percebe é que, se a garotinha esqueceu, é porque não havia aprendido. Talvez tivesse sido treinada, condicionada ou coisa que o valha a escrever e ler algumas palavras. Quem se alfabetiza com sentido, ou seja, quem entende primeiramente a função social da leitura e da escrita, não se esquece com essa facilidade.


Outra mãe que tem a filha também no primeiro ano me escreveu reclamando da escola, por ter enviado muitas lições para serem feitas nas férias. Mas, de quebra, contou que a filha leva duas horas diariamente fazendo lições de casa e, três vezes por semana, ainda faz acompanhamento psicopedagógico por indicação da escola, por apresentar "dificuldades na alfabetização".
Fico penalizada com a vida que essa menina (como muitas outras) está levando. Quando será que ela brinca? Brincar é uma coisa que, até os seis anos, a criança deveria fazer o tempo todo.


O ensino formal de leitura e escrita e o trabalho com números podem ser iniciados aos sete anos sem prejuízo algum para a vida escolar futura dessas crianças. Por que tanta pressa? Saber ler, escrever e contar antes dos seis, sete anos não significa absolutamente nada.


O que significa muito no futuro desenvolvimento do chamado processo de letramento é a criança aprender, desde bebê, o prazer da leitura. Contar histórias para ela, dar livros bonitos para ela brincar e "ler", conversar bastante com ela para que amplie seu vocabulário, ouvir com atenção as histórias que ela gosta de contar e brincar com os sons das palavras são alguns exemplos de como os pais podem ajudar no desenvolvimento de seus filhos.


Mas sem pressão, por favor! As crianças agradecem.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

2 comentários:

  1. Aff, por que ela não faz um estudo mais aprofundado para ver que grande parte dessas pessoas precoces continuam mantendo seu rendimento e melhorando grandemente. Ai vem uma questão, como uma criança brinca se ela acha melhor ler e estudar? E se os pais o forçassem a brincar? Não seria o o processo reverso?

    Eu sei isso porque enquanto eu era pequena(5 a 7 anos) eu já sábia ler fluentemente. Não sei ao certo como era meu desempenho enquanto criança pois não me lembro (memórias apagadas pelo cérebro por causa de alguns traumas de brigas e violência familiar entre meus pais), meus pais infelizmente não prestaram atenção e quando pergunto não sabem responder...aff.

    E sobre isso que pais põem pressão para os seus filhos aprenderem coisas enquanto muito pequenos, o que eu trocaria pela palavra estimulo. E eu daria tudo pra ter recebido esses estímulos.Nasci em um sítio com a maioria composta por analfabetos (de todo ou funcional), sem uma biblioteca, não tinha 1 livro que fosse em casa (nem a bíblia, já que minha família dizia-se católica), a escola precária. Ou seja, fui "treinada" para ser uma criança normal. Não deu certo, pois embora todas essas privações existia o dom natural. A facilidade de aprendizagem me levou a ler primeiro que os outros coleguinhas, escrever, desenhar e até a ajudar meus professores com dúvidas (90% de certeza que da 1ª a 4ª série perdi meu tempo, pois tudo poderia ter aprendido na 5ª).

    Acredite isso de estimular seus filhos, desde que bem dosado, acaba sendo uma ajuda para ele. Se não ele vai virar uma criança frustada, porque o normal é entediante pra ele. É muito você ter atitudes de crianças com uma cabeça de adolescente ou ser adolescente com uma mentalidade de adulto.

    Então para finalizar digo-lhes mães e pais, estimulem seus filhos sim.

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  2. Aí vem a questão que eu sempre acreditei e agora como estudante de pedagogia acredito ainda mais."As crianças não podem ser encaradas como gado ,no qual recebem tratamento absolutamente igual ,onde só existem regras e nunca exceções"Toda criança tem seu relógio biológico e psicológico ,umas tem sede de aprender primeiro ,outras se dão melhor em aprender mais tarde.Cabe aos educadores e pais optarem pela melhor escolha para cada criança.Pois existem propostas pedagógicas(em escolas) p/ todas as necessidades ,encontrem a que melhor se adapta às seus filhos.

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